Thomaz Pires
Comentarista da rádio CBN e da Globonews, a cientista política Lúcia Hippolito acredita que a responsabilidade pela falta de discussão sobre programas de governo, tanto nestas eleições quanto em campanhas eleitorais anteriores, não pode ser atribuída apenas aos candidatos ou aos partidos políticos.
Para ela, o eleitorado brasileiro se acomodou com a falta de uma discussão ampla de propostas e passou a tolerar a eleição da “baixaria”. “O eleitor, infelizmente, gosta da disputa emotiva, com golpes abaixo da linha da cintura e muita lama. Assim ficamos acostumados. E, ao invés de debate, temos um clima de guerra entre candidatos. E o país é quem sai perdendo com isso tudo”, destaca.
Mesmo com uma visão otimista para eleições futuras, Lúcia Hippolito acredita que a campanha eleitoral deste ano seguirá o mesmo roteiro básico das acusações e denúncias verificado no passado recente. “A eleição mal começou e já estamos na guerra verbal”, avalia.
Oportunidade
Nestas eleições, pela primeira vez, os candidatos a presidente e a governador foram obrigados pela legislação eleitoral a entregar seus programas de governo no ato de registro da candidatura. A começar pelos presidenciáveis Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), porém, o assunto foi tratado com absoluto desdém.
Embora a cultura política recente do país e os ventos não pareçam muito favoráveis para tal, o Congresso em Foco tenta aproveitar a oportunidade oferecida pela temporada eleitoral e está estimulando o debate sobre os compromissos básicos que os candidatos deveriam assumir.
O primeiro passo nesse sentido foi a publicação de um texto, dirigido aos candidatos a presidente, que está aberto para ser modificado por todos os interessados na Etherpad, ferramenta interativa de uso bastante fácil.
Também estamos ouvindo intelectuais, analistas políticos e quem mais puder contribuir para responder à pergunta fundamental neste momento eleitoral: quais são, afinal, as principais exigências que devemos fazer dos candidatos?
Para o economista Walter Barelli e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um bom começo seria cobrar o respeito à ética e propostas destinadas à área social.
Lúcia Hippolito elogia a iniciativa do Congresso em Foco. “Acho que uma proposta básica pode ajudar, sim, a avançar no modo como escolhemos nossos políticos e conduzimos o debate”, observa. Ela acrescenta, no entanto, que o processo é lento e “pelo visto, não teremos grandes mudanças” nas eleições deste ano.
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