O apoio do PSDB ao petista Tião Viana (AC), na disputa pela presidência do Senado, pode ter sido causado pela ação do principal articulador da candidatura adversária: o próximo líder do PMDB na Casa, senador Renan Calheiros (AL). Foi o que disse ao Congresso em Foco o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), "dissidente" peemedebista que participou na quinta-feira (29) da reunião na casa do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), em Recife – onde o voto da bancada tucana em Tião foi definido.
As ofertas de Renan, em nome de Sarney, de presidências de comissões e postos na Mesa Diretora tiveram forte influência na decisão do PSDB em apoiar Tião Viana, avalia Jarbas. Ele disse considerar lamentável o fato de Sarney ter oferecido a Garibaldi Alves (PMDB-RN) “prêmios de consolação” por tê-lo tirado do páreo – as presidências da Comissão de Constituição e Justiça ou da Comissão de Assuntos Econômicos, ambas com pretendentes de outros partidos como Demóstenes Torres (DEM-GO) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).
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"Eles ficaram incomodados com o estilo imperial de Renan", revela Jarbas. Segundo o senador pernambucano, Renan insistia, durante a conversa com os tucanos, nas negociações por cargos na Mesa Diretora e nas comissões temáticas em troca de votos.
Para Jarbas, o único peemedebista a declarar publicamente que votará contra o colega de partido – logo, a favor de Tião –, a conversa na casa de Sérgio Guerra serviu para “aprofundar” o tema da sucessão no Senado. Na qualidade de colega e conterrâneo de Sérgio, e principalmente de opositor de Sarney, Jarbas parecia estar lá para aguçar o incômodo em relação à conduta de Renan.
"O jogo foi virado"
“São coisas inaceitáveis, incompreensíveis nos dias de hoje”, criticou Jarbas. “Discordo dessa política do toma lá, dá cá, do fisiologismo do PMDB. Não assumo as diretrizes traçadas atualmente pelo PMDB, tanto em nível nacional quanto no Senado.”
Para o senador pernambucano, seria exatamente a postura do partido a razão de que mais dissidências venham a surgir na hora do voto dentro do PMDB. “É uma disputa que vai se tornar imprevisível”, disse, lembrando que o tom de “surpresa” de Roseana Sarney ao receber de Arthur Virgílio a decisão tucana é indicativo de que “o jogo foi virado”.
Ao comentar a possibilidade de que outros peemedebistas se rebelem contra a candidatura de Sarney, Jarbas foi cauteloso. “É difícil prever, não sei como Pedro Simon vai votar. Se fala em inconformismo do Neuto De Conto que estaria se sentindo inutilizado no Senado pelo comando do PMDB”. A exemplo de Garibaldi Alves, Valter Pereira (MS) e Pedro Simon, o senador Neuto de Conto (SC) foi um dos nomes cotados no partido para ocupar a vaga deixada por Renan Calheiros em 2007.
Volta à ribalta
Na visão de Jarbas, depois da renúncia da presidência do Senado e de um trabalho silencioso nos últimos meses, Renan Calheiros intensificou significativamente, sempre nos bastidores, as negociações pelo maior de número possível de adesões a Sarney. Numa espécie de pré-exercício da liderança do PMDB em 2009, tem se esforçado em restaurar o núcleo mais influente do partido, personificado em José Sarney.
“Em suma, um quadro que não tem nada de renovação”, aponta Jarbas. Para o senador pernambucano, Tião Viana já demonstrou uma conduta que seria a ideal para os tucanos – uma gestão “sem misturas de disputa entre governo e oposição”, e de compromisso com a independência do Senado. (Fábio Góis)
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