Fábio Góis
Por meio de ofício encaminhado à Comissão Mista de Orçamento (CMO), o relator do colegiado, senador Gim Argello (PTB-DF), renunciou hoje (terça, 7) ao posto depois de denúncias publicadas na edição do último domingo (5) do jornal O Estado de S. Paulo. Segundo o diário, Gim beneficiou entidades fantasmas com emendas do Orçamento do Ministério do Turismo. A reportagem informa que um jardineiro e um mecânico seriam usados como “laranjas” no esquema de fraude no orçamento, cujos repasses somam R$ 3 milhões.
Segundo interlocutores do governo, a ordem para a renúncia veio do Palácio do Planalto, com a intenção de evitar o agravamento das suspeitas de desvio na CMO. Vice-líder do governo no Senado, o petebista deve dar lugar à líder governista no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
No ofício, Gim se dirige à CMO em observância ao “dever de transparência, lealdade e desprendimento”. O senador diz considerar as denúncias “manobras políticas” que têm como objetivo instalar “crise artificial no limiar do novo governo” . “Tenho plena consciência de ter elaborado um trabalho isento, legando ao Congresso e à sociedade a certeza de que o primeiro orçamento da presidente Dilma Roussef é um documento realista que espelha com clareza os anseios da sociedade”, diz o senador (confira a íntegra do ofício abaixo).
A publicação da reportagem levou a uma pronta reação da oposição no Congresso. A primeira ação veio do DEM, que pediu apuração das denúncias e a imediata renúncia do senador. Mais cedo, numa tentativa de resistir à pressão, Gim Argello chegou a garantir que não deixaria a função, também pedindo investigação sobre as acusações.
“Confira a íntegra do comunicado de renúncia:
Senhor Presidente
Senhores Membros da Comissão Mista de Orçamento.
Venho a esta Comissão para cumprir meu dever de transparência, lealdade e desprendimento. Em respeito ao Congresso Nacional, aos ilustres parlamentares desta Casa, que me honraram com a escolha para representá-los como relator geral do Orçamento Geral da União, ao meu partido, o PTB, que me confiou esta difícil missão e, especialmente, ao povo do Distrito Federal, decidi, no dia de hoje, após conversas com meus familiares, afastar-me definitivamente da relatoria e da própria Comissão Mista de Orçamento.
Há uma tentativa recorrente de associar esta comissao a supostas irregularidades na aplicação de verbas públicas. Como parlamentar atento dos meus deveres e obrigações, considero que meu afastamento é uma iniciativa que deve contribuir para não contaminar os bons trabalhos que aqui vêm sendo realizados em prol da sociedade.
Da mesma forma evitamos que manobras políticas instalem uma crise artificial no limiar do novo governo. Desta forma espero também contribuir para votação serena responsável da peça orçamentária.
Desde o primeiro momento, adotei todas as providências ao meu alcance no sentido de esclarecer e apurar a verdade. Solicitei formalmente ao Ministério Público Federal, à Controladoria Geral da União e ao Tribunal de Contas da União que façam um pente fino nestas emendas a fim de esclarecer, ponto por ponto, todas as dúvidas suscitadas nos últimos dias. Levo comigo a serenidade e a tranquilidade. Tenho plena consciência de ter elaborado um trabalho isento, legando ao Congresso e à sociedade a certeza de que o primeiro orçamento da presidente Dilma Roussef é um documento realista que espelha com clareza os anseios da sociedade.
Agradeço mais uma vez o apoio e a confiança do governo federal, desta comissão, dos líderes partidários, dos meus companheiros de partido e passo, a partir de agora, a ser fiscal diário das investigações das denúncias que, injustamente, envolveram meu nome
Atenciosamente
Senador Gim Argello”
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