No momento em que mobilizações em todo o país questionam os gastos públicos com megaeventos como a Copa do Mundo e a visita do papa ao Brasil, em detrimento dos investimentos nas áreas sociais, a imprensa divulgou o montante despejado pelo governo brasileiro na vergonhosa ocupação militar do Haiti.
Os governos Lula e Dilma gastaram, entre 2004 e 2012, R$ 3,04 bilhões (valores atualizados pela inflação) para manter as tropas brasileiras no país e liderar a Minustah (o nome oficial da ‘missão de paz’ da ONU). Apenas R$ 709 milhões do total foram reembolsados pela ONU, o que estaria previsto pela legislação das Nações Unidas. R$ 689 milhões foram gastos só com adicionais salariais (pagamento em dólar para além do salário que já recebe no Brasil) aos militares que servem na ocupação. Esse adicional pode chegar a US$ 3 mil (R$ 6.700) mensais por pessoa.
As informações foram obtidas pela Folha de S. Paulo em consulta aos comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica, com base na Lei de Acesso à Informação. Os dados não estavam nos balanços do governo e nem constavam das informações dos grupos de fiscalização de gastos do governo federal, segundo o jornal.
Esses números só reforçam o caráter criminoso da ocupação daquele país levada a cabo pelas tropas brasileiras, sob comando dos governos do PT (Lula e Dilma). Demonstra a total subserviência do governo brasileiro às vontades dos EUA que, na época, envolvidos com a invasão no Iraque e no Afeganistão, delegaram a ocupação do Haiti ao Brasil. Coube ao nosso país defender os interesses econômicos e geopolíticos do império do norte no Haiti.
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Mas o que se destaca nessa notícia, e voltando aos motivos das manifestações de rua que sacudiram o nosso país no mês de junho, os gastos do governo com a ocupação são mais um exemplo de como os recursos públicos, para o governo brasileiro, devem estar a serviço de qualquer coisa, menos daquilo que serve aos trabalhadores e ao povo pobre. Sejam os trabalhadores e povo pobre do Brasil, sejam trabalhadores e povo pobre do Haiti.
Digo isso porque o argumento esgrimido pelo governo brasileiro é que não se trata de uma ocupação, e sim de uma “missão humanitária”, o que se desenvolve no Haiti, neste momento. Pergunta simples: se o objetivo era ajuda humanitária, não era melhor usar esses mais de 3 bilhões para construir casas para o povo pobre? Há mais de 350 mil famílias que ainda vivem, desde o terremoto, em barracas, porque não têm casa para morar. Não seria o caso de usar esses recursos para construir hospitais? Para financiar a presença de médicos, enfermeiros, bombeiros ao invés de soldados?
Ação humanitária mesmo é o que menos se viu em todo esse período. As tropas de ocupação estão mais preocupadas em proteger as zonas francas (concentrações de indústrias), garantindo os lucros das multinacionais que ali se instalaram em busca de mão de obra mais barata. As tropas brasileiras estão sendo usadas para reprimir as mobilizações dos trabalhadores que se rebelam contra as péssimas condições de trabalho e vida (falta tudo para os pobres no Haiti, desde casa, até comida e água).
Não bastasse esse papel vergonhoso, a presença das tropas brasileiras (e de outros países na missão da ONU) no Haiti tem sido alvo de diversas denúncias de violação de direitos humanos, como tortura, estupros, criminalização e repressão dos movimentos sociais. A única interferência na situação política do Haiti, patrocinada pelas tropas militares, foi a de assegurar mais uma eleição fraudulenta naquele país.
E, pior, a ocupação não tem prazo para acabar. Ainda estão no país mais de mil militares brasileiros. É preciso ampliar a solidariedade ao povo haitiano, contra essa ocupação. O governo brasileiro segue envergonhando o nosso país ao oprimir outro povo. E, nessa batalha, somos todos haitianos.
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