Diego Moraes
Após levantar os 26 depositantes apontados pela CPI dos Correios como possíveis financiadores do caixa dois petista, operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o Congresso em Foco entrou em contato com as empresas que mais repassaram recursos para as contas das agências SMP&B e DNA (leia mais).
Usiminas, Fiat, Telemig Celular, Amazonia Celular e Visanet, operadora dos cartões Visa no país e que tem o Banco do Brasil como sócio, afirmaram que o dinheiro foi depositado para quitar despesas de serviços de propaganda. Todas eram clientes do empresário entre 2003 e 2004, período em que foram registrados os repasses.
O sub-relator de Movimentação Financeira da comissão, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), promete para hoje a apresentação de um relatório parcial que descreverá as principais fontes que podem ter alimentado o valerioduto. O tucano diz ter em mãos elementos que desmontam a versão de que os repasses a parlamentares da base aliada tiveram como origem empréstimos bancários, como sustentam Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O sub-relator vai pedir, inclusive, o indiciamento dos dois por crime contra o sistema financeiro e a ordem tributária.
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Ontem, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), confirmou a existência de cópia de notas fiscais frias que a DNA Propaganda teria emitido para justificar serviços prestados à Visanet/Banco do Brasil e à Amazônia Celular. As duas empresas afirmaram que não fizeram pagamentos à agência de publicidade referentes às notas analisadas pela Receita Federal. A DNA alega que as notas foram canceladas.
Com base em extratos bancários das aplicações financeiras pela DNA em 2004, Serraglio apresentou novos documentos para comprovar que pelo menos R$ 10 milhões pagos pela Visanet/Banco do Brasil à agência abasteceram o valerioduto. Os papéis, segundo o relator, confirmam que, três dias depois de receber um adiantamento de R$ 35 milhões da Visanet, a empresa aplicou o dinheiro no BB.
Pouco mais de um mês depois, a DNA teria transferido R$ 10 milhões dessa conta para o BMG. O montante teria sido usado como garantia para um empréstimo de mesmo valor concedido a um dos sócios de Valério. O empréstimo, de acordo com a contabilidade do empresário, foi repassado ao PT.
Mesmo não tendo depositado dinheiro nas contas de Valério, a Telemar, operadora de telefonia fixa, também está na mira da CPI. A companhia comprou, por R$ 5 milhões, parte de uma empresa recém-criada pelo filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Telemar reafirmou ao Congresso em Foco que não há nenhuma irregularidade em relação ao negócio. O único questionamento, já resolvido, foi com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que fiscaliza sociedades de capital misto no país. Segundo a assessoria de imprensa da operadora, a CVM considerou a transação legal depois de analisar a documentação do processo.
Confira a justificativa de cada uma das empresas para os depósitos feitos nas contas de Marcos Valério:
Usiminas
A assessoria de imprensa da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) informou que os depósitos feitos nas contas do empresário Marcos Valério, que somam mais de R$ 13,6 milhões, são referentes a gastos com publicidade.
A versão da Usiminas é a mesma apresentada quando a CPI identificou a transferência de recursos da companhia para as contas da SMP&B, uma das agências de Valério, com a qual tinha contrato. A empresa afirma ter notas fiscais que podem comprovar a prestação dos serviços de publicidade.
A Usiminas está no foco das investigações desde que o deputado Roberto Brant (PFL-MG) apareceu como beneficiário de um saque nas contas de Valério na conta da SMP&B no Banco Rural, em Brasília. O pefelista afirmou que o dinheiro era uma doação feita “por fora” pela empresa para quitar dívidas pendentes de sua campanha de 2002.
Do total depositado pela companhia nas contas de Valério, R$ 2,431 milhões foram parar na “conta-mãe”. Segundo o sub-relator de movimentação Financeira da CPI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), nessa conta eram concentrados os recursos que, depois de passar por 68 contas em 13 bancos, iam para o caixa dois do PT.
