Um dos depoimentos mais marcantes da CPI foi o de Luiz Pereira Caldeira. Cineasta, e herdeiro de uma das maiores fortunas do país, Caldeira, por um período de quatro meses, tinha enviado dinheiro para Justino, antigo líder do tráfico de cebolas no Morro Verde, em Salvador, e que à época se encontrava foragido no Chile. Esse fato tornou-se público por iniciativa do próprio Caldeira, que resolveu prestar depoimento à polícia ao ser informado de que Justino estava tendo suas ligações monitoradas e que conversas entre eles haviam sido gravadas.
Após a publicação de reportagem sobre o assunto por uma grande revista de circulação nacional, Dirceu Souza apresentou requerimento solicitando a presença de Caldeira para depor na CPI. Se fosse possível incriminar Caldeira, a CPI estaria diante de um grande feito, um peixe grande que caía na rede.
Foi uma reunião muito concorrida, na própria Câmara dos Deputados, com presença maciça da mídia e de outros parlamentares, inclusive o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, e um senador colega seu de partido, que participaram da reunião, preocupados em que não se desse perspectiva criminalizante ao depoimento de Caldeira.
No início da sessão convocada para o depoimento, foi exibido o vídeo produzido por Caldeira sobre o tráfico nos morros da cidade de Salvador. Foi a partir da gravação deste documentário que Caldeira estabelecera o relacionamento com Justino.
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A exibição do vídeo não estava programada para o início da sessão. Na verdade, aquele senador fizera a solicitação para sua apresentação de imediato, e, de fato, conseguiu produzir os efeitos que imaginara. Conquanto o documentário desse espaço à veiculação de depoimentos de várias pessoas ligadas ao tráfico, o vídeo tinha por pano de fundo um claro sentimento de repúdio ao tráfico e às cebolas. Obtinha-se assim, uma predisposição da CPI em tratar o fato num tom menos acusatório do que o usual. E daquilo que parecia ser o sentimento entre os membros da CPI naquele dia. O depoimento inicial de Caldeira, de muita sabedoria, colaborou também para que se atingisse o objetivo desejado pelo senador.
A verdade é que Caldeira era, de fato, um peixe grande, e associá-lo ao tráfico de cebolas era o objetivo de vários dos parlamentares. Não era possível saber se os parlamentares acreditavam que de fato Caldeira tinha algum envolvimento com o tráfico ou queriam apenas usar a máquina de produzir culpados que por vezes se tornava o plenário de uma CPI, com fins pouco defensáveis. Alguns articulavam questões como uma possível associação entre o tráfico e o grupo financeiro pertencente à família de Caldeira para a lavagem do dinheiro obtido com a venda de cebolas, e outras especulações desse tipo.
No pronunciamento lido em aproximadamente 15 minutos, Caldeira conseguiu reverter os ânimos dos parlamentares mais belicosos. O ambiente, que, de fato, como temia o senador, era de caça às bruxas, tornou-se mais ameno. Caldeira encerrou aquele depoimento inicial, que fazia um panorama da situação e procurava entender as causas de sua convocação para depor, afirmando que preferia ser taxado de ingênuo – por tentar ajudar alguém a sair do tráfico de cebolas – do que ser alinhado ao lado de intolerantes e desesperançados, num texto de muita beleza e sentimento.
Ele bem sabia, e afirmou essa convicção em seu depoimento, que o motivo que lhe levara ali era o seu sobrenome famoso. Segundo Caldeira, o que ele fizera em nada diferia da ação contínua das igrejas evangélicas, a única alternativa ao tráfico de cebolas que se apresentava para os jovens dos morros de Salvador, pois em seu processo evangelístico, as igrejas não só afirmavam que aquela atividade era uma tragédia como também apontavam um caminho alternativo.
