O ex-governador e ex-deputado Anthony Garotinho (RJ) anunciou, nesta quarta-feira (17), sua saída do Partido da República (PR). Em um texto com fortes críticas ao comando da legenda, Garotinho protesta contra a dissolução do diretório fluminense do PR, presidido por ele, por determinação da executiva nacional. “Eu não sei se devo lamentar ou comemorar a decisão [de sair do partido]. Talvez seja a hora de eu me reencontrar com meus princípios históricos, os quais nunca abandonei: o nacionalismo, o trabalhismo e a defesa do povo”, escreveu em sua página no Facebook (veja a íntegra abaixo).
Garotinho diz que se filiou ao PR por falta de opção, em 2009, porque quase todas as legendas faziam parte da base do então governador Sérgio Cabral (MDB), e que o partido virou uma “sucursal do governo Temer”. Segundo ele, sua relação com a cúpula partidária estava desgastada por causa do apoio dado pela sigla à reforma trabalhista, à emenda constitucional que limita os gastos públicos e a reforma da Previdência.
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A executiva nacional responsabilizou o diretório fluminense pela perda de dois minutos e meio no horário a que o PR tem direito no rádio e na TV. Acusação que o ex-governador nega. Ele alega que foi sua votação e a de aliados que garantiram o atual montante de recursos do fundo partidário e do tempo de propaganda gratuita à legenda. “Aproveitaram um momento circunstancial, onde estou enfrentando a maior quadrilha da história do Rio de Janeiro, para me jogar ao vento”, protestou.
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Governador do Rio entre 1998 e 2002, Garotinho esteve preso por três vezes no último ano e meio. Na última vez, ele foi solto graças a um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). “Pra quem viveu a maior parte da sua vida discutindo e aprendendo política com Brizola, Darci Ribeiro, estudando o trabalhismo de Vargas, de Jango, lutando ao lado daqueles que defendem um país mais justo, passar um período no PR foi um ponto fora da curva na minha história”, declarou.
O ex-governador manteve a reunião do diretório fluminense prevista para esta quinta-feira. Mas, em vez de discutir a dissolução imposta pela executiva, definirá com seus aliados o futuro político do grupo. “Deixo o PR aliviado já que o partido hoje é uma sucursal do governo Michel Temer, que está entregando o Brasil, perseguindo aposentados, comprando deputados para aprovar reformas políticas, gastando bilhões para não ser investigado sobre as malas de Geddel Vieira Lima, as mutretas de Cunha, as maracutaias de Rodrigo Rocha Loures.”
No fim do ano passado, Garotinho passou três meses preso em decorrência de investigações da Operação Lava Jato. Nas outras duas vezes a acusação era de liderar um esquema de compra de votos no município de Campos dos Goytacazes (RJ), na gestão de sua esposa, Rosinha Garotinho, que também chegou a ser presa. Ela foi solta em novembro do ano passado.
O ex-governador diz que é vítima de perseguição por ter denunciado o esquema de corrupção orquestrado pelo ex-governador Sérgio Cabral na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Cabral e três membros da cúpula da Alerj – como Jorge Picciani, presidente da Assembleia – estão presos.
A última investigação que levou à prisão de Garotinho detectou e atribuiu ao ex-governador os crimes de corrupção, concussão (vantagem indevida decorrente do cargo), envolvimento em organização criminosa e fraude na declaração de contas de campanha. Segundo inquérito conduzido pela Polícia Federal, a empresa JBS (Grupo J&F) fechou contrato irregular com um grupo sediado em Macaé, município do interior do Rio, para serviços de informática.
As apurações da PF concluíram que os serviços não foram prestados e que o contrato, orçado em cerca de R$ 3 milhões, foi firmado apenas para dar ares de legalidade ao repasse ilícito de dinheiro empregado no pleito eleitoral.
Veja a íntegra do texto de Garotinho:
“Acabei de receber uma ata da Comissão Executiva Nacional do Partido da República dissolvendo a Comissão Executiva Regional Provisória do PR no Estado do Rio de Janeiro. As alegações não têm nada a ver com a realidade. Afirmam que a propaganda partidária nacional através de inserções, que foi transferida para o estado acabou gerando perda de dois minutos e meio do tempo que seria destinado ao partido a nível nacional. Isso já foi desmentido por mim desde o ano passado quando ficou consignado no acórdão do TSE que o partido perdeu o tempo de televisão por não destinar, a nível nacional, o tempo obrigatório para as mulheres.
O segundo motivo alegado pela direção nacional, leia-se Valdemar da Costa Neto, é que nas eleições de 2014 o PR elegeu seis deputados federais, segunda maior bancada do estado, e muitos saíram e que foram eleitos oito deputados estaduais, restando apenas dois “que têm sido ameaçados de forma pública pelo presidente do PR, Anthony Garotinho, de serem expulsos do partido.” É verdade. Expulsos porque se renderam à pressão de Sérgio Cabral, Picciani e à quadrilha do PMDB. Em 2014 o PR elegeu a segunda maior bancada de deputados federais, só ficando atrás do PMDB, que detinha a máquina estadual, da Prefeitura do Rio e a maioria das prefeituras. E mesmo assim, nossa coligação com o PROS elegeu oito deputados federais, seis do PR e dois do PROS.
