Guerra silenciosa |
Assim como o governo, a oposição não demonstra interesse em levar adiante as apurações sobre o processo de privatização do setor elétrico. Criada por um ato inesperado do então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), no ano passado, a CPI pegou de surpresa todos os líderes partidários. Por pouco mais de um semestre, eles conseguiram impedir a instalação do colegiado. Mas um outro gesto voluntarioso, dessa vez, do novo presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), submeteu os partidos a uma situação constrangedora: concluir a indicação de seus representantes na comissão e dar início aos trabalhos. Passados dois meses, porém, ainda não há acordo para a relatoria nem para a definição da mesa diretora. Por tradição, a presidência da comissão fica com o autor do requerimento, no caso, o deputado João Pizzolatti (PP-SC). Com o apoio de Severino, Pizzolatti tenta emplacar o nome de Luiz Carlos Santos (PFL-SP), ministro da Coordenação Política no primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Leia também A indicação de Santos, que também foi presidente de Furnas Centrais Elétricas S.A, no governo FHC, é considerada inaceitável pelo PT. As investigações se referem exatamente ao período em que os tucanos estiveram à frente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), que lastreou o pedido de instalação da CPI, as privatizações do setor elétrico foram conduzidas em meio a uma série de irregularidades cometidas pelo BNDES (leia mais). Demonstrando a falta de entendimento interno, os representantes do PT na CPI também disputam a prerrogativa de relatar as investigações. Mais próximo ao Planalto, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) pôs seu nome à disposição do partido, na semana passada, para disputar a relatoria. “Uma CPI dessas tem que ser feita de forma responsável”, afirmou Ferro, em crítica velada ao colega Mauro Passos (PT-SC), outro candidato ao posto, conhecido por suas posições radicalmente contrárias à privatização do setor. A indicação de um petista para relatar o colegiado esbarra, por sua vez, na resistência da oposição. Na falta de acordo entre os dois lados, abre-se espaço para a candidatura da dupla Salvador Zimbaldi (PTB-SP) e Marcelo Siqueira (PMDB-MG). A decisão, contudo, deve sair mesmo no voto no próximo encontro da comissão, em data ainda não confirmada. O cenário não é dos mais favoráveis para o PT. Numa eventual disputa com os candidatos do PP e PFL, os petistas teriam garantidos os votos de apenas seis dos 23 votantes. |
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