O apoio declarado pelo ex-líder da bancada na Câmara Jutahy Jr (BA) à candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP) à presidência da Casa evidencia um dos principais pontos do divisão interna. A aliança acabou sendo desfeita no primeiro turno, por causa do lançamento da campanha de Gustavo Fruet (PSDB-PR). Mas os votos dos tucanos foram decisivos para a vitória de Chinaglia no segundo turno.
"Os parlamentares do PSDB que apoiaram o candidato do PT maltrataram os 40 milhões de eleitores que votaram no PSDB nas últimas eleições, porque são contra os desmandos dos aloprados e outros que tais", afirma o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
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Destacado pela postura agressiva que adotou em relação ao primeiro mandato do governo Lula, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), defende que o partido faça uma oposição firme, mas racional, nos próximos quatro anos.
Logo após a reeleição de Lula, Virgílio foi criticado pelos colegas por ter aceitado viajar com o presidente, até Mato Grosso do Sul, para o velório do senador Ramez Tebet (PMDB-MS). Na ocasião, disse que o petista parecia mais humilde e que a oposição não se furtaria ao diálogo. Mas o senador foi repreendido, na seqüência, por Fernando Henrique.
Já o novo líder do partido na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), entende que o tom oposicionista precisa ser mais forte daqui para frente. "Calejado pelos quatro anos do primeiro mandato do PT, o PSDB deve exercer uma oposição mais forte, mais aguerrida", prega.
Para o deputado Paulo Renato Souza (SP), ex-ministro da Educação, os tucanos parecem ter vergonha de assumir o legado da gestão FHC. Como exemplo, ele lembra que tanto José Serra, em 2002, quanto Geraldo Alckmin, em 2006, tentaram descolar suas candidaturas da imagem do ex-presidente.
Segundo o deputado, o partido tem de se orgulhar de ter contido a inflação, estabilizado a moeda, implantado a Lei de Responsabilidade Fiscal e promovido o desenvolvimento do país com as privatizações.
"O PSDB hoje é um partido complexo", admite o presidente da legenda, o senador Tasso Jereissati (CE). "Não é como em 1994, quando havia seis cardeais que se reuniam e resolviam tudo. Com essa complexidade, e com as duas derrotas nas eleições presidenciais, passamos a impressão de um partido rachado."
Na semana passada, Jereissati anunciou a convocação de uma convenção partidária para o mês de julho, e já criou três grupos de trabalho. Um deles, que contará com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, vai se encarregar de elaborar um novo programa partidário.
"Tucanos comem a si mesmos", diz Lembo
Em entrevista à revista Istoé desta semana, o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo (PFL) lança severas críticas ao seu próprio partido e ao PSDB. Nascido para a política na Arena, berço dos pefelistas, Lembo diz que chegou o momento de o PFL dar fim a sim mesmo, deixar de ser a legenda dos coronéis e buscar bandeiras mais identificadas “com os pequeno-burgueses da cidade e do campo”.
“O velho PFL acabou”, decreta. Mas, na avaliação de Lembo, o partido não está sabendo ocupar o espaço político deixado pelo PSDB. “Os tucanos são autofágicos, comem-se a si mesmos. Isso não leva a nada, mas acho que eles não entendem”, critica.
A autocrítica partidária do ex-governador coincide com o momento em que a sigla discute a sua “refundação”, processo que deve culminar com a mudança de nome da legenda para Partido Democrata (PD), conforme aprovou esta semana a Executiva Nacional.
Dono de uma língua ferina, o ex-governador, que concluiu os últimos nove meses do mandato de Geraldo Alckmin, não poupa críticas ao seu sucessor, José Serra (PSDB), a quem aconselha ser “menos narcisista”.
“Eu creio que o governador Serra seja um homem tão preparado que não precisa de diálogos com pessoas que não tenham uma experiência tão grande quanto a dele. Ele certamente se acha mais experiente que os demais e por isso nunca precisou de nenhum diálogo comigo”, disse, ao lembrar que não foi procurado por seu sucessor para passar informações sobre sua gestão.
“Lamentavelmente, tenho até mais tempo de vida [que Serra]. E de política também. Eu vivi momentos muitos difíceis na política, mas isso é muito subjetivo e de cada um. Certamente cada um valoriza a sua vida e os momentos mais difíceis das suas carreiras. É preciso lembrar, porém, que no governo se pode tudo, menos ser narcisista”, emendou.
Para o ex-governador, os expoentes do PSDB, especialmente os de São Paulo, pecam pela soberba. “O tucano, em geral, tem uma introversão que o faz viver apenas no seu ninho e não permite uma boa relação com o mundo exterior. Salvo os tucanos, talvez, de outros Estados do Brasil. Aqui em São Paulo, o tucanato tem uma idéia própria de superioridade perante os outros. Isso é grave. O que temos visto no mundo é que quando a intelectualidade tenta dominar a sociedade, isso gera um grande problema.”
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