Eduardo Militão*
Gravações obtidas pelo Congresso em Foco mostram que o deputado licenciado Paulo Bauer (PSDB-SC), atual secretário de Educação de Santa Catarina, manteve controle sobre seus créditos de passagens aéreas mesmo depois que deixou o mandato, em fevereiro de 2007. Os áudios mostram que o parlamentar tentou “fazer negociação” sua cota, pedindo até uma consulta ao um funcionário da administração da Câmara. Depois do evento, diz o próprio Bauer, ele autorizou seu chefe de gabinete a avaliar o processo de venda dos créditos de passagens.
Bauer é um dos investigados pelo corregedor da Câmara, ACM Neto (DEM-BA), por suposta participação no comércio ilegal da verba para bilhetes parlamentares.
A primeira tentativa de transação não aconteceu, mostram os áudios. A segunda, sim, mas sem a autorização de Bauer, dizem os áudios. A conversa foi gravada em 27 de maio pelo ex-servidor José Cláudio da Silva Antunes, demitido depois de confessar ter vendido créditos de passagens do deputado, embora alegue ter agido a mando do chefe de gabinete de Bauer. Ele trava um diálogo com o parlamentar licenciado para explicar por que efetuou a venda.
Trecho da conversa BAUER – Pensaste errado. Eu nem lembrava quem era o tal de Carlos que tu botou no email pra mim. Que Carlos, Carlos? Não sei. Houve um momento em que eu pensei em usar os créditos em benefício de alguém para fazer uma negociação. Mas… aí eu descobri que o Carlos era o genro do Sabino. CLÁUDIO – Exato. BAUER – E, como você sabe, não foi feito. CLÁUDIO – É, não foi feito. BAUER – Agora, no momento em que eu digo que eu vou ver uma possibilidade, que eu consultei, fala Carlos, fala… Não sei se o Carlos chegou a falar contigo. CLÁUDIO – Chegou. Nós trocamos… BAUER – E depois não deu certo. Isso não significa que, se não deu certo esse, o outro que eventualmente aparecer está certo. CLÁUDIO – É, exatamente. BAUER – Foi uma falha muito grave a tua. Ter feito uso de uma indicação para fazer uma outra providência que não tinha indicação nenhuma, porque eu nunca mais falei contigo. Ouça o áudio (…) BAUER – Eu me lembro que uma vez ele me perguntou: “Você não quer vender isso, não?”. “Olha, João, não sei se quero nem sei se não quero. Não faço a mínima ideia. Se tiver alguém que queira comprar, você me fala. A gente vai ver o que que faz.” Só. Nunca mais falei mais nada. Ouça o áudio Leia e escute tudo |
Depois, o deputado relata uma conversa em que autorizou o ex-chefe de gabinete a ver em que termos seria possível vender sua cota. “Eu me lembro que uma vez ele me perguntou: ‘Você não quer vender isso, não?’. ‘Olha, João, não sei se quero, não sei se não quero. Não faço a mínima ideia. Se tiver alguém que queira comprar, você me fala. A gente vai ver o que que faz’.” (ouça o áudio)
Entretanto, Bauer diz que não autorizou a atitude de Cláudio em executar a venda. E diz que a primeira tentativa não poderia justificar o negócio feito. “Foi uma falha muito grave a tua. Ter feito uso de uma indicação para fazer uma outra providência que não tinha indicação nenhuma, porque eu nunca mais falei contigo”, diz ele, no áudio.
Procurado pelo Congresso em Foco, Bauer disse que “construiu” as frases para obter mais informações de Cláudio Antunes e que as gravações não foram periciadas para se verificar uma eventual edição (leia mais).
Mudança de nome
Cláudio disse, em entrevista ao site, que a primeira tentativa de negociar os créditos começou com um contato com Carlos Nunes, servidor da administração da Câmara e genro do ex-diretor geral da Casa Adelmar Sabino. O ex-servidor diz que Bauer pediu para ele procurar Nunes e tentar passar os créditos de passagens do deputado para o nome de outra pessoa.
Isso aconteceu por volta de maio de 2007, quando o parlamentar estava fora da Câmara, à época na suplência de Djalma Berger (PSB-SC). Bauer queria, segundo Cláudio, tirar a cota de seu nome. “Era para eu procurar ele e passar os créditos pra ele e tirar do nome dele os créditos. Só isso”.
Cláudio não diz que Nunes era o responsável por negociar as passagens, mas acredita que o objetivo era esse. Entretanto, diz ele, não foi possível fazer a mudança de nome dos créditos. Na gravação, Bauer explica:
“Houve um momento em que eu pensei em usar os créditos em benefício de alguém para fazer uma negociação. Mas… aí eu descobri que o Carlos era o genro do Sabino. (…) E, como você sabe, não foi feito.” (ouça o áudio)
Ouvidos pelo site, Bauer e Nunes têm outra versão: dizem que o encontro se referia apenas à conferência do estado atual da cota de passagens do deputado. (leia mais)
Dinheiro no carro
De acordo com o relato de Cláudio, ele vendeu os créditos de Bauer no segundo semestre de 2008. Segundo ele, o chefe de gabinete João Santos mandou que o negócio fosse feito e que tudo tinha o consentimento de Bauer. Em mensagem de correio eletrônico, porém, João nega a ordem. “Jamais dei esta ordem até porque não tinha este direito, uma vez que jamais administrei créditos de passagem do deputado Paulo Bauer”, diz o texto.
Cláudio afirma que, orientado por João, encontrou então o agente de viagens Vagdar Fortunato Ferreira. Ele lhe uma autorização por escrito para o operador movimentar a conta de créditos do deputado na companhia aérea TAM.
Os créditos retornavam, então, em dinheiro vivo para Cláudio. No total, o ex-servidor diz ter recebido R$ 45 mil, em cinco vezes. A cada repasse de dinheiro, iniciava-se, então, a mesma operação. Cláudio colocava as notas no bolso e se encontrava com João fora das dependências da Câmara, dentro de um carro. No interior do veículo, repassava os valores ao chefe de gabinete. Em quatro momentos, o valor repassado foi R$ 10 mil. Na última operação, o repasse foi de R$ 5 mil.
Na gravação, Bauer diz que conferiu suas contas bancárias para ver se, eventualmente, João não depositou os valores em favor do deputado. Mas isso não aconteceu, disse o parlamentar licenciado.
O áudio foi captado em 27 de maio, em meio à divulgação da farra das passagens. Informado por Cláudio de que os deputados estão devolvendo à Câmara valores de cota de voos, Bauer pergunta se os créditos de legislaturas anteriores terão que ser devolvidos também.
Gravações divulgadas ontem mostram o deputado admitindo ter contratado uma funcionária fantasma para desviar verba de gabinete da Câmara (leia).
*Colaborou Lúcio Lambranho
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