A disputa presidencial de 2006 deu margem, inclusive aqui no Congresso em Foco, a protestos os mais variados. A falta de bons candidatos, o baixo nível dos debates e da propaganda eleitoral, a absoluta ausência de propostas concretas capazes de conduzir o país a dias melhores foram algumas das reclamações feitas por leitores, articulistas e até mesmo por nós, discretos integrantes da equipe fixa do site.
Mas, digam o que quiser, se a campanha não possibilitou um debate dos mais iluminados ou uma disputa das mais edificantes, pelo menos deixou muitas frases saborosas. Algumas, por sua graça. Outras, pelo conteúdo revelador. Sem falar daquelas marcadas pelo non sense. A seguir, alguns exemplares desses diversos tipos.
Chuchu é uma ova
No segundo turno, numa estratégia que terminou lhe custando caro, o habitualmente cordial Geraldo Alckmin (PSDB) foi, em vários momentos, uma fábrica ambulante de som e fúria. Recordemos…
"Quanta mentira. Como o Lula mudou. As CPIs só saíram porque o Roberto Jefferson contou a verdade". (no debate na Bandeirantes, dia 8 de outubro, após Lula afirmar que não fez nada para impedir a apuração de irregularidades durante o seu governo)
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"Tem maioria para absolver mensaleiro, mas não tem para aprovar o Fundeb". (criticando a atuação do governo Lula na área educacional, no mesmo debate)
"Sob o ponto de vista ético, nós retrocedemos à idade das pedras, ao invés de se avançar na política, no princípio e em valores". (em sabatina promovida pelo jornal O Estado de S. Paulo no último dia 26)
"Eles criaram a Mentirobrás, porque é uma mentira atrás da outra". (no dia 13, em campanha, negando a intenção de privatizar estatais ou abandonar o Bolsa Família)
"Não meça as pessoas pela sua régua!". (no debate da Bandeirantes, após Lula dizer que ele não permitiu o funcionamento de CPIs e citar irregularidades durante sua gestão em São Paulo)
"Eu vou cortar gastos, sim. Vou cortar nos R$ 3,5 bilhões das compras superfaturadas e nos mais de 20 mil companheiros de partido em cargo comissionado". (também no debate da Bandeirantes)
"Ele sabe tudo sobre o governo Fernando Henrique, é pena que não saiba nada do seu governo". (idem)
"O presidente da França não tem avião, o primeiro-ministro da Inglaterra não tem avião, até o papa não tem avião". (no debate da Band, no qual prometeu vender o Aerolula e usar o dinheiro para construir cinco hospitais)
"Estava parado na garganta de todo mundo. Fui instrumento do povo". (ao falar sobre sua performance no debate na Bandeirantes, no dia seguinte)
Garoto esperto
Ora tropeçando na concordância, ora disparando frases sem sentido, ora desferindo golpes certeiros no adversário, Lula brindou o segundo turno com declarações memoráveis. Algumas delas…
"A democratização dos meios de comunicação passa pela democratização dos meios de comunicação". (em debate na Record, no último dia 23)
"Ao invés de eles ficarem com tanta bronca de mim, eles deveriam pedir a Deus que eu ganhasse para eu poder deixar o Brasil muito melhor" (em comício na zona leste de São Paulo, dia 22)
"Humildemente, sei que estamos longe de fazer o que deveríamos ter feito. Humildemente, sei que erramos, sei que fizemos coisas erradas. Mas com tudo que erramos, o país melhorou comparando com os oito anos deles" (Lula, no último comício de campanha, em São Paulo, dia 26)
"Enquanto eles fazem uma campanha de ódio dividindo o Brasil, nós estamos unindo a nação num projeto de futuro em que há lugar para todos. Nós estamos combatendo a corrupção em todas as frentes, mesmo que para isso a gente tenha que cortar na própria carne e deixar nosso governo exposto muitas vezes às críticas oportunistas" (no primeiro programa eleitoral do segundo turno, no dia 12)
"Pelo amor de deus. Que o povo de São Paulo não ouça, que vai pensar que vai ter um PCC no Brasil inteiro". (no debate da Bandeirantes, dia 8, quando Alckmin prometeu levar para todo o país a experiência que teve em São Paulo no combate à violência)
"Antigamente o que se fazia neste país era levantar o tapete e jogar toda a sujeira embaixo. Eu desde pequeno ajudava a minha mãe a limpar a casa e a gente levantava o sofá para varrer. No governo de vocês não faziam isso". (no mesmo debate)
"Não sei porque você está assim tão nervoso, Alckmin. Isso nem combina com você". (idem)
"Vá com cuidado, vá devagar. Na frente dessa câmera tem gente inteligente assistindo. Procure se informar sobre o que fizemos, reconheça o que está sendo feito. Não se apequene, Alckmin. Tenha visão de Brasil. Veja o que foi feito e diga que a partir daí você vai fazer mais". (idem)
"Ontem, pensei que não estava na frente de um candidato, mas de um delegado de porta de cadeia. O debate político poderia ter fluído pelas soluções do governo brasileiro. O povo não quer ouvir xingamento, quer saber o que o candidato pode fazer para melhorar a vida dele" (no dia seguinte ao debate na Bandeirantes)
Palavras do príncipe
Mantido cuidadosamente à distância do comitê de Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique não parou de falar durante toda a campanha. Mas, ao mirar a pontaria em Lula, diversas vezes, o chamado príncipe dos sociólogos brasileiros terminou atingindo seus correligionários do PSDB.
"Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar." (em carta divulgada em 8 de setembro)
"Foi um erro ter tapado o sol com a peneira". (na mesma carta, ao dizer que o PSDB errou ao proteger o seu presidente nacional, o senador mineiro Eduardo Azeredo, acusado de receber dinheiro de caixa dois de Marcos Valério)
"Lula não ameaça os banqueiros. Pelo contrário. É ao mesmo tempo o pai dos pobres e a mãe dos ricos" (entrevista ao jornal francês Libération, em 25 de outubro)
"Em 98, eles falavam o diabo e eu nem gosto de repetir porque é técnica do nazista, que mente, mente, até que pega. E pega mesmo. Hitler foi eleito assim, mas teve um na Itália que não foi. O Berlusconi não foi, mas é o mesmo estilo de Goebels [responsável pela propaganda nazista]". (no Clube Pinheiro, em São Paulo, em almoço promovido no último dia 23 em apoio à candidatura de Alckmin)
A artilharia lulista
"Todos aqueles que acham que o candidato vai virar, nós também achamos que ele vai virar, mas de bruços". (o ministro das Comunicações, o peemedebista Hélio Costa, dia 23, sobre Alckmin)
"Existem grandes bestas políticas com doutorado e pós-doutorado. Essa tentativa de desqualificar o eleitorado, de que os ignorantes votam no Lula, não resiste nem às pesquisas". (Marco Aurélio Garcia, coordenador da campanha de Lula, em 26 de outubro)
"De técnicas nazistas e fascistas, eles é que entendem" (Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais, em resposta às críticas de FHC)
"Tudo o que ele tinha eram pegadinhas do Faustão" (do governador eleito da Bahia, o petista Jaques Wagner, no dia 9, sobre o comportamento de Alckmin no debate da Bandeirantes)
"Os alckmistas que se empolgaram com a pimenta no chuchu agora estão com os olhos ardendo". (a senadora catarinense Ideli Salvatti, líder do PT no Senado, quando as pesquisas mostraram o crescimento de Lula no segundo turno)
Mamãe, eu choro
"O programa do Alckmin é inferior ao do Lula. Ele insistiu em uma fórmula repetitiva, sem emoção, indignação e criatividade. Nesta reta final, eu esperava o contrário. Desse jeito fica difícil atingir o público que nós precisamos atingir". (senador Álvaro Dias, do PSDB-PR, dia 25)
"Alckmin foi um ótimo candidato. O problema dele foi Lula". (do senador José Jorge, PFL-PE, candidato a vice na chapa de Alckmin, durante o debate na Globo, na noite do dia 28)
Acarajé em chamas
Na eleição presidencial de 2002, o senador pefelista Antônio Carlos Magalhães preferiu apoiar Lula do que embarcar na candidatura do tucano José Serra. Em 2006, na condição de um dos críticos mais ferozes da administração petista, ficou com Alckmin. E, com o prazer de sempre, trocou acusações públicas com Lula.
"Porque tem alguém aqui na política da Bahia que não gosta de mim, mas era porque ele tava acostumado a chegar na mesa do presidente e dar tapa na mesa. Uma vez, ele foi chamado pelos outros de o leão do Nordeste. Se para alguns ele era o leão do Nordeste, pra mim, ele é o hamster do Nordeste". (Lula sobre ACM, em comício na Bahia)
"Estou mais para gato caçador de rato ladrão do dinheiro público do que para hamster. Não conheço hamster, só ouvi falar. Até porque estou mais acostumado em combater os grandes ratos. E a cada dia fica mais confirmado que Lula é um roedor implacável, incontrolável para si e para seus familiares" (respondeu ACM)
Mistura fina
"Há no PT a idéia de que ou você é petista ou é calhorda, assim como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro" (Chico Buarque, em maio, durante entrevista para o lançamento de seu último disco)
"Não é possível fazer política sem botar a mão na merda". (Paulo Betti, ator, durante encontro com Lula e outros artistas, na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Rio, em agosto)
"Ao réu é dado o direito de mentir. Então, não acho que o réu petista seja diferente de outros réus. Atestado de idoneidade não vem com ficha de filiação partidária". (Jaques Wagner, PT, ex-ministro da Articulação Política de Lula e governador eleito da Bahia)
"Temperaram um pouco o chuchuzinho e ficou bom". (Clodovil sobre o estilo mais agressivo do candidato tucano, no dia 10)
"Recebi pressão dos vagabundos do PT por não ter declarado apoio ao vagabundo do presidente". (senadora Heloísa Helena, do Psol, no início da campanha de segundo turno)
"Vamos livrar o país dessa raça pelos próximos 30 anos". (do presidente nacional do PFL, o senador catarinense Jorge Bornhausen, ao prever o fracasso eleitoral do PT, ainda em 2005, durante o auge da crise do mensalão)
Frente a frente
No debate na Bandeirantes, dia 8:
"Não teve nem a curiosidade de perguntar para o seu churrasqueiro de onde veio o dinheiro? Não precisa torturar para saber de onde veio o dinheiro. É só perguntar para o PT. É só chamar os seus amigos de 30 anos e perguntar". (Alckmin)
"Eu quero saber mais. Quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico, quero saber o conteúdo do dossiê, quero saber de onde veio o dinheiro, quem fez essa negociata porque o único ganhador nesse trambique todo foi a candidatura do meu adversário". (Lula)
No debate do SBT, no último dia 19:
"Esta campanha vai se tornar a campanha de uma nota só". (Lula, quando Alckmin retomou o tema da ética)
"De uma não, de um milhão e setecentas mil notas". (Alckmin, em referência ao dinheiro que seria usado para a compra do dossiê Vedoin)
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