Edson Sardinha
Levantamento feito pelo Congresso em Foco mostra que sete em cada dez senadores que disputaram as eleições saíram derrotados das urnas. Dos 47 que se submeteram ao julgamento do eleitor em outubro, 33 (70%) foram condenados ao fracasso eleitoral. A pena foi ainda mais severa para 14 deles, cujo mandato se encerra no início de 2007: o afastamento involuntário de cargos eletivos por, no mínimo, dois anos.
Aos outros 19, resta ainda o consolo de ter mais quatro anos de legislatura pela frente (veja o desempenho eleitoral de cada um).
Dos 14 senadores que tiveram sucesso eleitoral, apenas sete se reelegeram: Tião Viana (PT-AC), José Sarney (PMDB-AP), Alvaro Dias (PSDB-PR), Pedro Simon (PMDB-RS), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Maria do Carmo Alves (PFL-SE). Já Aelton Freitas (PL-MG) e Alberto Silva (PMDB-PI) preferiram trocar a cadeira no Senado por um assento na Câmara, onde é necessário menos votos para se eleger.
Outros seis senadores fracassaram ao tentar renovar o mandato por mais oito anos: Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), Rodolpho Tourinho (PFL-BA), Luiz Otávio (PMDB-PA), Ney Suassuna (PMDB-PB), Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO) e Fernando Bezerra (PTB-RN), líder do governo Lula no Congresso.
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Mas, para os senadores Luiz Pontes (PSDB-CE) e Juvêncio da Fonseca (PSDB-MS), a derrota foi ainda mais retumbante. Os dois não conseguiram sequer conquistar uma vaga na assembléia legislativa de seus estados. O primeiro foi apenas o 36º mais votado para deputado estadual no Ceará, enquanto o segundo não passou da 44º posição em Mato Grosso do Sul, com os seus 8.267 votos.
Depois de Juvêncio, nenhum outro senador teve, proporcionalmente, votação menos expressiva nesta eleição do que Leomar Quintanilha (PCdoB-TO). Com apenas 9.206 votos (1,39%), o comunista – que traz em seu currículo passagens pelo PFL, o PP e o PMDB – foi o terceiro colocado na corrida ao governo de Tocantins. Candidato no estado de menor colégio eleitoral do país, Roraima, Augusto Botelho (PDT) recebeu o apoio de 5.502 eleitores (2,95%).
Eleições estaduais
Objeto de desejo de 23 senadores nestas eleições, o cargo de governador só foi alcançado por três deles: Teotônio Vilela (PSDB), em Alagoas, Ana Júlia (PT), no Pará, e Sérgio Cabral (PMDB), no Rio de Janeiro. Dos três que concorreram aos governos estaduais na condição de vice, apenas João Alberto (PMDB), vice de Roseana Sarney (PFL) no Maranhão, não teve sucesso.
Os senadores Leonel Pavan (PSDB) e Paulo Octávio (PFL) também devem renunciar ao mandato até o fim do ano para serem empossados como vice-governadores de Santa Catarina e do Distrito Federal, respectivamente.
Votos em fuga
Até mesmo parlamentares que fizeram barulho nos últimos quatro anos, em Brasília, colheram agora resultados pífios das urnas em seus estados. É o caso, por exemplo, do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), recordista em discursos contra o governo Lula no plenário.
Eleito em 2002 com 608.762 votos (29,4% dos válidos), o tucano viu sua votação despencar oito vezes este ano, quando ficou apenas em terceiro lugar na disputa ao governo do Amazonas, com o apoio de 74.900 eleitores (5,5%).
Menos sucesso ainda teve o senador Demóstenes Torres (PFL-GO). Depois de surpreender o país quatro anos atrás, ao tomara vaga até então ocupada pelo ex-ministro Íris Rezende (PMDB), velho cacique da política goiana, o pefelista recebeu nesta eleição, 13 vezes menos votos do que em 2002.
