Em delação premiada firmada com o Ministério Público Federal (MPF), o operador financeiro do PMDB Lúcio Bolonha Funaro afirmou ter repassado R$ 11,4 milhões, em mãos, ao ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima. Os repasses foram realizados entre 2014 e 2015, em dinheiro vivo, por meio de 11 entregas. A informação foi publicada pela revista semanal Veja, que teve acesso à delação do doleiro.
Nos relatos aos procuradores, Funaro conta como funcionava a entrega de malas de propina a Geddel que, de acordo com ele, “demonstrava naturalidade ao receber os valores”. O operador financeiro disse que os pacotes de dinheiro eram levados em um jato particular e entregue ao próprio ex-ministro em um hangar privado do Aeroporto Internacional de Salvador. De acordo com o doleiro, também foram realizadas entregas em hotéis de São Paulo e da capital baiana. Um dos repasses, inclusive, foi feito na festa de 15 anos da filha de Geddel.
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Em 2014, Funaro diz ter realizado nove entregas de dinheiro a Geddel, sendo uma de R$ 600 mil, outra de R$ 500 mil em fevereiro, R$ 800 mil em março, R$ 1 milhão em maio, R$1 milhão em julho, R$ 1,5 milhão em agosto, R$ 3,2 milhões em setembro, R$ 1,2 milhão em outubro e R$ 500 mil em dezembro. Já em 2015, foram duas entregas de R$ 500 mil cada.
De acordo com Funaro, nos governos do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, o grupo do PMDB da Câmara apoderou-se de cargos estratégicos no banco. Na época, os peemedebistas usavam a influência política para favorecer empresários dispostos a pagar milionárias propinas para acessar as linhas de financiamento da Caixa.
“Ora Lúcio Funaro ora Eduardo Cunha faziam os contatos com empresários interessados em obter empréstimos junto ao banco. Depois de negociar os valores da propina, Cunha negociava a liberação dos recursos com Geddel, que ocupava a vice-presidência de Pessoa Jurídica do banco. Quando o dinheiro saia, a propina era paga às empresas do doleiro Lúcio Funaro, que providenciava a partilha da propina”, diz trecho da reportagem.
De acordo com o doleiro, o primeiro pagamento de propina a Geddel foi realizado depois de o peemedebista ter favorecido o empresário Joesley Batista, da J&F, em um negócio de R$ 300 milhões. Ele conta que as entregas, com o tempo, se tornaram cada vez mais constantes. “A rotina de entregas seguiu firme e forte mesmo depois da deflagração da Operação Lava-Jato. Lúcio conta que não interrompeu o esquema porque ele e Geddel acharam que as investigações da Lava-Jato na Petrobras não iriam se expandir para outros setores do governo. O esquema mudou quando Lúcio passou a figurar como potencial alvo da polícia. O delator conta que, um pouco antes de ser preso, recebeu um recado de Geddel para que interrompesse os pagamentos”, relata a reportagem.
O doleiro narra em ainda, em detalhes, como funcionou o propinoduto na Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, entre 2011 e 2015, período em que Geddel comandou a repartição. Funaro descreve o ex-ministro, “amigo e interlocutor de Temer”, como um “forte arrecadador de doações e propinas”.
Geddel foi preso nesta sexta-feira (8). O ex-ministro estava em prisão domiciliar desde 12 de julho. Os policiais chegaram ao apartamento de Geddel antes das 6 horas no bairro Jardim Apipema, em Salvador, para cumprir ordem da 10ª Vara Federal de Brasília. A prisão ocorre dois dias após a PF localizar um apartamento com R$ 51 milhões, distribuídos em malas e caixas, que havia sido emprestado por um empresário ao ex-ministro. Essa foi a maior apreensão de dinheiro vivo na história do país. Foram identificadas impressões digitais do peemedebista em cédulas apreendidas no “bunker”.
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Geddel havia sido preso em 4 de julho, acusado de tentativa de obstrução de Justiça em meio às ações da Operação Cui Bono. Uma semana depois, por meio de habeas corpus concedido pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, passou para a prisão domiciliar. Em seu luxuoso apartamento, permaneceu sem tornozeleira eletrônica. O dispositivo está em falta no estado.
Além das digitais, a Polícia Federal reuniu outros indícios de que o ex-ministro é o dono da fortuna guardada em caixas e malas. O proprietário do imóvel e outra testemunha confirmaram que o apartamento estava sob os cuidados dele. Também foi identificada uma pessoa suspeita de ajudar Geddel a transportar o dinheiro. Após 14 horas de contagem em máquinas, a PF concluiu que havia ali R$ 42.643.500 e US$ 2.688.000. Feita a conversão, a quantia apreendida totaliza R$ 51.030.866,40.
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