Telemig Celular/Amazônia Celular
Controladas pelo Grupo Opportunity, as duas empresas argumentam que, desde setembro deste ano, não utilizam mais os serviços da DNA Propaganda, do empresário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão. A Telemig Celular tinha contrato com a agência desde 1998 e a Amazônia Celular passou a integrar a cartela de clientes do empresário em 2001.
Segundo a assessoria de imprensa das duas operadoras, os recursos repassados às contas de Valério são referentes apenas a serviços de publicidade, todos comprovados em notas fiscais emitidas pela DNA e pela SMP&B, outra agência do empresário, com a qual também tinham contrato.
A assessoria informou ainda que toda a documentação contábil da empresa relativa aos serviços prestados pelas empresas de Valério foi enviada à CPI dos Correios antes mesmo de uma solicitação formal por parte dos parlamentares.
De acordo com dados da CPI, a Telemig Celular depositou cerca de R$ 97,5 milhões entre 2003 e 2004 nas contas de Valério. Durante o mesmo período, a Amazônia Celular repassou R$ 34,29 milhões ao empresário.
Fiat
A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria da empresa por telefone, mas não obteve sucesso até o fechamento da edição. A Fiat depositou R$ 14,6 milhões nas contas do empresário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão. O escritório regional da montadora em Brasília informou que a versão da multinacional para os depósitos é a mesma da época em que a informação veio a público: todo o dinheiro foi repassado para quitar despesas de publicidade. A montadora tinha contrato com a DNA Propaganda, uma das agências de Valério.
O escritório regional, porém, preferiu não comentar a licitação dos Correios, realizada em 2002 para a compra de furgões, que teve a Fiat como única participante. Em depoimento à CPI, o ex-chefe do Departamento de Contratação dos Correios Maurício Marinho disse que a licitação foi superfaturada. O contrato entre os Correios e a montadora foi fechado em R$ 34 milhões. A assessoria de imprensa da Fiat informou, na época do depoimento do ex-diretor, que não existem vínculos entre o contrato com a estatal e o relacionamento comercial da montadora com a DNA.
Banco do Brasil
A instituição, responsável pelos pagamentos da Visanet, operadora dos cartões Visa no Brasil, ao empresário Marcos Valério por serviços de publicidade não prestados, informou que o adiantamento está devidamente registrado com base em notas fiscais.
Segundo a instituição, dos R$ 9,1 milhões adiantados à DNA Propaganda, R$ 2,8 milhões são sobras de 66 ações de marketing que ainda não haviam sido pagas. Outros R$ 4,9 milhões referem-se a serviços executados pela DNA com nota fiscal. O restante – R$ 1,3 milhão – teria servido como adiantamento para trabalhos futuros.
O Banco do Brasil detém 31,9% das ações da Visanet e é o responsável por orientar pagamentos dos serviços de publicidade da operadora, quando envolvem serviços do banco. Ontem, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), divulgou documentos que comprovariam que os R$ 9,1 milhões adiantados pelo BB foram parar no caixa dois do PT, financiado com recursos de Valério.
Telemar
A operadora de telefonia fixa alega que não houve irregularidades na transação comercial com a Gamecorp, empresa que tem como sócio um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Telemar antecipou R$ 5 milhões para a compra, junto com outros dois sócios, da empresa.
A assessoria de imprensa informou que a operadora não está comentando o assunto, até porque não há nenhuma acusação formal em relação à operação feita com a Gamecorp. Segundo a assessoria, apenas a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), responsável por fiscalizar empresas de capital aberto no país, pediu esclarecimentos a respeito da transação e teria ficado satisfeita com a documentação apresentada pela Telemar.
A operadora alega ainda que não houve repasse de recursos, mas sim a constituição de um grupo para a compra da empresa do filho de Lula. A Gamecorp produz um programa especializado em jogos eletrônicos que é transmitido em redes de TV a cabo e em canais abertos.
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