A maior bancada proporcional do partido no país, já que São Paulo e Minas também elegeram seis. Só que São Paulo tem 70 cadeiras de deputados federais e o Rio, apenas 46. Em Minas, o número de vagas para deputado federal é bem maior que o Rio.
A ata também afirma que a situação da atual Comissão Provisória do Partido da República no estado é insustentável e que a proposta de dissolução da Comissão Executiva foi aprovada por unanimidade dos presentes. O senhor presidente esclareceu ainda “que entendia que nesse momento não deveria ser designada uma nova composição. Que, pela importância do estado do Rio de Janeiro e diante dos interesses partidários a nível nacional, entendia ser melhor aguardar as tratativas que vem sendo conduzidas pelas lideranças nacionais do PR, com vistas a oportunamente designar uma futura comissão executiva regional provisória do Partido da República no estado do Rio de Janeiro.” E foi acompanhado pela unanimidade dos presentes estando vacante a Comissão Executiva do PR/RJ, sem representatividade partidária por tempo indeterminado.
Agora, vamos à verdade. Minha ida para o PR foi em decorrência da compra dos partidos políticos pelo PMDB do Rio de Janeiro. Chegou a um momento que, no governo do estado, Cabral tinha o apoio de 13 partidos. Somados aos que apoiavam Eduardo Paes na prefeitura, esse número subia para 21. Me deixaram sem opção.
Outro fator que vinha causando intenso desgaste foi a opção do partido em fechar questão em temas que historicamente são inegociáveis para mim, especialmente a Reforma Trabalhista que rasgou a CLT de Getúlio Vargas, o desmonte do estado brasileiro através da limitação do teto de gastos públicos mas mantendo livre o gasto para pagamento aos bancos, a famigerada Reforma da Previdência que serve unicamente para prejudicar os trabalhadores brasileiros.
Já esperava por isso. A última vez que estive no PR, em Brasília, foi extremamente constrangedora. Na saída, me deparei com um prefeito eleito com o meu apoio levando a tiracolo Índio da Costa para obter o apoio do PR.
Aproveitaram um momento circunstancial, onde estou enfrentando a maior quadrilha da história do Rio de Janeiro, para me jogar ao vento. Não me conhecem. A fraqueza nunca foi uma das minhas marcas nem a traição, a falta de palavra. E, por isso, na última eleição, apesar de solitário e traído, obtive mais de 1 milhão e 600 mil votos e até hoje, passados quase oito anos, nenhum político conseguiu atingir a minha votação à Câmara Federal em 2010, quase 700 mil votos.
Pra quem viveu a maior parte da sua vida discutindo e aprendendo política com Brizola, Darci Ribeiro, estudando o trabalhismo de Vargas, de Jango, lutando ao lado daqueles que defendem um país mais justo, passar um período no PR foi um ponto fora da curva na minha história.
Eu não sei se devo lamentar ou comemorar a decisão. Talvez seja a hora de eu me reencontrar com meus princípios históricos, os quais nunca abandonei: o nacionalismo, o trabalhismo e a defesa do povo.
Lamento apenas ter sido informado pelo whatsapp, afinal, foram as minhas votações e dos candidatos que apoiei que deram ao partido o tempo de televisão que dispõe hoje e boa parte do fundo partidário.
Deixo o PR aliviado já que o partido hoje é uma sucursal do governo Michel Temer, que está entregando o Brasil, perseguindo aposentados, comprando deputados para aprovar reformas políticas, gastando bilhões para não ser investigado sobre as malas de Geddel Vieira Lima, as mutretas de Cunha, as maracutaias de Rodrigo Rocha Loures.
Portanto, quero comunicar aos meus companheiros que a reunião de quinta-feira, que seria do PR, às 14 horas, no Clube Municipal, na Rua Haddock Lobo, nº 359, na Tijuca, está mantida. Porém, com uma outra finalidade, discutir para onde o nosso grupo político vai caminhar nas próximas eleições. Vamos ver agora de que lado cada um vai se colocar nesse momento decisivo da história do estado do Rio e do Brasil. Se pensam que me abateram com mais essa apunhalada nas costas, estou tranquilíssimo, aliviado e consciente que nada, a não ser a vontade de Deus, me tirará das duas missões que coloquei como prioritárias na minha atividade política para este ano, devolver o estado do Rio ao nosso povo e lutar para o Brasil se livrar dessa gente, que não tem amor à nossa pátria, cujo único amor é pelo dinheiro.
O país precisa de pessoas corajosas e não covardes. Precisa romper acordos que há anos mantém o povo alijado do processo político. Isso custa caro; perseguições na justiça, censura com os meios de comunicação – inclusive impedindo de falar com o povo através da rádio, negociações das cúpulas partidárias para te deixar sem partido, estrangulamento financeiro… Mas nada disso diminui o meu ânimo em combater o bom combate para ‘passar o Brasil a limpo’.
Anthony Garotinho”
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