A reunião entre o presidente Lula e o senador José Sarney (PMDB-AP), que já havia sido adiada diversas vezes, terminou há pouco no Palácio do Planalto sem definições quanto à questão crucial: afinal, o peemedebista vai ou não aceitar a disputa pelo comando do Senado? A falta de esclarecimentos, de parte a parte, frustra as expectativas pelo fim do impasse quanto ao candidato do PMDB à presidência do Senado – uma vez que o nome “oficial” da legenda, o atual presidente Garibaldi Alves (RN), já afirmou que se manteria no pleito – ressalvando que, caso o partido prefira Sarney, ele acataria a posição da bancada.
Diante da indefinição a menos de duas semanas da eleição no Senado, o presidente Lula deixou a responsabilidade pela indicação ao próprio PMDB. Segundo interlocutores do Planalto ouvidos pelo Congresso em Foco, Lula, a certa altura da reunião, dirigiu-se a Sarney e disse:
“Caberá ao PMDB decidir se vossa excelência será candidato”, declarou o presidente, ciente de que tomar uma posição nesse momento – com um senador de seu próprio partido, o petista Tião Viana (AC), na disputa – poderia azedar a boa relação do governo com a maior bancada no Congresso (o PMDB tem 20 representantes no Senado e 90 na Câmara). Ou causar mal-estar com os senadores petistas. Além disso, indisposições com a base aliada e o PMDB em ano pré-eleitoral poderiam atrapalhar seus planos de fazer o sucessor – no caso, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) – na cadeira da Presidência.
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A reunião desta noite durou pouco mais de uma hora. E por quase uma hora Sarney ficou à espera da conversa com Lula, que recebia em seu gabinete representantes de seis centrais sindicais, entre elas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical. Em pauta, além dos efeitos da crise financeira internacional sobre os postos de trabalho, a redução na taxa básica de juros na economia, atualmente fixada em 13,75% ao ano (leia).
O Congresso em Foco procurou os líderes peemedebistas para dar informações sobre o resultado da reunião, mas nenhum deles atendeu às ligações. A reportagem também tentou contato com o ministro das Relações Institucionais, José Mucio Monteiro, bem como com sua assessoria, mas não obteve retorno. A assessoria de imprensa da Presidência da República também não respondeu às ligações por telefone.
Bastidores
Nos últimos meses Sarney vinha descartando a hipótese de concorrer à presidência do Senado – posto que já ocupou por duas vezes (entre 1995 e 1997 e entre 2003 e 2005). Contudo, interlocutores do ex-presidente da República dão conta de que foi intenso o trabalho nos bastidores, em pleno recesso parlamentar, por sua candidatura – bem vista por Lula, que tem estreitado relações com Sarney, forte aliado governista no Senado.
Sarney tem a seu favor a “fragilidade” partidária de Garibaldi, nacionalmente, nos quadros do partido. Sarney almejava uma aclamação dentro da legenda – unanimidade inviabilizada pelos “históricos” Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), fundadores peemedebistas radicalmente contra o alinhamento de Sarney aos interesses do Planalto. Queria o cenário ideal da candidatura única. E, mais difícil do que isso, uma intervenção oficial do presidente Lula em favor de seu nome, declaradamente.
A reportagem apurou que Sarney tem amealhado apoio entre os membros da oposição – especialmente o DEM, cujo líder José Agripino (RN) trava disputa pessoal, em nível regional, contra Garibaldi Alves – ambos seriam candidatos naturais ao governo do Rio Grande do Norte na próxima gestão. Com Sarney oficialmente na disputa, e a provável saída de Garibaldi, os significativos holofotes da presidência do Senado não estariam sobre o adversário político de Agripino.
Já Tião Viana, sem a tutela oficial do presidente Lula, tem garantido o apoio de PTB, PSB, PR, Psol, PRB e PDT. Segundo Tião, o próprio PMDB lhe teria reservado alguns votos para a candidatura petista – referência velada a Simon e Jarbas, que já deixaram clara a rejeição ao nome de Sarney. Além disso, José Múcio teria negado negociações em favor de Sarney e, segundo interlocutores, estaria fazendo campanha para Tião.
Os próximos presidentes da Câmara e do Senado tomam posse na manhã do dia 2 de fevereiro, quando ocorrem as votações secretas, simultaneamente, na sessão marcada para as 10h. Na tarde do mesmo dia, às 16h, o presidente do Congresso (que também é o presidente do Senado) abre em plenário os trabalhos legislativos de 2009. (Fábio Góis)
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