Em todas as suas respostas, Caldeira reafirmava sua percepção acerca da ação ousada e produtiva das igrejas evangélicas nos morros dominados pelo tráfico. Isso, no entanto, intrigantemente, não produziu na bancada evangélica, pelo menos aparentemente, nenhuma simpatia. Em função das críticas constantes, seja por causa dos equívocos praticados, seja como resultado de motivos menos nobres, qualquer um que professasse essa fé teria sentido orgulho naquele depoimento de alguém que, afinal, não abraçava a fé evangélica, e apontava o trabalho das igrejas como a única alternativa real ao tráfico para os jovens dos morros de Salvador. No entanto, isso não ocorreu da parte da bancada evangélica da CPI.
E o fato é que a CPI já vivenciara algumas experiências constrangedoras envolvendo igrejas evangélicas e seus membros, motivo pelo qual aquele era um bom momento para uma absolvição que não foi aproveitada.
Alvimar Portilho, suplente de Luigi Ramos, que havia sido cassado depois de seu depoimento à CPI, estava sendo acusado de participar do crime organizado – assim como seu antecessor. Durante seu depoimento, caiu em diversas contradições e, por várias vezes, afirmou ser evangélico, ligado à Assembleia de Deus, procurando usar este fato como crédito a seu favor. Instado a responder sobre o Santo Daime, afirmou que o conhecia sim, e que inclusive o havia experimentado em reunião de sua igreja.
Outra situação ocorreu em depoimento tomado em Salvador, no qual uma delegada de polícia do Piauí, acusada de proteger o traficante de cebolas Lúcio Augusto, afirmou ser evangélica, provocando a reação de Lídio Mancini, que, de maneira dura, disse que com tal comportamento ela não poderia se declarar evangélica. Em ligações telefônicas gravadas pela polícia, ela dizia que estava orando para Deus proteger Lúcio Augusto.
Lúcio Augusto era, e continuaria a ser nos anos seguintes, o traficante de cebolas mais conhecido do país, sendo o protagonista de diversos episódios nos quais se revelaram com clareza as deficiências do sistema penitenciário.
Era fácil perceber que tanto o parlamentar Alvimar Portilho quanto a delegada de polícia buscavam encontrar alguma credibilidade mediante a adoção do perfil de evangélicos. Essa estratégia não funcionava em relação aos evangélicos por causa das claras contradições, e, em relação aos demais, em vez de gerar credibilidade para o depoente, gerava mais descrédito para os evangélicos. Outros depoentes utilizaram-se da mesma estratégia, também sem sucesso.
Maurício Ramos, em uma de suas intervenções em situações como esta, afirmou que “crente não mente”, chavão bastante conhecido e repetido nas igrejas evangélicas. “Crente não mente” na verdade é um instrumento de coerção, pois o crente, como qualquer outro, erra. Aliás, isso já ficara bem claro no episódio do depoimento de Benito Almeida. Maurício Ramos dava a impressão de, na verdade, expressar alguma indignação diante de depoentes que achavam que arvorar-se na imagem de evangélico lhes permitiria algum julgamento favorável por parte da CPI, talvez até mesmo por saberem que havia um grande número de membros da comissão que pertenciam a igrejas evangélicas.
Se no episódio dos elogios rasgados feitos por Pereira Caldeira não foi possível compreender porque os parlamentares evangélicos não se manifestaram, a posição majoritária – exceção à reação de Mancini à delegada do Piauí – de não tentar desmascarar “falsos crentes” talvez tenha sido adotada por sabedoria, por parte daqueles parlamentares. Poderia ter sido uma grande armadilha tentar desmascarar alguém que, dizendo-se evangélico, não o fosse de fato. Essa avaliação, por sua subjetividade, é quase impossível. Além disto, caso o depoente conseguisse “provar” sua sinceridade, surgiria dali um constrangimento para os evangélicos que os inquirissem. Talvez fosse esse o motivo da pequena ou nenhuma comoção que Pereira Caldeira causou com seus elogios às igrejas evangélicas nos morros soteropolitanos. A outra opção, que também guarda uma certa probabilidade, é que pegar um “peixe grande” seria ótimo para a CPI naquele momento, e, portanto, era necessário fazer o possível para incriminar o cineasta, estratégia essa que não podia ficar comprometida em função de uma simpatia que o depoente viesse a causar na bancada evangélica.
