Campeão de votos do estado do Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados, com quase 300 mil votos, o deputado Fernando Gabeira é uma daquelas figuras políticas polêmicas. Defende o casamento gay, luta pela descriminalização da maconha e quer carteira assinada para prostituta.
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, o ex-guerrilheiro e deputado das minorias disse que descarta a opção de votar em Lula neste segundo turno e ressaltou que, no momento, tem mais diálogo com o candidato tucano Geraldo Alckmin. Mas afirmou que não faria campanha para o tucano
“No primeiro turno, votei no Cristovam (do PDT). No segundo turno, decidi não tomar uma posição pública no sentido de indicar um ou outro candidato. Eu já era oposição ao governo do PSDB quando votei no Lula (em 2002). O fato do governo do Lula ter desandado, não me faz necessariamente voltar ao período anterior à eleição dele. E sim desejar algo na frente”.
Gabeira também falou que o eleitor já deu um sinal de advertência a Lula. “Vai ser uma eleição muito difícil, é prematuro, está indefinido. O eleitor deu a ele no primeiro turno um recado, um sinal de advertência. Tudo vai depender da capacidade dele de se explicar, da consistência da explicação que vai dar”.
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Leia a entrevista:
O senhor esperava esse caminhão de votos?
Eu estava aberto para qualquer resultado, menos para perder as eleições, achava isso muito difícil.
Que recado o eleitor deu com a sua eleição?
Aqui no Rio, é o recado claro de que querem que eu continue a luta contra a corrupção. E, no caso de alguns setores mais informados, a luta por uma reforma política.
O senhor mudou o seu estilo. Era o deputado de causas que não tinham um grande apelo popular…
Marginais.
…Mas causas importantes, como a ecologia, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a descriminalização da maconha, mas que não davam muito voto. De repente, o senhor tornou-se um paladino da luta contra a corrupção. Como começou isso?
Começou com minha saída do PT, mas tudo ficou mais exposto com o enfrentamento do Severino (Cavalcante, ex-presidente da Câmara, que renunciou após denúncias de que recebia propina, o chamado mensalinho). Ali, na verdade, o que ficou claro para mim é que se eu continuasse defendendo as causas minoritárias, a casa ia cair na minha cabeça. O Congresso estava começando a ficar inviável.
O senhor esteve inclusive perto de não ser eleito em 2002.
Eu quase perdi a eleição, eu fui o último da lista. Eu fiz essa mudança porque estava impossível continuar sendo o que eu era no Congresso. Foi uma adaptação do discurso para poder sobreviver, não eleitoralmente, mas fazendo o meu trabalho. O Congresso estava a perigo.
E coincidiu com um momento terrível para o Congresso…
Exatamente. Saí na hora certa do PT, fiz essa mudança na hora certa. Fiz isso sem o apoio de muitos eleitores. Mas como fiz um bom mandato sendo o último da lista, espero fazer um mandato melhor agora sendo o primeiro.
No segundo turno no Rio, o senhor apoiará Sérgio Cabral Filho (PMDB) ou Denise Frossard (PPS)?
Eu votei na Denise no primeiro turno e votarei nela no segundo. O seu sucesso vai depender da campanha, que é curta, e dos debates. Ela (Denise) tem menos experiência de debates e menos flexibilidade política que o Sérgio Cabral. Vai ser difícil, mas tudo é possível.
O candidato do PT ao governo do estado, Vladimir Palmeira, disse que Denise era a direita do Rio. O senhor concorda com isso?
Esses termos não têm para mim o peso que tem para o universo do Vladimir. Ele, que é de esquerda, e os outros candidatos ditos de esquerda, tiveram um papel marginal nas eleições majoritárias. É sinal de que a população não está se definindo pelo crivo ideológico, mas está querendo um pouco mais de ética, de eficácia do governo.
O presidente Lula ganhou as eleições no Rio (49% contra 29% de Alckmin e 17% de Heloísa Helena). Como o senhor interpreta essa opção do eleitor fluminense?
É o resultado da proximidade com o Lula, mas também, se observarmos a votação da Heloísa Helena, concluiremos que a cidade continua protestando. É muito possível que esses votos de protesto voltados para ela, que não eram ideológicos, possam migrar para o Alckmin e a situação no Rio no segundo turno seja um pouco diferente. A população do Rio é muito antenada.
Em quem o senhor votou para presidente no primeiro turno e em quem vai votar agora no segundo?
No primeiro turno, votei no Cristovam (Buarque, do PDT). No segundo turno, decidi não tomar uma posição pública no sentido de indicar um ou outro candidato. Eu já era oposição ao governo do PSDB quando votei no Lula (em 2002). O fato do governo do Lula ter desandado, não me faz necessariamente voltar ao período anterior à eleição dele. E sim desejar algo na frente.
O senhor descartaria votar no Lula?
Eu descarto, descarto… No momento, tenho mais diálogo com o Alckmin.
Faria campanha para o Alckmin?
Não, não, eu sou um deputado de oposição a essas duas forças.
O senhor acha que o presidente se reelege?
Vai ser uma eleição muito difícil, é prematuro, está indefinido. O eleitor deu a ele no primeiro turno um recado, um sinal de advertência. Tudo vai depender da capacidade dele de se explicar, da consistência da explicação que vai dar.
O país sai dividido das urnas?
O país sai dividido, o estado sai dividido e o município sai dividido em todas as eleições, na medida em que há um ganhador e um perdedor. O Alckmin teve votos nos estados onde o Lula venceu e vice-versa. Essa tese do país dividido é discutível. Alguns caminharam democraticamente para um lado, outros para o outro, o que não significa um país de inimigos, em que os estados do Nordeste vão se opor aos do Sul ou algo assim.
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