Marcos Magalhães* |
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Em pouco mais de três meses, o vendaval político que devasta o país já levou pelos ares reputações, desmontou mitos, desconstruiu todo-poderosos e espalhou incertezas. Como ninguém sabe em que direção soprarão os ventos, nem em que direção, fica cada vez mais difícil prever que pequenas fotos estarão à espera dos eleitores nas urnas eletrônicas de 2006. Ruim? Nem tanto: a multiplicidade de opções possíveis permite que se desfulanize a discussão do futuro. A regra tem sido outra. O primeiro plebiscito sobre o sistema de governo não teve como fugir da discussão sobre o governo de João Goulart. Os militares não queriam as diretas por causa do medo da eleição de Leonel Brizola. E o segundo plebiscito para a escolha do modelo político do país, em 1993, colocou no mesmo palanque antigos desafetos em defesa de seus próprios projetos de poder. Leia também A discussão sobre o parlamentarismo pode voltar em 2007. Mas dois outros temas teriam espaço desde já na esvaziada agenda política: a extensão dos mandatos e o fim da reeleição. Como ninguém sabe ainda quem serão os candidatos a presidente em 2006 e muito menos conhece as chances de cada um, ninguém tampouco vai poder se queixar de que tem alguma armadilha pela frente. A começar pelo presidente Lula. Se ele conseguir superar toda a crise política e convencer os brasileiros de que ele merece uma nova chance, de qualquer forma esta chance seria a última de uma série. Ou seja, ele não poderia disputar um terceiro mandato seguido. Por isso, o fim da reeleição não teria como prejudicar seus planos. Além disso, ele teria pela frente – se for reeleito – mais quatro anos de governo. A ampliação do mandato só poderia lhe colocar no colo mais um ou dois anos no poder. Na oposição, existem muitos candidatos a anti-Lula. Mas nenhum deles tem garantido o caminho até as convenções partidárias que escolherão as chapas para as eleições presidenciais. O PSDB pode ir de José Serra, é verdade. Mas também tem na disputa nomes como Geraldo Alckmin, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. Pelo menos quatro nomes são lembrados para as primárias do PMDB. E o PFL ainda não indicou claramente se terá mesmo candidato no ano que vem. Qualquer desses pré-candidatos poderia lamentar o fim da reeleição, pela desmontagem antecipada de um projeto de longo prazo. Mas também poderia celebrar a ampliação do próximo mandato, em um ambiente político aparentemente marcado por uma competição mais ampla, mais diversificada e menos receptiva a novos mitos. Além disso, a defesa da reeleição neste momento não poderia ser vista como arma contra ninguém – porque ninguém é favorito a nada, pelo menos até agora. Poucas vezes temas tão polêmicos, como a ampliação do mandato presidencial e o fim da reeleição, tiveram chance como esta de ingressar na agenda nacional sem a companhia das paixões políticas. Governo e oposição não teriam por que promover uma nova guerra nesse caso. Nem por que fechar questão contra ou a favor da extensão dos mandatos – para cinco ou seis anos – e da proibição da busca de dois mandatos consecutivos. O maior adversário da inclusão desse debate na agenda imediata do país, porém, é a própria crise. A multiplicidade de denúncias e investigações promete ocupar o espaço político nos próximos meses. Pode não sobrar tempo ou disposição para se encarar uma discussão sobre o destino do próximo presidente da República. Se isso acontecer, o país poderá ter perdido uma boa chance de conquistar algum dividendo de toda essa situação. * Jornalista profissional desde 1982, trabalhou no Jornal do Brasil, na Gazeta Mercantil, na Agência Estado e nas revistas Veja e IstoÉ. É mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra). |
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