Eumano Silva
O presidente Lula terá de encarar o PMDB em dose dupla no Congresso. As vitórias dos peemedebistas José Sarney e Michel Temer para o comando do Senado e da Câmara tornam o governo dependente do maior partido do país em todas as decisões do Legislativo. O Palácio do Planalto precisará, também, administrar as seqüelas deixadas pelas disputas, principalmente entre os senadores.
No caminho de Lula estarão dois dos políticos mais experientes do Congresso. Ex-presidente da República, Sarney voltou para a cadeira que ocupou duas vezes, uma no governo Fernando Henrique Cardoso e, outra, no início do governo petista. Michel Temer também foi presidente da Câmara duas vezes, ambas na gestão de FHC.
As eleições de ontem provocaram algumas novidades em relação aos seis primeiros anos do governo Lula. Na Câmara e no Senado, a base governista se dividiu mais do que em outras vezes, demonstração clara da falta de sintonia entre o Palácio do Planalto e os líderes dos partidos aliados.
O fato mais surpreendente, porém, foi favorável aos interesses do governo. O inusitado apoio do PSDB ao petista Tião Viana permite imaginar um ambiente menos hostil entre oposição e situação no Senado. O problema, nesse caso, é que a aliança entre os adversários perdeu para o peemedebista José Sarney.
Parlamentares da base de apoio de Lula minimizam a importância das posições estratégicas conquistadas pelo PMDB. "Nunca vi problema para o governo nas eleições de Sarney e Michel", afirma o deputado José Genoino (PT-SP). "Para começar, o Senado é uma coisa e a Câmara é outra", acrescenta.
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Na opinião de Genoino, o Palácio do Planalto deve preocupar-se mais com o Senado, onde a disputa entre Sarney e Viana dividiu a base governista. "Na Câmara, a relação entre o PT e o PMDB está sendo consolidada, o Michel Temer ajudou na coalizão no segundo mandato e foi fundamental para o governo nos últimos anos", explica o deputado.
Oposição
O deputado oposicionista José Carlos Aleluia (DEM-BA) interpreta o resultado das eleições de ontem como um obstáculo para os objetivos do Palácio do Planalto. "Do ponto de vista dos governistas, o trabalho nas disputas do Congresso foi muito mal feito", diz o democrata. "Eles ficaram contra o Sarney, aliado de primeira hora, e perderam. Na Câmara, apoiaram o Michel, que não será aliado deles em 2010", completa Aleluia, referindo-se às ligações políticas e pessoais entre o novo presidente da Casa e o PSDB paulista.
A força do PMDB no Congresso, segundo o deputado baiano, deve-se à facilidade de alianças com outras legendas. "Eles se beneficiam do fato de poderem fazer acordos com todos os partidos, à direita e à esquerda, nas eleições municipais, estaduais e nacionais", afirmou Aleluia. "E nas próximas eleições, uma parte deles estará com o candidato do Lula e outra com o candidato do PSDB", prevê o democrata.
Desde 1991, quando Ibsen Pinheiro (RS) e Mauro Benevides (CE) ganharam a eleição para presidente da Câmara e do Senado, o PMDB não conquistava o comando das duas Casas simultaneamente. Sempre ocupando os dois cargos mais importantes do Legislativo desde a redemocratização, em 1985, o partido só perdeu a hegemonia em 1993, quando Inocêncio Oliveira (PFL-PE) derrotou o peemedebista gaúcho Odacir Klein na Câmara (leia mais).
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) demonstra cautela quando analisa o comportamento do Palácio do Planalto nas eleições de ontem. "Para ser franco, vi pouca presença do governo nestas disputas", diz o tucano. "Mas, para mim, o mais importante é que conseguimos 32 votos pela reforma do Senado", conclui.
Como mostrou o Congresso em Foco no último sábado (31), Sarney volta ao comando do Senado com o respaldo do ex-presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi obrigado a deixar a presidência após uma série de denúncias em 2007, e dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Gim Argello (PTB-DF), todos com pendências na Justiça (leia mais).
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