É de um eleitor do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o único recibo divulgado para comprovar a origem agropecuária dos recursos usados para pagar a pensão da filha de Renan com a jornalista Mônica Veloso. O peemedebista respinde a um processo no Conselho de Ética da Casa por ser acusado de ter suas despesas pessoais – no caso, a pensão da criança – pagas por Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior.

Para comprovar rendimentos maiores e, assim, poder pagar as contas de Mônica Veloso sem ajuda de terceiros, os advogados de Renan entregaram diversos recibos de venda de gado ao Conselho de Ética. Somente um deles foi entregue à imprensa na quinta-feira (14). E é justamente o de um eleitor do senador.

O corretor de bois José Reinaldo Pereira da Silva, 33 anos, diz que é “lógico” que é eleitor do Renan. “Ele tem feito um bom trabalho; só voto nele”, disse ele em entrevista ao Congresso em Foco ontem (15) à noite. Afirma que já comprou “mais de 100 cabeças” do presidente do Senado. Pelo recibo apresentado pelos advogados do senador, há dois anos, foram pagos R$ 20.216 por 20 bovinos que pesavam 354,66 arrobas – preço de R$ 57 por arroba.

José Reinaldo confirmou a compra. E defendeu seu candidato. “Se for tirar os políticos com problema, não sobra nenhum. Mas ele tem feito um bom trabalho aqui no estado, muita coisa boa. A imprensa só está querendo maltratar o rapaz”, afirmou ele, dono de dois pequenos frigoríficos, que abatem apenas 16 cabeças por semana. O comprador de gado afirmou que costuma revender a feirantes e açougueiros de Maceió a maior parte do rebanho que compra.

José Reinaldo disse que comprou bois do senador no ano passado e no retrasado. “Sempre compro”, afirmou o corretor. Entretanto, alega não ter feito negócios com Renan esse ano. Ele disse que atualmente compra bovinos a um preço médio de R$ 58 por arroba. O corretor demonstrou só ter contato com representantes do senador. Disse que só conhece Renan “pela televisão”.

Morador de Viçosa e com casa em Maceió, José Reinaldo é corretor de gado há 15 anos. Com o passar dos anos, abriu dois frigoríficos, um no município de Rio Largo – coincidentemente, o nome da uma fazenda de Renan. O outro abatedouro fica numa localidade chamada Tremembó, segundo o corretor. Ambos estão registrados em nome da microempresa J. R. Pereira da Silva–ME, criada em 2004.

Fachada

De acordo com o Jornal Nacional de ontem (15), Renan admitiu a entrega de recibos para empresas de fachada, conforme reportagem publicada pelo telejornal na quinta-feira. O parlamentar disse que a venda dos animais era intermediada pelo frigorífico Mafrial. Mas, de acordo com o Jornal Nacional, a dona do frigorífico, Zoraide Beltrão, afirmou não ter ligação com empresas fantasmas.

A proprietária declarou que “não existe mais” as empresas Carnal e GF da Silva Costa, abatedouros que compraram bovinos do senador, segundo os recibos apresentados ao Conselho de Ética. Segundo o Jornal Nacional, Beltrão disse que Mafrial tem negócios com Renan, apesar de essas operações não terem sido declaradas ao Conselho.

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