No ambiente sufocante do regime militar, o diplomata brasileiro Paulo Dionísio de Vasconcelos morre em circunstâncias misteriosas na cidade holandesa de Haia, em 1970, sem que as autoridades tenham se empenhado em desvendar o episódio obscuro. Essa história é contada pelo jornalista Eumano Silva no livro A morte do diplomata: um mistério arquivado pela ditadura, que traz informações inéditas sobre o caso e o período do autoritarismo no Brasil.
O lançamento da obra está marcado para esta quinta-feira (3), às 19h, no Carpe Diem da 104 Sul, em Brasília. Publicado pela Tema Editorial, o livro percorre a vida de Paulo Dionísio e suas conexões com a diplomacia brasileira, na época em que o país vivia sob o comando de generais ansiosos por projetar uma imagem favorável no exterior – mesmo que internamente a realidade fosse opressiva e dolorosa. É nesse contexto que o jovem vindo de Minas Gerais projeta sua trajetória pessoal e profissional, interrompida pouco antes de completar 35 anos de idade.
Conversas e garimpo em arquivos
O autor, que já foi editor-executivo do Congresso e Foco, comentou com a reportagem um pouco de sua experiência sobre a feitura da obra, a primeira com recursos próprios. “Comecei a fazer a pesquisa tem uns dois anos. Fiz uma viagem rápida até a Holanda, onde estive no local em que o diplomata apareceu morto”, relatou Eumano, lembrando que as dificuldades para a construção da obra se intensificaram, com o “garimpo” em arquivos.
“A parte mais pesada da pesquisa foi feita no Itamaraty, com as documentações de década de 1970. O trabalho foi todo às minhas custas, uma produção independente. Não tem a participação de ninguém, nada. Foi bom porque eu trabalhei no meu ritmo, priorizei este livro. Optei por um livro policial porque achei que era a melhor maneira mais adequada de contar a história. É uma história que tem mistério, envolve a morte de uma pessoa, uma investigação policial, tem um inspetor que aparece no livro, que participou das investigações, na Holanda…”, relara o jornalista, destacando o cuidado que teve ao abordar o assunto com a família do diplomata, dado o trauma da morte misteriosa.
A família de Paulo Dionísio franqueou ao autor do livro documentos, fotos, recortes de jornais e até mesmo o diário pessoal do diplomata, que tinha o hábito de escrever copiosamente sobre os mais variados temas. Mais do que isso, os familiares concederam-lhe uma procuração para ter acesso a documentos do Itamaraty relacionados ao caso. O resultado é rico em informações inéditas, com a ressalva de que “foi um trabalho totalmente independente, sem nenhuma interferência”, como sublinha Eumano.
No meio do processo minucioso de pesquisa, o autor deparou-se com documentos reveladores sobre o cenário em que a diplomacia brasileira estava mergulhada à época. Constatou, por exemplo, a extensão da teia de vigilância armada para acompanhar os movimentos de Dom Helder Câmara em países estrangeiros, como se o líder católico brasileiro, que lutava com palavras e gestos, representasse um perigo mortal para o regime. Também apurou as iniciativas quase caricatas dos comandantes militares para apresentar lá fora um país risonho e bem-sucedido.
Assista ao vídeo com detalhes da obra contados pelo autor:
Autor de outra obra emblemática sobre o período ditatorial no Brasil – Operação Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha –, Eumano Silva oferece aos leitores essa nova incursão no livro-reportagem, com a marca do rigor jornalístico e a ambição do pesquisador reconhecido pelo conhecimento sobre o tema. A morte do diplomata: um mistério arquivado pela ditadura é leitura envolvente e que se acompanha com a respiração suspensa. É ainda o encontro de uma tragédia pessoal com os descaminhos da nação brasileira.
Serviço:
Lançamento do livro “A morte do diplomata: um mistério arquivado pela ditadura”
Local: Carpe Diem da 104 Sul, em Brasília.
Data: 03/08/2017
Horário: às 19h.
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