Fábio Góis
O Senado realizou nesta terça-feira (29), no dia em que São Paulo faz 457 anos, uma sessão solene por ocasião dos dez anos da morte do ex-governador tucano Mário Covas (1930-2001). Passava das 15h, alguns minutos após a morte do ex-vice-presidente da República José Alencar, quando o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), discursava na tribuna e rendia homenagens não só a Covas, como ao ?partido irmão? PSDB. Com todo o tucanato reunido no Plenário da Casa, a sessão acabou por se tornar um tributo duplo.
?Era, sobretudo, um mineiro na essência. Ele gostava sempre de cantar em verso e prosa as suas origens, a sua trajetória como mineiro pobre do interior que se transformou em um dos maiores empresários do país. Uma referência na vida pública brasileira?, disse o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, senador pelo PSDB. ?Fica uma lacuna, mas, nesta hora, temos de lembrar sempre dos exemplos e do legado de José Alencar.?
Já o ex-governador tucano de São Paulo José Serra enfatizou a firmeza com que Alencar defendia seus posicionamentos sobre a política econômica, mesmo em discordância com o presidente Lula. O ex-vice-presidente contestava a alta dos juros. ?Eu sempre fui simpático à ideia de que nós tínhamos de ter uma política monetária e cambial mais favorável tanto à estabilidade quanto ao desenvolvimento, ao mesmo tempo, o que era uma aspiração dele. Claro que fazer isso na prática é sempre mais difícil. Mas, como doutrina e objetivo, é sempre muito saudável?, disse o tucano.
Serra disse ainda que Alencar era um homem cordial nas relações políticas e um batalhador na vida pessoal ? menção ao fato de Alencar ter sido um jovem pobre no interior de Minas, para depois chegar à condição de um dos mais importantes empresários do país. ?Eu nunca vi ninguém fazer o que ele fez, com relação às adversidades da vida, da morte, com muita valentia, com muita coragem?, acrescentou o tucano, para quem Alencar merece ?todo o respeito e admiração?.
Convidado para a sessão de homenagem, realizada por meio de requerimento da senadora Marisa Serrano (PSDB-GO), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, falou em nome do povo do estado. ?Ele deixa exemplos extremamente dignificantes. E é com enorme pesar que trago aqui o sentimento do povo de São Paulo à sua família. E a todo o país, pela perda que representa morte de José Alencar?.
Igualmente na condição de convidado, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cesar Peluzo, estava presente à sessão solene e prestou homenagem também ao ex-vice-presidente. ?Lamentamos profundamente, ele era um homem extraordinário, que teve uma força singular de amor à vida, diante de um quadro inexorável, terrível. Deixa um vazio na política brasileira. Lamentamos e estamos solidários com seus familiares?, declarou.
Nota de Sarney
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), suspendeu a pauta prevista para esta tarde e, às 17h15, anunciou um minuto de silêncio em respeito ao falecimento. Em seguida, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) fez leitura de requerimentos diversos para registro de votos de pesar e realização de solenidades pela memória de Alencar. Todas as votações previstas para esta semana foram canceladas, e a tribuna ficará à disposição dos senadores para discursos livres.
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?O seu exemplo pessoal, a sua correção, a maneira com que ele lutou pela vida, a maneira com que ele soube sofrer. Isso é, sem dúvida, a lembrança que o povo brasileiro jamais vai esquecer?, disse Sarney, que conviveu com Alencar e Covas no Senado.
Depois das formalidades, o senador Itamar Franco (PPS-MG) foi o primeiro a pedir a palavra. Ex-presidente da República e contemporâneo de Covas no Senado, o senador mineiro passou a resgatar lembranças do convívio com José Alencar em Minas.
Instantes depois da morte de Alencar, a assessoria de Sarney fez circular na imprensa uma nota de pesar feita às pressas, sem assinatura e impressa diretamente de arquivo de computador. O documento reproduz trechos de declaração de Sarney feita minutos antes da distribuição.
Confira a íntegra:
?O vice-presidente José Alencar Gomes da Silva foi um gladiador pela vida. Teve sempre a lealdade de concordar, de ajudar, da solidariedade, e a coragem de discordar. Enfrentou o sofrimento com estoicismo. Nunca baixou a cabeça para a morte. Foi um exemplo de fé. Veio de longe, desde a infância pobre até ser um dos grandes empresários do país. O Brasil muito deve a José Alencar por sua postura de estadista, e o presidente Lula o exemplo de correção na solidariedade e na maneira digna e leal com que o ajudou.
José Sarney?
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