O ex-policial federal que integrava o comitê de campanha do presidente Lula à reeleição, Gedimar Passos, disse há pouco na CPI das Sanguessuas que foi submetido a condições de tortura física durante sua prisão pela Polícia Federal (PF), em Cuiabá (MT). Segundo o depoimento de Gedimar, ele teria sido colocado numa cela "com água pela canela" durante 13 horas no Presídio Regional Pascoal Ramos, na capital do Mato Grosso. O tratamento teria, segundo Gedimar, gerado uma série de feridas pelo seu corpo após a prisão.
O fato, segundo ele, teria ocorrido logo após sua transferência de São Paulo para Cuiabá no dia 18 de setembro, três dias após sua prisão no hotel Íbis, na capital paulista. Desde os primeiro momento, o ex-policial federal reinterou que sua prisão foi ilegal e que ele e seu advogado nunca tiveram acesso ao seu depoimento e termos de prisão.
No seu relato, Passos também revelou que ao questionar o delegado federal Diógenes Curado e o procurador federal Mário Lúcio Avelar sobre o tratamento dado a ele na instituição penal, ambos teriam dado risadas da sua reclamação. "O senhor acha que eu iria colaborar com o delegado", disse Gedimar ao deputado e sub-relator da comissão, deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
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Após fazer essa denúncias contra a PF, O ex-integrante da campanha do presidente Lula disse que não sabia a origem dos R$ 1,7 milhão apreendidos com ele e com o empresário e militante do PT em Mato Grosso, Valdebran Padilha. "Nunca o Jorge [Jorge Lorenzetti] me falou sobre o dinheiro. Foi uma circunstância da situação. Eu recebi o dinheiro em duas ocasiões de uma pessoa desconhecida", tentou explicar Passos.
Ameaças
O ex-policial federal deu ao entender no depoimento que está sob ameaças para não revelar a origem do R$ 1,7 milhão que seria utilizado na compra do dossiê contra políticos tucanos. Questionado sobre quem havia mandado entregar o montante no hotel Íbis, em São Paulo, disse estar “com a corda no pescoço”.
“Eu já estou com a corda no pescoço deputado, e o senhor quer que eu estique mais”, afirmou Gedimar respondendo ao deputado Fernando Gabeira. Após a declaração, alguns parlamentares tentaram convencer o ex-policial a dizer o que sabe.
“Você está ameaçado de morte, aqui é o lugar certo para falar”, afirmou o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Sob pressão, porém, Gedimar voltou atrás: “Eu não estou ameaçado de morte por ninguém”. Nenhum dos parlamentares sugeriu uma sessão reservada para o depoimento.
Gedimar reiterou desconhecer dos R$ 1,7 milhão que seriam usados para comprar o dossiê. Disse que recebeu a missão de ir a São Paulo analisar uma documentação, mas não sabia que a história envolvia dinheiro.
“Nunca o Jorge [Lorenzetti] falou a mim que tinha coisa referente a dinheiro”, reafirmou. Gedimar disse ter recebido duas sacolas com o dinheiro de duas pessoas estranhas, e disse não saber quem mandou entregar os recursos. “Eu não sei a origem do dinheiro. Foi o que eu falei, recebi pela circunstância da situação”.
A versão gerou contestação na CPI. “Eu posso desconhecer a identidade de quem pegou o dinheiro, mas não posso desconhecer a identidade de quem me mandou o dinheiro”, disse Jungmann. “Tudo esbarra na cirscunstância. Os senhores oferecem ao país uma explicação parcial e dizem que as circunstâncias são assim”, criticou Gabeira.
Gedimar disse que foi contratado pelo PT para trabalhar na campanha presidencial do partido. Em troca, receberia R$ 8.880 reais.
Ferida na canela
Gedimar voltou a falar da tortura de que teria sido vítima quando foi levado a um presídio de Cuiabá. Alguns parlamentares, porém, disseram não acreditar na versão do ex-policial. Irritado, Gedimar se levantou da bancada no plenário da CPI e mostrou uma ferida na canela direita, que teria adquirido quando ficou preso em uma cela do presídio Pascoal Ramos, em Cuiabá.
Análises do silêncio
Para o deputado Raul Jungmann, Gedimar Passos é alguém que atualmente "tem que ficar calado". “Sem dúvida, o Gedimar hoje é alguém que tem que ficar calado, porque se começar a falar vai ter problema”, afirmou. Para o deputado Fernando Gabeira, Gedimar não explicou à comissão a origem do dinheiro que seria utilizado para comprar o dossiê contra políticos tucanos por "medo". “Ele não explicou não porque não sabe, mas porque tem medo”, analisou. (Lúcio Lambranho e Diego Moraes)
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