Entre os 513 deputados e 81 senadores do Congresso Nacional, há parlamentares que estão sempre rodeados, seja por jornalistas, seja por assessores, seja por visitantes, que muitas vezes pedem para tirar fotos com eles. Sem falar do cerco de outros congressistas, que não perdem a oportunidade de lhes fazer um mimo. São as estrelas do Parlamento federal.
No Senado, onde pontificam dois ex-presidentes da República – Fernando Collor (PTB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) – e vários ex-ministros, ex-governadores e poderosos caciques políticos, as estrelas são tantas que tentar enumerá-las seria no mínimo temerário. Ou resultaria em inevitáveis omissões ou em uma lista que terminaria longa e cansativa.
Tentar identificá-las na Câmara dos Deputados é mais estimulante. Primeiro, pela galeria incomparavelmente mais numerosa e diversificada de tipos que ela oferece. Segundo, pelo caráter de algum modo pedagógico da experiência. Não esqueçamos que, para a grande maioria dos brasileiros, os deputados são, com uma exceção ou outra, ilustres desconhecidos. Terceiro, porque é imenso o esforço que a maioria dos deputados faz para sair do estranho anonimato em que se encontra. Por um lado, tem indiscutível poder na república. Por outro, depende do infalível brochinho preso ao paletó para fazer conhecer sua identidade de parlamentar.
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Caçar estrelas na Câmara também é mais divertido por razões, digamos, institucionais. A Casa foi vista por muito tempo como o coração do Congresso, o motor das principais decisões, o cenário das batalhas mais sangrentas e dos acordos mais difíceis. Durante uma década, iniciada com a ascensão de Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) à presidência do Senado, ela perdeu parte desse charme. Nesse período, os senadores tiveram maior influência nos rumos do Congresso. Há sinais de que a Câmara, nesta nova legislatura, está recuperando o antigo protagonismo. Saber quem são seus principais ícones, portanto, diz alguma coisa sobre a natureza de um colegiado de inegável peso político.
As estrelas
Mas, afinal, quem é estrela na Câmara? Pelo menos cinco nomes são obrigatórios: Ciro Gomes (PSB-CE), Clodovil Hernandes (PTC-SP), Fernando Gabeira (PV-RJ), Antônio Palocci (PT-SP) e Manoela D’Ávila (PCdoB-RS). Vejam bem: eles são as estrelas, não necessariamente os mais influentes.
O ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que já foi ministro durante os governos Itamar Franco (Fazenda) e Lula (Integração Nacional), iniciou em fevereiro seu primeiro mandato de deputado federal. E a possibilidade de ser um forte candidato à Presidência da República em 2010 lhe garante, naturalmente, a condição de estrela. Conhecido por seu pavio curto, Ciro atende pacientemente a pedidos de fotos e é cortês com os colegas deputados. Perguntado se não se sente incomodado com tanto assédio, ele desconversa: “Eu é que fico assediando os parlamentares”.
Para outro ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, o assédio significa, além das fotos, atender a consultas dos parlamentares. Ele tem servido de conselheiro, principalmente quando o assunto é economia. Palocci, que saiu do ministério desgastado pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e por denúncias relacionadas com sua gestão de prefeito de Ribeirão Preto, ainda procura ser discreto. Mas se movimenta com desenvoltura crescente. Agora mesmo, anda viajando por cidades brasileiras para lançar seu livro Sobre formigas e cigarras.
O apresentador de TV e estilista Clodovil é alvo de intensa atenção pública, e é encarado como a principal atração da Câmara entre os visitantes e funcionários do Congresso. E tem correspondido às expectativas de pão e circo. No primeiro departamento, revela-se um deputado assíduo, que já apresentou vários projetos de lei, e não foge dos ossos do ofício parlamentar. No segundo, por exemplo, brinda o distinto público com a reforma do seu gabinete. Bancada por ele mesmo, custou R$ 200 mil e incluiu um sofá branco com o brasão da república e a escultura de uma cobra Naja, que sustenta sua mesa de trabalho.