A despeito dessa possibilidade, e outros possíveis desvios, o sentimento de justiça prevalecia como linha mestra da ação da CPI. Por mais que se creditem os resultados da CPI a uma motivação exclusivamente política, não era este o motivo predominante. De fato, apesar de entender que a ajuda financeira de Pereira Caldeira a Justino se configurava em ilícito, a CPI não forçou a barra, de maneira a continuar na tentativa de incriminá-lo em supostas ações de lavagem de dinheiro do tráfico de cebolas, ou algo assim.
De olho ou não nas prefeituras ou nos próximos mandatos na Câmara, a comissão, como um corpo, revelava o desejo de fazer justiça. Este sentimento, algumas vezes alimentado pelo vislumbre de algum ganho político, e mesmo por sentimentos reprováveis, algumas vezes gerava excessos.
O próprio Pereira Caldeira, no entanto, foi o grande responsável para desmontar as armadilhas que foram sendo colocadas diante dele. As respostas que deu às perguntas iniciais, feitas por Clésio Filho, logo revelaram que ali estava um homem com inteligência acima da média, mas não só isso, uma pessoa muito bem preparada, sensível e, por certo, sem nenhum envolvimento com cebolas, em qualquer nível.
No dia do depoimento de Justino – posterior ao de Pereira Caldeira, um repórter do programa de rádio Sentinela da Nação, afirmava que havia uma relação criminosa entre eles, e que Márcio lavava dinheiro no banco da família. Alguém perguntou:
– Não seria o contrário?
Enfim, diversas hipóteses como esta foram levantadas. A Polícia Civil da Bahia indiciou Caldeira algumas semanas após seu depoimento à CPI, e ele, afinal, veio a ser condenado, cumprindo pena alternativa, em mais uma mostra do que a justiça do país é capaz de produzir.
Pesou a presença do senador do PDE, que logo após a exibição do vídeo, explicou sua presença ali, dizendo que estava preocupado em que se quisesse incriminar Caldeira. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara também pediu a palavra, mas sem algo mais relevante para dizer, reclamou que estavam sendo distribuídas para todos os presentes denúncias que chegavam pelo 0800 da Câmara. Esse número estava sendo divulgado pela mídia, para que de todo o Brasil as pessoas pudessem fazer denúncias, inclusive anônimas, acerca do tráfico de cebolas. Ele afirmou que era um absurdo que se permitisse levar a público denúncias não comprovadas; Maurício Ramos, calmamente, respondeu a ele que aqueles relatórios eram entregues apenas aos deputados.
A intervenção do presidente da Comissão estava recheada de agressividade oposicionista gratuita, como se a CPI estivesse alinhada com o governo, ou fosse contrária ao PDE.
Logo após suas intervenções, o senador e o presidente da comissão deixaram o plenário no qual a CPI se reunia, talvez satisfeitos por perceberem que os rumos que a reunião tomara pareciam sugerir que Caldeira não seria incriminado.
O depoimento de Pereira Caldeira e, posteriormente, o de Justino, para prejuízo do resultado final do trabalho, não foram bem aproveitados. Os membros da CPI não conseguiram avaliar a riqueza do conteúdo que esses dois atores traziam para a abordagem da questão de maneira mais ampla. Caldeira, por exemplo, deu ênfase à questão da ausência do Estado nos morros de Salvador, como motivo principal para o domínio das quadrilhas ligadas ao tráfico de cebolas. Justino era o líder de uma delas. Os dois haviam estabelecido uma relação depois da filmagem do documentário, mediante a qual Caldeira tentava ajudar Justino a deixar aquela atividade. Nada disso interessou aos parlamentares, a despeito da relevância dessas questões para o enfrentamento do problema.
