Determinante nas investigações da Operação Lava Jato, o caso Odebrecht tem repercutido fora do Brasil. Na noite desta quinta-feira (14), o ex-presidente do Peru Ollanta Humala e sua esposa, Nadine Heredia, se entregaram à polícia depois de terem prisão preventiva decretada por acusações de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A acusação é relativa a doações feitas pelo grupo Odebrecht para o Partido Nacionalista nas campanhas presidenciais de 2006 e 2011, quando Humala era o candidato.
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Ollanta Humala foi presidente entre 2011 e 2016. Marcelo Odebrecht relatou pagamento via “departamento de propina” de US$ 3 milhões para a campanha de Humala em 2010. O juiz Richard Carhuancho, da Primeira Vara de Investigação Preparatória Nacional do Peru, com receio de que o casal saísse do país, chegou a expedir uma ordem de captura nacional e internacional contra eles. Nadine Heredia foi nomeada no final de 2016 como diretora do escritório de ligação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) na sede da ONU em Genebra, a pedido de José Graziano da Silva, ex-diretor do programa Fome Zero durante o governo PT, e diretor-geral da FAO.
No entanto, depois de expedido o mandado de prisão, eles ficaram em casa acompanhando os detalhes da audiência que definiu o destino deles. Conhecida a decisão do juiz, foram juntos ao Palácio de Justiça, no centro de Lima. Passaram a primeira noite na carceragem do Poder Judiciário, à espera de que seja decidido quais centros de detenção os receberão definitivamente.
Pelo Twitter, o ex-presidente comentou a decisão. “Essa é a confirmação do abuso de poder, ao qual faremos frente”, escreveu. Pouco antes, Heredia publicou: “Apesar da arbitrariedade, estamos aqui, confiamos em que esta decisão será revertida, por uma questão de justiça. Confiamos em nosso país!”. Os advogados do casal afirmaram que vão recorrer. Documentos tornados públicos pela Justiça dos EUA mostraram que a Odebrecht admitiu ter pago propina em pelo menos 11 países, além do Brasil. Eis a os valores pagos pela construtora no exterior.
Conforme publicou o jornal El País, o pedido da prisão foi apresentado pelo procurador provincial Germán Juárez Atoche, com base em elementos incluídos recentemente no processo, como as declarações de Jorge Barata, ex-representante da Odebrecht no Peru. Segundo relato de Barata a um grupo de promotores que viajaram ao Brasil para interrogá-lo, em meados de 2010 ele recebeu um telefonema em que Marcelo Odebrecht o instruía a fazer doações para a campanha eleitoral de Humala, atendendo a um pedido expresso do PT brasileiro. Na época, o governo Lula e a megaempreiteira mantinham uma espécie de caixa comum, a cargo do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, identificado como “Italiano” nas planilhas da empresa. Humala precisava de mais recursos para enfrentar rivais como Keiko Fujimori, Alejandro Toledo e o agora presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski.
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Segundo investigações da Polícia Federal (PF), autorizadas pelo juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, a Odebrecht mantinha dentro de seu organograma um departamento oculto destinado somente ao pagamento de propinas, chamado Setor de Operações Estruturadas.
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, havia funcionários exclusivamente dedicados a processar os pagamentos, que eram autorizados diretamente pela cúpula da empresa. Tudo era registrado por meio de um sofisticado sistema de computadores, com servidores na Suíça, e cujo conteúdo o Ministério Público Federal ainda se esforça para ter acesso, devido ao rígidos protocolos de segurança do sistema.
Em março do ano passado, na 23ª fase da Lava Jato, denominada Operação Acarajé, a PF apreendeu na casa do ex-executivo da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Júnior uma planilha na qual estão listados pagamentos a mais de 200 políticos. A lista encontra-se sob sigilo.
Os esquemas ilícitos da empresa se espalham além das fronteiras brasileiras. A Odebrecht é investigada pelo menos em mais três países da América Latina: Peru, Venezuela e Equador. Em um acordo de leniência firmado com os Estados Unidos no final de dezembro, a empresa admitiu o pagamento de R$ 3,3 bilhões em propinas para funcionários de governos de 12 países.
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