Gilvander conta que começou a receber ameaças há 15 anos. Mas as intimidações ficaram mais graves nos últimos dois anos. Após acompanhar a desocupação de uma terra em Itabira, foi aconselhado a nunca mais pisar na região. “Gravei vídeos, reuni fotos, escrevi sobre o terrorismo de Estado em cima dos mais pobres. No telefone, diziam que eu seria morto”, diz.
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No segundo semestre do ano passado, nova onda de ameaças. De telefones públicos instalados na zona sul da capital mineira, uma voz masculina sussurrava: “Seus dias estão contados. Você vai amanhecer com a boca cheia de mosquitos”. Frei carmelita há 29 anos e padre há 19, Gilvander acompanha mais de dez ocupações urbanas na região metropolitana de Belo Horizonte. Há dois anos integrado ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, o religioso não tem escolta policial, mas recebe apoio psicológico.
Para ele, no entanto, o programa ainda é falho. “Precisaria ter mais fôlego e o principal: atacar as causas das ameaças. As reformas agrária e urbana não saem. A política habitacional é injusta, só beneficia os grandes construtores. O povo fica imprensado”, considera.
As lutas do frei não se resumem à moradia e à terra. No ano passado, um juiz mandou prendê-lo por ele divulgar na internet um vídeo em que associava a elevada incidência de câncer em Unaí (MG) ao uso excessivo de agrotóxico no feijão produzido na região. Graças a um recurso, Gilvander não foi preso e acabou absolvido. Mas o caso, que envolve também o Google e o YouTube, que não retiraram o vídeo do ar imediatamente, ainda corre na Justiça.
Ele responde ainda a um processo canônico no Vaticano, que pode lhe render a expulsão da Igreja por ter defendido o direito dos homossexuais de se unirem civilmente. “Defendo direitos humanos de todas as minorias oprimidas, os negros, os índios, os homossexuais. Seria incoerente defender a dignidade dos sem-terra e ser cúmplice dessa imensa homofobia”, afirma. Com a ascensão do Papa Francisco, que tem se revelado menos conservador em relação ao tema, o frei de 50 anos acredita que escapará da punição eclesiástica.
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