Após cerca duas horas e meia de depoimento à Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (4), o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que as investigações da polícia apontam a possibilidade dos grampos terem partido de agentes "desviados" da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Demóstenes e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, tiveram conversa grampeada em julho. O diálogo foi divulgado em reportagem publicada neste fim de semana pela revista Veja.
“A PF tem as mesmas linhas que foram cogitadas pelo general [Jorge Armando] Félix: os grampos podem ter partido de agentes desviados de foco da Abin, ou podem ter vindo de gravações clandestinas feitas por pessoas que utilizaram de serviços de espionagem”, afirma. “O foco principal mesmo é que eles contam com a possibilidade de ser um espião desviado da Abin”, conclui o senador da oposição.
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Segundo Demóstenes, pelas circunstâncias do telefonema, o mais provável é que o telefone do ministro tivesse sendo monitorado, e não os aparelhos do Senado. Demóstenes recebeu a ligação em um telefone fixo em seu gabinete. “Pela característica do grampo, a se confirmar, é mais fácil fazer escuta em celulares do que em telefones PABX [como os do Senado]. Mas por enquanto tudo é especulação”, conclui Demóstenes.
O depoimento de Demóstenes foi feito na manhã desta quinta em seu gabinete. Na saída, os delegados Rômulo Berredo e William Morad, responsáveis pela investigação, não quiseram falar com a imprensa.
Varreduras
Na manhã de hoje, a Polícia Federal (PF) deu início a uma nova varredura no Senado. O pedido foi autorizado pelo presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN). A varredura deve ser feita em vários telefones da Casa, inclusive na central. “A PF até agora não achou evidências [de grampos]”, destacou Demóstenes.
Segundo Demóstenes, até o momento, a varredura realizada pela Polícia do Senado, não encontrou indícios de grampos nos telefones da Casa. “Não foi encontrado nada pela Polícia do Senado. Mas essa é a conclusão primeira. A priori é mais fácil que o grampo tenha sido feito por lá [STF]”, concluiu.
De acordo com a Polícia do Senado, os policiais da Casa vão tomar todos os depoimentos hoje, para tentar correr com os prazos e apresentar o resultado da investigação em cinco dias, prazo determinado por Garibaldi.
Alvos
Sobre a possibilidade de ter sido alvo de outros grampos, Demóstenes afirmou que a “sensação de paranóia” existe, mas que não tomou conhecimento de nenhum fato concreto. “Nós vivemos hoje com essa sensação de paranóia de ter sido grampeado. O próprio delegado disse que também sente isso. Mas algo concreto de outros grampos não teve”, considerou Demóstenes.
A conversa de Demóstenes e Gilmar Mendes ocorreu poucos dias depois da Operação Satiagraha ter sido deflagrada pela PF, em julho. No trecho, cujo o teor o senador confirma como verdadeiro, Mendes agradecia Demóstenes pelo seu discurso na tribuna do plenário do Senado em defesa do ministro. O senador democrata teria feito discurso atacando os que defendiam o impeachment de Mendes, por este ter concedido habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas, principal alvo das investigações da Operação Satiagraha.
Em relação a um possível depoimento à CPI dos Grampos, para esclarecer o episódio da conversa em que houve escuta clandestina, Demóstenes adiantou que está disposto a depor, mas que só irá à Comissão se o presidente Gilmar Mendes for. “Eu só vou se o ministro Mendes for. Eu vou com muito prazer”, disse. Na tarde de ontem (3), a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara aprovou requerimento de convite para que Mendes e Demóstenes venham discutir sobre grampos. (Renata
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