Os 95.701 votos (3,5%) que Demóstenes recebeu em outubro garantiram a ele apenas o quarto lugar na corrida ao governo de Goiás e em nada lembram os 1.239.352 que fizeram dele o senador mais bem votado do estado naquela eleição.
Recado das urnas
Com quatro anos de mandato pela frente, assim como Virgílio, Demóstenes diz que o insucesso na eleição estadual não mudará em nada sua atuação em Brasília. "Já estou muito velho para mudar meu comportamento", afirma.
Segundo o pefelista, que se destacou nas CPIs dos Bingos e dos Correios e no Conselho de Ética, a queda na votação não significa que seus eleitores estejam descontentes com o seu trabalho. "Perdi mais pelo isolamento do PFL, que não fez aliança em Goiás. Não consegui sair dessa bolha. O fato também é que não consegui comover o eleitor como os outros candidatos", justifica.
Para o cientista político Alexandre Barros, o insucesso eleitoral na metade do mandato deveria servir de alerta para os senadores que ainda têm mais quatro anos de mandato. "Os parlamentares deveriam pensar assim: já que não consigo mudar o eleitor, tenho eu de mudar meu comportamento", observa o professor.
"Daqui a quatro anos é outro jogo. Mas a cada eleição existe uma fadiga de material. As pessoas entendem que está na hora de testar o novo. Isso é normal. Acontece nas melhores famílias. A democracia serve para isso, rodar o poder", avalia Alexandre.
Confronto de senadores
Em sete estados, a disputa pelo governo estadual envolveu dois senadores. Só no Rio, onde Marcelo Crivella (PRB) ficou em terceiro lugar, um deles saiu vencedor – Sérgio Cabral (PMDB). Nos demais, ambos os parlamentares colecionaram derrotas.
Em Goiás, por exemplo, Maguito Vilela (PMDB) e Demóstenes Torres (PFL) viram o atual governador, Alcides Rodrigues (PP), se reeleger. O mesmo se deu no Paraná, onde Osmar Dias (PDT) enfrentou Flávio Arns (PT) e perdeu, por pouco mais de dez mil votos, o segundo turno para o governador Roberto Requião (PMDB).
No Maranhão, a senadora Roseana Sarney (PFL) teve como companheiro de chapa o também senador João Alberto (PMDB) numa das maiores derrotadas políticas do clã Sarney. Já em Mato Grosso e em Rondônia, Serys Slhessarenko (PT-MT), Antero Paes de Barros (PSDB-MT), Amir Lando (PMDB-RO) e Fátima Cleide (PT-RO) não conseguiram impedir a reeleição dos governadores Blairo Maggi (em processo de desfiliação do PPS) e Ivo Cassol (PPS). O mesmo se deu em Roraima, onde Ottomar Pinto (PSDB) se reelegeu, a despeito das candidaturas de Romero Jucá (PMDB) e Augusto Botelho (PDT).
De presidenciável a ex-senador
O time dos senadores que perderam as eleições este ano é composto ainda por outros quatro parlamentares que pretenderam alçar vôos mais ambiciosos: a presidência e a vice-presidência da República. Com 6.575.393 votos (6,85% dos válidos), Heloísa Helena (Psol) ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, à frente de Cristovam Buarque (PDT), que recebeu 2.538.844 votos (2,64%). Cristovam teve como companheiro de chapa o também senador Jefferson Peres (PDT-AM). Ambos, porém, ainda têm mais quatro anos de mandato em Brasília.
Já o senador José Jorge (PFL-PE), que concorreu como vice de Geraldo Alckmin (PSDB), segundo colocado na disputa presidencial, deixará o Senado no início do próximo ano, a exemplo de Heloísa Helena. Os dois farão companhia a Roberto Saturnino (PT-RJ), Jorge Bornhausen (PFL-SC), Valmir Amaral (PMDB-DF) e João Batista Motta (PMDB-ES), os únicos quatro senadores em fim de mandato que decidiram não concorrer a nenhum cargo nas eleições deste ano.
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