Reportagem publicada na edição de ontem da Folha de S. Paulo informa que autoridades cubanas transmitiram nesta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a membros da cúpula do PT a informação de que o estado de saúde de Fidel Castro, 79, submetido a uma cirurgia na segunda-feira, é pior do que admitem publicamente.
Mais: disseram que o ditador pode ficar inabilitado para retomar o poder real, ainda que se recupere da doença -um tumor maligno no abdômen, segundo a versão com a qual o governo brasileiro trabalha.
Desde a noite de segunda-feira, quando a cirurgia provocada por um sangramento no intestino foi anunciada em nota assinada por Fidel e lida no rádio e na TV oficiais da ilha, o governo cubano não divulgou informações detalhadas sobre o estado de saúde.
A falta de informação foi justificada pelo próprio Fidel, numa segunda nota atribuída a ele e divulgada na terça, pela necessidade de o país proteger-se do inimigo externo (os EUA).
“Parece que vamos perder o nosso amigo”, disse Lula a um auxiliar, depois de ser informado da gravidade do estado de saúde do ditador, segundo a Folha apurou. Relatos de Havana recebidos reservadamente dão conta de que ele está “bem mal”.
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A matéria, assinada pelo repórter Kennedy Alencar, diz que Fidel completa 80 anos no dia 13. Há temor em Havana de que ele não se recupere ou de que não haja tempo para que volte a exercer o poder de forma centralizada. Ao ser operado, Fidel transferiu seus cargos a seu irmão Raúl Castro, pela primeira vez em 47 anos. Raúl assumiu as funções de primeiro-secretário do Comitê Central do PC, comandante-em-chefe das Forças Armadas e presidente do Conselho de Estado e de Governo.
Abalado, Lula pediu discrição à sua equipe. Disse a amigos que Fidel é um homem forte e que torce por sua recuperação. Segundo avaliação do Palácio do Planalto, a doença de Fidel detonou um processo de transição de poder que não será interrompido.
Acredita-se, no entanto, que o afastamento do governante cubano não levará a um cenário de colapso, como viveram os regimes socialistas do Leste Europeu na virada dos anos 1980 para os 1990.
Para a cúpula do governo e do PT, o ministro das Relações Exteriores, Felipe Pérez Roque, 41, é o nome mais forte para compor com Raúl Castro, 75, a espinha dorsal de um novo esquema de poder.
Ex-secretário de Fidel e extremamente leal ao ditador, Felipe, como o chamam os petistas, é afinado com as idéias do Partido Comunista, mas saberia que será inevitável uma flexibilização do regime, pelo menos na área econômica.
Lula e o PT têm antigos laços políticos e de amizade com Fidel e Cuba. Os petistas sempre defenderam o regime castrista, minimizando a falta de eleições e a repressão aos dissidentes. O PT e o governo sempre condenaram o embargo econômico dos EUA à ilha caribenha, imposto em 1962.
Lealdade
Lula disse a auxiliares que Fidel tem sido um amigo das “horas difíceis”. Lembrou-se das visitas que ele lhe fez depois de perder duas eleições presidenciais (1989, para Fernando Collor de Mello, e 1994, para Fernando Henrique Cardoso).
Fidel sempre retribuiu a amizade e afeição petistas. Em setembro de 2003, quando o presidente brasileiro viajou a Havana, ele disse aos jornalistas: “Cuba está muito honrada. Foi a melhor visita que já tivemos”. O último encontro dos dois foi na cúpula do Mercosul na Argentina, em julho, para a qual Fidel foi convidado.
Na visita do presidente brasileiro a Havana, numa cerimônia no Palácio da Revolução, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, chorou ao se encontrar com Fidel, a quem sempre disse dever a vida. Em 1968, Dirceu foi um dos 15 presos políticos libertados no episódio do seqüestro do então embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick.
Dirceu se exilou em Cuba, onde fez treinamento de guerrilha e usou o codinome de Daniel, pelo qual é chamado por Fidel. Na ilha, fez uma plástica que alterou suas feições e permitiu sua volta para uma vida clandestina no Paraná. Antes da Lei da Anistia, em 1979, Dirceu retornou a Cuba e desfez a cirurgia.
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