Fábio Góis
Uma discussão marcou os últimos instantes da sessão não deliberativa realizada nesta quinta-feira (18) no Plenário do Senado. Apenas três senadores estavam presentes. Um deles, Magno Malta (PR-ES), travou uma discussão com a secretária-geral da Mesa, Claudia Lyra, que o questionava sobre um requerimento protocolado momentos antes. Depois da formalização, Magno foi comunicar o fato a Paulo Paim (PT-RS), que presidia a plenária: neonazistas do Rio Grande do Sul estariam tramando, por meio da internet, o assassinato do senador gaúcho, que é negro e conhecido pela defesa das minorias.
Segundo Magno, a tal trama de homicídio está em curso por meio do endereço eletrônico (blog) retaliacaobrutal.blogspot.com, com ramificações em comunidades virtuais como Twitter e sites de busca como Google. O senador apresentou requerimento solicitando a instalação de um telão em plenário, amanhã (sexta, 19), para exibir o blog e debater o assunto. Paim assentiu, com testemunho de Valdir Raupp (PMDB-RO), que discursava na tribuna. Mas, ao deixar o plenário, Magno foi abordado por Claudia Lyra, que negou a autorização para o projetor de imagem na sessão de desagravo.
“A senhora está acostumada a dar ordens, e alguns senadores a aceitar. Eu sou um senador da República, fui eleito pelo povo do Espírito Santo”, exaltou-se Magno Malta, diante da secretária-geral, que lhe mostrava um ofício. “Eu sei, senador”, retrucou Claudia Lyra. “Não, não sabe”, treplicou o senador capixaba.
“Oficiei um requerimento e temos amanhã uma sessão solene contra a discriminação racial. Trata-se de um site neonazista que foi denunciado há três anos e ainda está no ar. Ainda hoje à tarde eles estavam on-line, e programando ações para amanhã [sexta, 19] em sites de relacionamento, Twitter, etc. São ações contra negros, nordestinos, índios”, disse Magno ao Congresso em Foco, depois da discussão. Ele chegou a voltar ao plenário e dizer que a secretária estava “acostumada” a que as pessoas lhe “beijassem a mão” no Senado.
“Meu requerimento é para colocar o site no ar, em um telão, para que as pessoas vejam a denúncia feita em 2007 ao Ministério Público Federal, que não tomou nenhuma providência. E é nesse site que esses neonazistas estavam programando assassinar o senador Paim”, acrescentou o senador do Espírito Santo, que reclamou também do fato de o Google ainda não ter obstruído os acessos ao blog.
Magno Malta disse ainda à reportagem, que fez questão de relatar o contratempo no microfone do plenário. “Ela disse que não ia autorizar. Não ia autorizar? Peguei o requerimento e fui ao presidente [do Senado, José Sarney, PMDB-AP], que disse: ‘Isso não existe. Está autorizado’. Ela veio agora perguntar para mim qual era o site. Eu disse não, não posso dizer qual é o site. Eu sou um senador da República, a senhora tem que saber o seu lugar”, completou.
Procurada pela reportagem, a secretária-geral da Mesa disse que não se manifestaria sobre a discussão com Magno Malta. Sobre se seria realizada a sessão plenária, com a eventual instalação do projetor, ela foi sucinta. “Não sei. É bom ligar para o senador [Magno Malta]. Afinal, ele disse que conversou com o presidente [José Sarney].”
Consciência negra
Os atos nazistas denunciados por Magno Malta não por acaso seriam executados amanhã: no dia seguinte, 20 de novembro (sábado), comemora-se o Dia da Consciência Negra. Paulo Paim disse à reportagem que a sessão de desagravo está confirmada para amanhã, e que a solenidade “de combate aos preconceitos” está aberta às demais minorias e “todos os setores discriminados” – judeus, índios, homossexuais, religiosos etc.
“Essa ações têm como alvo, principalmente, negros, judeus e pessoas com orientação sexual não heterossexual. Essa sessão eu marquei a tempo [de serem tomadas as providências formais], e o senador Magno Malta pediu um telão para mostrar vídeos que ele descobriu sobre esses nazistas”, disse o senador, acrescentando que um delegado de Porto Alegre, Cezar Jardins, também tem material em vídeo para expor na sessão.
Sobre o bate-boca entre Magno e Claudia, Paulo Paim minimizou e disse que isso não interferirá na solenidade de amanhã. “Inclusive administrei a discussão, porque eu estava presidindo a sessão”, disse o petista, para quem as ameaças não surtem efeito em sua atividade parlamentar. Tanto é que, segundo Paim, foi-lhe oferecida proteção policial, que ele negou. “Meu trabalho vai continuar igual. Esse tipo de ameaça começou em 1997. Nunca me intimidei nem vou me intimidar.”
No blog racista, imagens, textos e vídeos fortes desfilam uma série de crimes previstos no Código Penal. Auto-intitulado “Blog de Promoção e Defesa da Raça Branca” (com o surreal lema “somos brancos orgulhosos e não temos vergonha!”), exibe arquivos desde 2005.
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