Silvio Abdon/CLDF
Eduardo Militão e Sylvio Costa
Passada a renúncia do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), na noite de ontem (4), as atenções se voltam para seu primeiro suplente, Gim Argello (PTB). O petebista acumulou diversas acusações criminais ao longo de sua trajetória política, e é investigado pelo Ministério Público pelo mesmo episódio que levou Roriz à renúncia: possível participação na partilha de R$ 2,2 milhões mencionada pelo ex-governador em conversa telefônica gravada com autorização judicial.
O senador José Nery (Psol-PA), do partido autor da representação contra Roriz no Conselho de Ética, disse ontem à noite que o Senado pode investigar Gim Argello. “Se ele estiver envolvido em qualquer ilícito, no momento adequado isso será discutido”, afirmou o parlamentar.
Roriz tem interesse direto no assunto. O agora ex-senador obteve do segundo suplente, Marcos de Almeida Castro (PMDB), o compromisso de também renunciar e pretendia conseguir o mesmo de Gim. Se tivesse sucesso, a Justiça eleitoral teria de convocar – no prazo máximo de 90 dias – novas eleições para preencher a vaga, e o próprio Roriz poderia participar da disputa.
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Mas Gim, que foi secretário de Trabalho no último governo de Roriz (2002/2006), jamais sequer cogitou abrir mão da cadeira no Senado, revelaram ao Congresso em Foco vários interlocutores recentes do futuro senador. O fato é encarado como prova de deslealdade pelos rorizistas, que, nos bastidores, prometem ir à forra fornecendo munição contra Gim Argello.
Seria uma maneira de pagar com a mesma moeda o tratamento que, para os rorizistas, o suplente dispensou ao seu antigo líder político. Eles vêem Gim como a principal fonte da reportagem da revista Veja que acusou Roriz de ter subornado dois juízes do Tribunal Regional Eleitoral do DF nas últimas eleições.
Quem é
Gim, que completou 45 anos no último dia 5 de abril, nasceu em São Vicente (SP), mas vive no Distrito Federal desde criança. Cresceu e se iniciou na política na cidade de Taguatinga (DF). Antes de se filiar ao PTB, partido do qual é presidente regional e vice-presidente nacional, pertenceu ao PFL e ao PMDB. Foi, durante muito tempo, cabo eleitoral do deputado federal Osório Adriano (DEM-DF), com o qual é hoje rompido. Está no PTB desde março de 2005.
Deputado distrital por duas vezes, chegou a presidir a Câmara Legislativa do Distrito Federal, entre 2001 e 2002. Paralelamente, fez carreira na iniciativa privada. Bacharel em Direito, pouco usou o diploma. Foi corretor de imóveis, montou uma franquia dos Correios no Setor Comercial Sul (SCS), na zona central de Brasília, e se dedicou a outras atividades empresariais.
Nas últimas eleições em que disputou uma vaga de titular, em 2002, elegeu-se deputado distrital com 17.868 votos (1,45% dos votos válidos do DF), mais de 60% deles vindos das cidades de Taguatinga e Ceilândia. À época, declarou possuir um patrimônio de R$ 806.129,31, constituído, entre outros bens, por um apartamento na Asa Norte, duas casas e quatro lotes em Taguatinga e uma loja comercial no SCS.
Em seu site, diz que apresentou 2.580 propostas legislativas e transformou mais de cem delas em lei durante seus oito anos de atividade como deputado distrital. Também afirma ter alcançado, na condição de secretário de Trabalho de Roriz (2005/2006), “a menor taxa de desemprego desde 1997, atingindo a meta de um milhão de pessoas ocupadas no Distrito Federal”.
Acusações
Em 2002, Gim foi acusado de ter recebido 300 lotes para facilitar a regularização do condomínio Alto da Boa Vista. A denúncia foi feita numa fita de vídeo pelo então secretário de Assuntos Fundiários e deputado distrital licenciado Odilon Aires, que se queixava do fato de ter ficado com “apenas” 50 lotes.
A gravação foi obra do empresário Márcio Passos, que se encarregou depois de divulgar o vídeo. Márcio é irmão do deputado distrital Pedro Passos, preso em maio pela Operação Navalha e apontado como grileiro de terras no Distrito Federal. O caso gerou uma ação popular (2002.01.1.034497-2), que até hoje aguarda julgamento no Tribunal de Justiça do DF.
O ex-presidente da Câmara é réu em um total de cinco ações ou inquéritos judiciais. Seus problemas judiciais incluem um processo de execução fiscal por dívidas com a Receita Federal, outro de crime contra o sistema financeiro e a denúncia de ter provocado um prejuízo de R$ 1,7 milhão à Câmara Legislativa por meio de contratos firmados na área de informática. O assunto também se encontra em análise no Tribunal de Contas do Distrito Federal. Gim contesta todas as acusações.
Seu nome também veio à tona durante a crise do mensalão, em 2005. Conforme registros contábeis da SMP&B Comunicação, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, a agência arcou com as despesas de Gim e seu sucessor na presidência da Câmara Legislativa, Benício Tavares (PMDB), durante viagem que ambos fizeram a Belo Horizonte. Os dois negaram qualquer favorecimento. De 2003 a 2005, a SMP&B foi a agência de publicidade da Câmara Legislativa, da qual recebeu mais de R$ 10 milhões. O processo de contratação foi iniciado por Gim (que publicou o edital de licitação) e finalizado por Benício (que assinou o contrato).
O novo senador também carrega no currículo uma condenação. Em 2003, pagou multa de R$ 20 mil por propaganda eleitoral irregular.
Desaparecido
O Congresso em Foco tentou, sem êxito, um contato com Gim Argello. Informando que o ex-distrital se encontrava em uma fazenda, fora de Brasília, amigos dele diziam que também enfrentavam dificuldades para localizá-lo. Segundo seus interlocutores, Gim estava “estressado” com o noticiário, especialmente com a citada reportagem da Veja.
Quando a revista começou a circular, no último sábado, Gim alegou problemas de saúde para sair de cena. Segundo um deputado próximo a Roriz, ele tentou simular uma situação com outro objetivo: fugir do ex-governador, de modo a evitar a cobrança de renúncia.
Embora Gim tenha dito a diversas pessoas que não cogita renunciar, políticos de Brasília acreditam que a combinação de três ingredientes pode levá-lo a mudar de opinião: a pressão de Roriz; da opinião púb
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