Depois de prestar depoimento à Superintendência de Polícia Federal, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, disse há pouco que não falaria sobre a investigação em curso no órgão, acerca da autoria da escuta telefônica clandestina que o flagrou em conversa com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). No entanto, segundo a assessoria de imprensa do STF, o ministro disse desconfiar que já vinha sendo investigado desde à época da Operação Navalha, deflagrada pela PF no ano passado, que desbaratou um esquema de fraudes em licitações de obras públicas.
De acordo com interlocutores de Gilmar Mendes, logo após uma conversa ao telefone entre ele e o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, uma repórter o telefonou em seguida, justamente para falar sobre o caso, e com perguntas coincidentes com o assunto abordado no diálogo entre as autoridades. Foi a partir desse episódio que a desconfiança do ministro veio à tona.
Evitando entrar em detalhes sobre o teor do depoimento, e sugerindo que a imprensa se dirigisse à sua assessoria "para obter todas as informações", Mendes se rendeu à insistência de uma repórter que queria saber mais sobre as circunstâncias do grampo. "Só [foi exposto] aquilo que eu conheço, as minhas conversas, e isso já está devidamente esclarecido."
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Ainda de acordo com a assessoria do STF, o depoimento durou cerca de trinta minutos e foi colhido por dois delegados. Não foi apresentado ao ministro o audio do diálogo entre ele e Demóstenes, mas uma transcrição em papel. O ministro confirmou o conteúdo apresentado pelos delegados, e publicado pela revista Veja há pouco mais de uma semana, trazendo o caso à tona.
A reportagem noticia que um funcionário da Abin, que pediu para não ser identificado, entregou à revista um diálogo grampeado entre Gilmar Mendes e o Demóstenes Torres. "A escuta clandestina feita contra o ministro Gilmar Mendes, longe de ser uma ação isolada, é quase uma rotina em Brasília", afirma Veja.
Hipóteses
Cercado de seguranças e jornalistas, Mendes evitou opinar sobre a responsabilidade pelo grampo feito na mais alta corte do país. Mas, ao comentar brevemente a possibilidade de a escuta ter sido operada em seu próprio celular, foi diplomático.
"Essa é uma das suspeitas com que eles [os agentes da PF] estão trabalhando. É mais uma hipótese", disse o ministro que não quis comentar a possiblidade de algum ex-funcionário do extinto Serviço Nacional de Inteligência (órgão da ditadura militar) e que hoje esteja no setor privado ter feito o grampo.
“Não vou emitir juízo sobre isso. Vamos aguardar o encaminhamento das investigações, há muitas hipóteses, certamente a polícia vai trabalhar com essas e outras que estão em jogo”, declarou o ministro, em rápida pausa antes de se dirigir a palestra sobre direito constitucional, em curso na Câmara dos Deputados. (Fábio Góis)
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Atualizada às 20:48.
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