O advogado da presidente Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo voltou a criticar nesta terça-feira (30) o fato da presidente ser julgada “pelo conjunto da obra” e comparou a situação atual com aquela enfrentada pela petista durante a Ditadura Militar. “Era pelo conjunto da obra que os militantes políticos eram presos, assassinados e torturados. Era pelo conjunto da obra que se puniam a dedo as pessoas que queriam punir, porque precisavam matar a obra”.
Sem mencionar a advogada Janaína Paschoal, que pediu desculpas à presidente afastada, Cadozo disse que às vezes os acusadores “têm uma crise de consciência, mas não conseguem com ela eliminar a injustiça do seu golpe. Podem pretender construir uma situação, uma sensação de humanidade, mas não conseguem objetivamente”, afirmou. Pouco antes, Janaína disse esperar que Dilma entenda “que eu fiz isso pensando também nos netos dela”. Ao assumir a tribuna, Cardozo argumentou:
“Dilma Rousseff passou três anos presa, teve seus direitos políticos suspensos, foi brutalmente torturada, foi atingida na sua dignidade de ser humano, e é possível que, naquele momento, alguns dos seus acusadores, tomados de uma crise de sentimentalismo, tenham lhe dito: menina, nós estamos te prendendo e te torturando pelo bem do país. Nós estamos pensando nos seus filhos, nos seus netos. Estamos aniquilando com a sua vida, mas estamos pensando em você, menina. Estamos te destruindo e te arrasando, mas estamos pensando no seu bem” – em uma possível referência velada à recente fala de Janaína.
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O advogado de defesa argumentou que a denúncia contra Dilma traz acusações “tão técnicas, tão sofisticadas, tão confusas, que a maior parte da população brasileira não saberá dizer exatamente qual é a acusação”. Cardozo sustentou que o processo contra Dilma teve início ainda em 2014, com a insatisfação por parte de alguns em função do resultado das eleições. Essa insatisfação, segundo o advogado, encontrou suporte no ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aceitou a denúncia contra Dilma em dezembro, logo após o partido da presidente negar apoio ao peemedebista no Conselho de Ética.
Cardozo criticou as acusações que embasam a denúncia, classificadas como “pretextos”. “São clamorosamente improcedentes as acusações, são pretextos; pretextos semelhantes àqueles que levaram que Dilma Vana Rousseff a ser condenada nas auditorias militares. Passado algum tempo, ninguém lembrará mais deles, porque são insustentáveis. Talvez o próprio Tribunal de Contas, diante da situação absurda que está gerando com as interpretações tenha que mudar, tenha que flexibilizar, porque, se ele não flexibilizar, ele mata todos os governos que se seguirem, e aí então a história documentará algo perverso: uma Presidente da República sendo condenada por uma tese episódica; criada para ela; em razão dela, e para condená-la”, argumentou o advogado.
Anistia
Lembrando da época em que estava à frente do Ministério da Justiça, Cardozo falou sobre a Comissão de Anistia, organismo que integra a pasta e tem o objetivo de reparar moral e financeiramente as vítimas de atos de exceção, arbítrio e violações aos direitos humanos. Ele fez um apelo para que o próximo ministro da Justiça peça desculpas oficialmente à Dilma, se o impeachment for concretizado.
“Se algum dia Dilma for condenada, que um novo Ministro da Justiça tenha dignidade de pedir desculpas”, disse Cardozo. “Que se peça desculpas a Dilma Rousseff se ela viera a ser condenada, que a história absolva Dilma Rousseff, se ela for condenada”, acrescentou, em função de uma eventual “pena de morte política” da presidente.
“Não aceitem que o nosso país sofra um golpe parlamentar e uma pessoa honesta, correta, íntegra tenha a pena de morte política para que, no futuro, alguém tenha que dizer: Me desculpe, Dilma Rousseff, pelo que a ditadura lhe fez e pelo que a nossa democracia também lhe fez”, concluiu Cardozo.
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