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Nem o desencadeamento de uma operação da Polícia Federal nem mesmo a ameaça de retaliação do Planalto aos aliados foram capazes de arrefecer o apoio à comissão parlamentar de inquérito (CPI) que pretende investigar denúncia de corrupção nos Correios. Pelo contrário, o número de assinaturas de deputados que apóiam a criação da CPI saltou ontem de 217 para 242. No Senado, a lista, que tinha 49 nomes, também foi reforçada com a adesão do senador Jonas Pinheiro (PFL-MT). Com isso, praticamente metade dos 594 congressistas já se manifestou a favor das investigações. Outros sete senadores do PT decidem hoje se endossam ou não o pedido apresentado pela oposição. Agora, os líderes governistas têm apenas até a meia-noite para convencer 24 senadores ou 72 deputados a retirarem o apoio ao requerimento e, com isso, impedir a leitura do ato de criação da CPI, marcada para as 10 horas de amanhã, em sessão conjunta do Congresso Nacional. O mínimo de assinaturas exigido para a criação de uma comissão mista de inquérito é de 27 no Senado e 171 na Câmara. Leia também O governo anunciou ontem que vai jogar duro com os aliados que estão apoiando a CPI. A resposta deve vir em duas formas: demissão de indicados políticos e má-vontade na liberação das emendas parlamentares. “Vamos para a ofensiva. Guerra é guerra e vamos saber quem são os inimigos. Não podemos tratar os inimigos a pão-de-ló”, disse o vice-líder do governo na Câmara Beto Albuquerque (PSB-RS), ao reproduzir a conversa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com integrantes da comitiva da viagem presidencial à Ásia. “Acho que pode ser o caso de avaliarmos aquela base ‘Cavalo de Tróia’, que é o deputado de partido da base aliada, mas que faz oposição ao governo”, fez coro o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, também endureceu o discurso e acusou os dissidentes aliados de colaborarem com o PSDB e o PFL na tentativa de desestabilizar o país. “O governo do presidente Lula é um governo legitimamente eleito, se a oposição não tem candidato para enfrentar as próximas eleições, respeite a democracia. Não tentem fazer, essas correntes políticas, o que fizeram com governos anteriores”, disse o ministro. “Não é a oposição que quer instalar a CPI, é o Congresso”, reagiu o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Em resposta à declaração de Rabelo, a oposição divulgou a lista com a assinatura dos congressistas que apóiam a CPI. “Apresentamos para nos contrapor à investida do governo que tenta intimidar a oposição”, afirmou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), vice-líder do PFL. Lideranças do PFL e do PSDB pretendem divulgar a lista dos deputados que desistirem do apoio à CPI, numa forma de criar constrangimento aos parlamentares em suas bases eleitorais. “O constrangimento de alguém retirar a assinatura é o mesmo de quem assina contrariando a orientação de seu partido. O PT não é um partido liberal, em que cada um pensa que é dono da verdade”, rebateu o líder do governo na Câmara. A estratégia dos governistas é anunciar em bloco, até esta noite, a retirada das assinaturas do requerimento de instalação da CPI. Ao todo, 19 deputados petistas assinaram o pedido. PTB entrega cargos Logo após prestar depoimento ao Ministério Público, o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), acusado de comandar o esquema de corrupção nos Correios, informou que o partido entregará hoje os cargos que ocupa no governo Lula, com exceção do Ministério do Turismo. Devem pedir demissão o presidente da Eletronorte, Roberto Salmeron, o presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Luiz Apolônio, o diretor da Eletronuclear Luiz Randon e o diretor da Embratur Emerson Palmieri. Em seu depoimento, Jefferson reiterou o discurso feito em plenário há uma semana, no qual alegou inocência. A Executiva do PTB se reúne hoje para decidir se permanece ou não na base governista. “Vou mostrar ao presidente Lula que pode confiar no amigo que ele conquistou. Vou mostrar a ele que não vai se arrepender por ter confiado no Roberto Jefferson”, afirmou o petebista. Numa resposta à oposição, que acusa o governo de ser omisso diante de denúncias de irregularidades, a Polícia Federal (PF) deu início ontem à operação que vai apurar a ocorrência de fraude em licitações nos Correios. Computadores, agendas e cópias de contratos foram apreendidos na sede da empresa em Brasília e nos apartamentos e escritórios dos ex-integrantes da diretoria da estatal Maurício Marinho, Antônio Osório e Fernando Godoy. Acusados de operar um esquema de corrupção e fraude em licitações, os três devem ser indiciados hoje pela PF. Ao mostrar interesse na solução do caso, o governo espera enfraquecer o discurso da oposição e diminuir os efeitos políticos da apuração no Congresso. |
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