Clemente Ganz Lúcio*
Os trabalhadores coletivamente param de trabalhar e a isso chamamos greve. Ao parar de trabalhar, deixam de produzir e impõem perda àqueles que os empregam.
Na greve, o recurso humano que a empresa emprega se apresenta como gente e como sujeito político, porque é coletivo, e porque para!
O empresário pensa que se fosse uma máquina, não pararia. Se quebrasse, ele consertava ou trocava. Com gente é diferente, apesar dos patrões insistirem em chamar de recurso humano – mania de alguns de transformar o sujeito em adjetivo. Na greve, o adjetivo se coloca de maneira imperativa, como sujeito, e explicita o conflito de classe – entre quem emprega e quem é empregado, entre quem manda e quem obedece. A greve afirma, em um lapso de tempo, que outra situação de trabalho seria possível.
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Mas há greve e greves. Todas tratam de alguma maneira de questões distributivas – quanto ganham aqueles que são empregados – ou das condições de trabalho. Há as greves propositivas, que buscam conquistar, ampliar ou consolidar direitos – quanto daquilo que o trabalhador adicionou e criou de riqueza e que será destinada a ele.
As greves propositivas ocorrem predominantemente quando a economia cresce, a produtividade aumenta, os lucros se realizam, a produção está alta e os estoques estão baixos. Quando a produção para, os lucros caem e essa é uma linguagem que o capital entende.
Mas há greves que ocorrem quando as coisas não vão bem. São greves defensivas; aquelas que os trabalhadores fazem porque estão no limite da perda dos direitos.
O levantamento permanente do DIEESE identificou 1.001 greves em 2017 até outubro, divididas quase igualmente entre o setor privado e público; na maioria, defensivas, coerentes com a grave recessão por que passa a economia brasileira.
No setor privado, 59% das greves ocorreram porque houve atraso no pagamento dos salários; 27%, por problemas relacionados às demandas de alimentação; 16%, por reinvindicação de reajuste salarial; 11%, por atraso no pagamento do 13º salário; e 9%, pela regularização do depósito do FGTS.
No setor público, 45% das greves defensivas de 2017 ocorreram por reinvindicação do reajuste salarial; 19% pleiteavam melhores condições de trabalho; 18% foram pelo pagamento de salários atrasados; 18%, por piso salarial; 16%, por plano de cargos e salários; 11%, para efetivação da contratação; e 10%, por demandas relacionadas à alimentação.
Paramos como forma de nos colocarmos em movimento e realizamos a transformação de recurso em gente; de força de trabalho em sujeito coletivo; de produtor de riqueza em promotor de bem-estar social. Fazemos greve porque, na luta de classe, parar é condição para andar, algumas vezes, para avançar e outras, para se defender.
*Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do DIEESE e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo Reindustrialização (CDES)
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