Rodolfo Torres
Filho de um palestino de Haifa e neto de libaneses por parte de mãe, o deputado Mauro Nazif (PSB-RO) defende que o governo brasileiro adote “medidas mais drásticas” contra o que ele classifica como “holocausto” promovido pelo Exército de Israel em Gaza. Desde o início da ofensiva, em 27 de dezembro, cerca de 1.100 palestinos já foram mortos – a maioria deles, civis.
Nazif adianta que, assim que os trabalhos no Congresso forem retomados, a partir de fevereiro, tratará de repudiar a ação militar de Israel. Na segunda-feira (12), o presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), divulgou nota manifestando “consternação” diante do conflito (leia mais).
“Eu entendo que o Brasil deva sentar, discutir entre seus parlamentares e o presidente da República. A partir do momento em que nós estamos vendo um holocausto – e para não ter que pedir um perdão daqui a 50 anos – medidas mais drásticas deveriam ser tomadas agora”, avalia.
O parlamentar cita a Venezuela como exemplo de um país que adotou uma medida enérgica contra o Estado judeu. Na semana passada, o presidente Hugo Chávez expulsou o embaixador israelense. Em contrapartida, Israel também expulsou o representante venezuelano.
“Não estou discutindo aqui a questão da Venezuela em si, se a Venezuela é um país democrático, se está vivendo uma ditadura… Eu não discuto essa questão da Venezuela. Mas eu entendo que todos aqueles que são pela paz, que querem resolver, devem tomar medidas mais drásticas do que apenas ficar observando: ‘Olha, Israel está agredindo’”.
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Porta-voz de Israel rebate
Por sua vez, o porta-voz da Embaixada de Israel em Brasília, Raphael Singer, destaca que, apenas em 2008, cerca de 2.900 mísseis foram disparados de Gaza pelo grupo islâmico Hamas contra o Estado israelense. “Essa situação é intolerável”, disse ao Congresso em Foco.
Singer também questiona se a ação de um outro Estado diante de ataques semelhantes não seria a mesma. Para ele, a atitude de Israel é a única opção diante de tal cenário. “Infelizmente, o Hamas usa a população civil como escudo humano.”
Católico, Mauro Nazif afirma que nunca visitou a Palestina e que sua relação com aquele povo não é política, mas exclusivamente familiar. Jamil Nazif Rasul, pai do deputado, desembarcou logo após a 2ª Guerra Mundial no estado do Rio, onde se casou com Uadia Simão Rasul, filha de libaneses.
Para Nazif, enquanto o problema da terra não for solucionado entre palestinos e judeus, o confronto não acabará. “Na hora que resolver essa questão da terra, pode ter certeza de que essa questão entre Palestina e Israel estará resolvida. Enquanto não houver essa devolução da terra ao povo palestino, essa paz nunca vai existir”, ressalta o deputado, que é médico e está em seu primeiro mandato na Câmara.
“Holocausto”
Segundo organismos internacionais que atuam na ajuda humanitária na região, mais de mil civis palestinos foram mortos em ações militares israelenses, que tiveram início no final de dezembro passado.
“O que Israel está fazendo hoje é um abuso, é uma agressão muito violenta. E, na verdade, passa a ser até um holocausto ao povo palestino”, afirma o deputado. “Aquilo que foi feito na época da segunda guerra contra o povo de Israel; Israel hoje faz de intensidade igual, ou até maior, com o povo palestino.”
Por sua vez, Raphael Singer, rechaça qualquer comparação entre as ações militares de Israel em Gaza e o holocausto contra o povo judeu na Alemanha de Hitler. Para ele, tal paralelo é motivado pela “ignorância” ou pelo “ódio”.
“Lamentamos que pessoas cheias de ódio façam essa comparação”, afirma. “A população judaica não declarou que quer acabar com a população palestina. Entregamos Gaza para os palestinos construírem suas vidas”, complementa. O porta-voz diz que genocídios ocorrem atualmente em países como Sudão, Somália e Congo, sem a menor atenção da imprensa mundial.
O Congresso e o conflito
Além de Garibaldi, outros dois parlamentares brasileiros criticaram a ação do Exército de Israel em Gaza. Um deles é o atual presidente do Parlamento do Mercosul, deputado Dr. Rosinha (PT-PR). Segundo o deputado paranaense, Israel deveria sofrer “sanções econômicas imediatas pelos demais países e pelos blocos da comunidade internacional” (leia mais).
Ao Congresso em Foco, Dr. Rosinha afirmou que atuará contra a aprovação do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e Israel, assinado em dezembro de 2007, e que ainda tramita no Congresso. "O texto atual da Constituição brasileira não permite que o Legislativo venha a vetar um acordo, mas podemos deixá-lo simplesmente na gaveta ou, no caso específico deste com Israel, podemos inserir limitadores."
Outro deputado que critica a ação militar israelense é Pompeo de Mattos (PDT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. De acordo com nota divulgada pelo colegiado, “Israel agride a consciência internacional pública e ofende a Organização das Nações Unidas” (leia mais).
“Num mundo regido por padrões humanitários, apenas as ações diplomáticas podem equacionar os conflitos, e não há por que tratar a questão da Palestina de outra forma. Propagar que o problema é intratável serve apenas para justificar os ataques de uma das forças militares mais poderosas do mundo contra a resistência palestina sem condições reais de confronto. Essa absoluta desigualdade de força militar, o emprego por Israel de armas de grande poder destrutivo, o cerco cruel à população civil, o impedimento de cobertura da imprensa, constituem afronta ao direito internacional, à Convenção de Genebra e aos princípios fundamentais dos direitos humanos”, afirma trecho da nota assinada pelo deputado em nome da comissão.
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