Fernando Gabeira já era uma figura bastante conhecida quando chegou à Câmara pela primeira vez, 12 anos atrás (ele está no quarto mandato consecutivo). A crônica do guerrilheiro que conheceu o interior da luta armada e trouxe do exílio mensagens vigorosas para um novo tipo de esquerda o levou a capas de revista, ao mesmo tempo em que deixava de herança ótimos livros. Mas o interesse por sua atuação aumentou imensamente na legislatura quando passada, após seu decisivo desempenho em dois importantes episódios, a renúncia do ex-presidente Severino Cavalcante (PP-PE) e a instalação da CPI dos Sanguessugas. Ele virou uma referência ética.
Manoela, eleita musa do novo Congresso antes mesmo da posse, demonstra não gostar do título e, com discrição, se dedica à tarefa de aprender como funciona a Câmara, sem abandonar a produção do seu site. O que em nada altera o fato de ela ser seguida pelos olhares de todos que a cercam onde quer que esteja.
Subindo a escada
Fora as estrelas, há os carregadores de piano. São os deputados que detêm, de fato, o controle da Câmara. A começar pelo presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que é hoje, certamente, o mais influente dos 513 deputados federais. Ele pode não ter o glamour das estrelas, mas é um dos deputados que estão subindo a escada da fama. Enquanto consolida seu poder internamente, obtém crescente reconhecimento público.
Chinaglia passou a ter realmente destaque na bancada federal do PT após a crise política de 2005, que tirou de cena as principais lideranças petistas. Foi líder do seu partido e do governo. Com uma boa articulação política, tornou-se presidente da Câmara, dando início a uma administração que tem rendido elogios tanto da oposição quanto do governo.
Na lista dos parlamentares em ascensão estão os principais líderes partidários, como Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Luciano Castro (PR-RR), Luiz Sérgio (PT-RJ), Márcio França (PSB-SP), Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Fernando Coruja (PPS-SC), Chico Alencar (Psol-RJ); além do presidente nacional dos Democratas, Rodrigo Maia (RJ) e de José Múcio Monteiro (PTB-PE), parlamentar de quinto mandato revigorado recentemente ao receber a função de líder do governo na Câmara.
Há ainda o caso daqueles que já foram estrelas, ou pelo menos bastante influentes, e agora atuam longe dos holofotes. O ex-presidente nacional do PT José Genoino (SP), por exemplo. Foi um deputado federal de destaque durante seus cinco mandatos anteriores (20 anos). Nos quatro anos em que ficou distante da Câmara, viveu o céu e o inferno. Com a posse de Lula, em 2003, passou a ter trânsito livre no Palácio do Planalto e muita influência no governo e no próprio Congresso. Caiu do cavalo no curso das denúncias que ligavam o partido que ele presidia a operações irregulares, envolvendo seus dirigentes e o empresário Marcos Valério.
Genoino é assíduo nas sessões do Plenário e da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), nas quais faz muitas intervenções sobre os temas em discussão. Mas evita entrevistas, sobretudo quando elas podem incluir questões mais gerais da conjuntura política e econômica ou uma reflexão sobre a crise política de 2005. Para isso, permanece recatado. “Ainda preciso ficar na minha”, tem dito.
Bem mais discretos têm sido os deputados Paulo Maluf (PP-SP) e Valdemar da Costa Neto (PR-SP). Embora mantenham influência em seus partidos, pouco se manifestam nas sessões públicas da Câmara. O ex-prefeito e ex-governador de São Paulo Paulo Maluf anda mais empenhado em se defender nos diversos processos a que responde. Chegou a ser preso pela Polícia Federal, acusado de desviar milhares de dólares da prefeitura.
Valdemar, que presidiu o antigo PL (que, a partir da fusão com o Prona, deu origem ao PR), foi acusado de ser um dos principais operadores do mensalão. Valdemar renunciou para não ter o mandato cassado. Hoje, circula pouco pela Casa.
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