Clésio Filho acabou fazendo um interrogatório “meia-sola” com Caldeira, talvez desanimado pela mudança de clima da CPI, em função do depoimento tocante e consistente apresentado pelo cineasta e da intervenção dos parlamentares do PDE na audiência. Ele demonstrou estar insatisfeito com as respostas, mas, de fato, estava frustrado, e parecia não querer aceitar que Caldeira não tivesse envolvimento com o tráfico. Seguiram-se outros parlamentares, que não conseguiam fugir das perguntas mais elementares, sempre querendo fatos, nomes e números. Caldeira estava preparado para responder a tudo, e em suas palavras finais afirmou que havia sido tratado com mais brandura do que imaginara anteriormente. Na verdade, fora ele mesmo quem desarmara os espíritos mais agressivos.
De se lamentar que os deputados não tenham conseguido enxergar, em momento algum, que Caldeira poderia ser um grande aliado no enfrentamento consistente do tráfico de cebolas. Em vez disso, ficou clara a frustração por terem perdido o peixe grande. Caldeira tinha conteúdo suficiente para colaborar com a CPI no andamento de uma vertente de trabalho menos policial, promovendo um enfrentamento mais holístico do problema.
Estava ali, diante dos deputados, um homem envolvido com questões sociais a ponto de passar um ano em uma ONG, em um país africano, ensinando sobre produção de vídeo. Um homem que ao produzir seu vídeo tinha entrado em contato com várias pessoas ligadas ao narcotráfico e policiais, e que, a partir deste trabalho, tinha desenvolvido sua própria teoria – riquíssima – sobre as causas que haviam sido determinantes para que Salvador chegasse à situação que chegou.
Para Caldeira, a grande questão a ser debatida era a omissão do Estado. Onde o Estado não conseguiu ou não teve interesse em se estabelecer, o tráfico de cebolas facilmente ocupou o vazio.
A comissão estava sempre preocupada em levantar dados que pudessem subsidiar investigações, ou que se constituíssem provas contra acusados. Neste aspecto Caldeira tinha muito pouco a contribuir, pois seu interesse, notadamente, tinha a ver com a realização de um diagnóstico da situação. Não lhe interessavam as conexões, os carregamentos, as quantidades, os telefones, os bens comprados com dinheiro do tráfico, enfim, tudo aquilo que a CPI tinha tremendo apetite em descobrir. Ele queria entender todo o processo que fizera a cidade de Salvador e, em especial o morro, mergulhar na realidade do domínio por quadrilhas do tráfico, entender as guerras entre quadrilhas, e contra a polícia, e a realidade social do morro dentro de um quadro tão assustador. Como se chegara a esse ponto?
Nesse aspecto, Justino contribuía com algumas avaliações sutis, inteligentes e elaboradas. Citando diversos autores, em especial Albert Camus, avaliava, em primeiro lugar, ser ele mesmo e os demais jovens do morro, vítimas da inconsciência coletiva. Entendia também que o morro sempre tinha sido dominado por algum líder, que também controlava todas as atividades ilícitas, mas que o advento do tráfico de cebolas, por sua lucratividade e destrutividade, fez o morro mergulhar numa guerra pelo poder que não só destronou as antigas lideranças como também determinou, em algumas situações, que gangues de outros morros exercessem o terror controlando o tráfico em regiões às quais não pertenciam originariamente.
Esse esquema, apesar de muito noticiado pela mídia, não tinha representatividade substancial nas grandes conexões do tráfico de cebolas, em função dos pequenos volumes de droga movimentados nos morros, em comparação à movimentação de grandes quadrilhas. Justino afirmava comprar quantidades não superiores a 10 kg de cebola por vez, enquanto que com uma quadrilha há pouco desbaratada pela Superintendência da Polícia Federal em Santa Catarina foram apreendidos 900kg!
Mas o tráfico no morro carrega consigo uma face muito mais violenta, constantemente exposta na mídia, visto que ele se mistura e se confunde com outra atividade do crime organizado, que é o tráfico de armas. Caldeira, inclusive, avaliava que o tráfico de armas era, na verdade, o grande negócio do crime organizado nos morros de Salvador.
