Mais de 50% dos parlamentares recebeu financiamento eleitoral de empreiteiras. Segundo levantamento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo, 285 deputados e 40 senadores receberam um total de R$ 27 milhões em verbas para a campanha. O valor considera apenas as doações feitas diretamente ao candidato, sem intermédio do partido, e inclui as doações para senadores eleitos em 2002.
Uma segunda pesquisa, feita pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que dos 42 membros da Comissão Mista de Orçamento, 28 recebeu doação de construtoras. São os integrantes da comissão quem analisa e propõe alterações na proposta orçamentária do Executivo.
Segundo a Folha, estão entre os 325 parlamentares patrocinados por empreiteiras nomes influentes como o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP); o ex-presidente da Casa Aldo Rebelo (PCdoB-SP); o presidente do PT, Ricardo Berzoini (PT-SP); e o ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP).
Os congressistas filiados ao PT foram os que receberam a maior soma: R$ 4,6 milhões. Peemedebistas arrecadam com empreiteiras R$ 4,5 milhões e tucanos, R$ 4,3 milhões. As principais doadoras em repasses diretos para parlamentares eleitos foram a Camargo Corrêa (R$ 2,4 milhões), a Construtora OAS (R$ 1,7 milhão) e a Barbosa Mello (R$ 1,1 milhão).
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No senado, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB) foi quem recebeu a maior doação individual: um total de R$ 1 milhão, sendo 70% da JM Terraplanagem e o restante da Torc Terraplanagem. Quando governava o DF, Roriz ficou conhecido por investir em obras de grande porte. A JM participou de pelo menos uma delas, a restauração da DF-190, que liga a Ceilândia a Santo Antônio do Descoberto, em Goiás.
Entre os deputados, Janete Pietá (PT-SP) recebeu a maior soma: R$ 547 mil. Uma das doadoras foi a Camargo Correa (R$ 200 mil), que, no ano passado, ganhou concorrência de R$ 31,8 milhões para executar obras de um complexo viário em Guarulhos, município governado pelo marido da deputada, Elói Pietá (PT). A OAS, que doou R$ 100 mil para a campanha de Janete, também realiza obras na cidade.
CPI da Navalha
À Folha, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) disse que a ligação dos parlamentares com empreiteiras é o principal empecilho para a instalação da CPI da Navalha no Congresso. A comissão, que depende de cerca de 20 assinaturas para ser criada, investigará o esquema de fraude em licitações e obras públicas desmontado pela Polícia Federal na Operação Navalha. "Aqui tem o partido das empreiteiras, muita gente tem o rabo preso", acusou. (Carol Ferrare)
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