Justino conseguia perceber que era apenas uma peça neste tabuleiro, e entendia que representava muito mais o papel de vítima do que de algoz; conquanto carregando uma condenação a 46 anos de prisão, tendo cometido diversos crimes, inclusive por utilizar-se de crianças na distribuição de cebolas. Ao ser questionado sobre seus métodos de ação, respondeu perguntando:
– Mestre, conhece Mad Max ? É aquilo ali…
Tendo a oportunidade de usar a palavra por 20 minutos, como regimentalmente a comissão permitia a cada depoente, usou-os para expor suas ideias. Afirmou que havia abandonado o tráfico e partido para uma viagem pela América Latina para conhecer a realidade social da região. Tentou elaborar uma teoria de que, ao controlar o tráfico, pretendia, na realidade, controlar o morro, e promover uma liderança benéfica àquela população, afirmando que, se pudesse, faria parar o tráfico naquele local. Afirmou que o tráfico é uma tragédia para a comunidade local.
Depois da participação inicial de Justino, Clésio Filho, na qualidade de relator, tomou a palavra para o interrogatório inicial. Partindo da própria argumentação de Justino, apelou a ele que entregasse os nomes dos “grandes” que controlavam o narcotráfico, para que, entregando informações preciosas à CPI, ele confirmasse sua desilusão com o crime e demonstrasse de maneira concreta sua vontade de mudar a situação. Disse:
– Vamos, mostra tua indignação, e nos diga os nomes dos grandões que financiam o tráfico!
Clésio, na verdade, estava jogando para a plateia. Justino não iria entregar nenhum nome – ele estava preso e a consequência de uma atitude como aquela teria uma consequência bem previsível: sua morte. Talvez ele quisesse também que Justino incriminasse Caldeira.
Na percepção de Justino, todas as pessoas com as quais se relacionava eram igualmente vítimas e peças menores no esquema. Além disso, tinham sido parceiros e até mesmo amigos. Nos momentos anteriores à reunião, ele já havia afirmado a Homero Alves que não entendia em que poderia de fato contribuir com a CPI, pois não tinha as informações que eles queriam. Segundo ele, a mídia o havia transformado em um mito, de proporções totalmente irreais. Seus comentários sobre a imprensa foram engraçados, mas bastante acurados. Pediu que se tomasse bastante cuidado com a mídia, pois era perigosa…
A participação de Clésio Filho revelava uma das simplificações que a Comissão, quase que em sua totalidade, fazia. Justino era bandido condenado, ponto. Bandido era bandido, e só passava a ter algum valor para a CPI se entregasse algo ou alguém. Se isso ocorresse, era promovido de bandido a herói. Para Clésio, a única prova de que pudesse haver alguma boa intenção em Justino seria o fato de ele denunciar alguém. Se não fizesse isso, seu discurso nada mais era do que elucubração vazia de bandido tentando fugir de sua pena e de sua culpa.
Laureano virou herói desde o começo e, nesse caso, a disposição da CPI para com ele era de, até mesmo, ajudá-lo a não cair em contradição; qualquer denúncia sua era normalmente aceita como verdade. Assim foi também com Agrício, criminoso confesso que denunciou policiais de Alagoas e o deputado estadual por Mato Grosso do Sul, Benito Almeida, e seu irmão Flávio Almeida.
Por mais que sua inconsciência sobre a realidade social na qual estava inserido não justificasse sua vida de crimes, a análise de Justino era inteligente, coerente e bastante acurada em algumas de suas conclusões. E mesmo que a CPI não tivesse por objetivo qualquer coisa que não fosse “investigar o avanço e a impunidade” do tráfico de cebolas, teria sido muito enriquecedor se os depoimentos de Caldeira e Justino tivessem sido seguidos de um debate sobre as causas e origens do tráfico, a realidade social do país que o realimenta constantemente, na busca de um caminho que apresentasse uma alternativa outra que não exclusivamente a repressão policial.
Ao final do depoimento de Caldeira, Maurício Ramos estava preocupado em obter uma resposta sobre a vinda do ministro das Relações Exteriores, Paulo Llodra, para depor no dia seguinte.
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