Edson Sardinha
"Ele está vindo para o nosso lado". O sujeito, no caso, é o ex-presidente Itamar Franco. A informação foi anunciada com entusiasmo pelo senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) a um colega de partido, logo após uma breve conversa por telefone ontem com o ex-presidente.
Foi Sérgio Guerra, coordenador da campanha do candidato à Presidência Geraldo Alckmin, quem recebeu a ligação. Durante o rápido diálogo, presenciado pelo Congresso em Foco, elogiou uma entrevista dada pelo ex-presidente e desligou o telefone reanimado.
A euforia de Guerra revela que, embora não tenha conseguido apoio no PMDB para se candidatar ao Senado em Minas Gerais, Itamar continua com prestígio em alta em Brasília.
As desilusões de Itamar
A aproximação de Itamar com a candidatura Alckmin é produto da sua mágoa com o presidente Lula. O ex-presidente o responsabiliza por ter sido preterido há duas semanas na convenção que lançou o ex-governador mineiro Newton Cardoso (PMDB) ao Senado.
Um dia antes da decisão, Lula se reuniu reservadamente com Newton, velho desafeto político de Itamar e principalmente dos petistas, e garantiu o apoio do PT mineiro ao ex-governador para compor uma aliança com o ex-ministro Nilmário Miranda (PT), candidato ao Palácio da Liberdade. Uma clara retaliação a Itamar, que não só havia declarado apoio à reeleição de Aécio Neves (PSDB) como havia defendido a candidatura do tucano ao Palácio do Planalto em 2010.
Leia também
Sem espaço no partido, Itamar acabou se desfiliando pela terceira vez do PMDB no início deste mês. Em 2002, o ex-presidente subiu no palanque de Lula. No ano seguinte, ganhou de presente do petista uma das embaixadas mais cobiçadas pela diplomacia brasileira: a da Itália. Devolveu o cargo no início do ano passado para articular sua volta ao Senado.
Há dois meses, acabou assumindo sua pré-candidatura à sucessão presidencial, mas viu seus planos serem abortados pela ala governista do PMDB. Foi quando dirigiu as atenções para a busca de uma vaga no Senado por Minas, disputa em que era dado como o candidato eleitoralmente mais forte.
A aproximação entre o ex-presidente e Alckmin ganha importância na semana em que os peemedebistas começam a definir a distribuição de seus palanques nos estados. Os movimentos ocorrem na medida em que petistas e tucanos oferecem espaço ao partido no próximo governo.
Palanques divididos
Na segunda-feira, um grupo que representa 14 diretórios regionais da legenda declarou apoio à reeleição de Lula. Anteontem, foi a vez do presidente nacional do partido, Michel Temer (SP), anunciar sua adesão à candidatura do tucano. "Eu hoje (terça, 11) estou declarando meu apoio a Geraldo Alckmin por duas razões: primeiro, para revelar que nem todo o PMDB optou por uma candidatura e, segundo, para revelar que há muitas divergências nos estados quanto a isso", declarou Temer.
O apoio do presidente do PMDB a Alckmin foi anunciado depois de uma conversa entre os dois em que teria sido acertado o conteúdo programático de uma eventual gestão do tucano na Presidência. O programa teria seis pontos: limitação ou extinção das MPs; maiores investimentos na segurança pública; reforma política; aumento no valor do Bolsa Família; reforma tributária em favor dos municípios; e desenvolvimento da indústria, comércio e agricultura para tornar desnecessários os programas assistencialistas.
No início da semana, o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou que o setor do PMDB que apóia o governo participará do comando da campanha do presidente Lula e da elaboração do programa de governo para o eventual segundo mandato. O partido, segundo o ministro, também integrará o eventual segundo governo de Lula, como já ocorre no atual.
"Se depender da minha opinião, o programa de governo não vai ser de um partido. Será um programa de diretrizes mínimas de uma coalizão. Esses partidos assumem a responsabilidade de que as suas bases acompanharão o partido como instituição e não se fracione em momentos importantes como vem ocorrendo desde 1988", argumentou Tarso, acrescentando que o PMDB deverá integrar essa coligação.
Além de Minas, Lula tem o apoio explícito do PMDB no Paraná de Roberto Requião, em Goiás e em vários estados das regiões Norte e Nordeste. Um de seus principais aliados no partido é outro ex-presidente, o senador José Sarney, que lhe oferece apoio duplo. No Maranhão, onde a filha, a também senadora Roseana (PFL), tenta se eleger governadora pela terceira vez. E no Amapá, onde Sarney concorre a um novo mandato de oito anos no Senado.
Na semana passada, Lula premiou os peemedebistas aliados com a presidência e três diretorias dos Correios. O presente foi encarado pela oposição como moeda de troca eleitoral. A nomeação ocorreu um ano após a direção da estatal ter sido demitida em conseqüência do flagrante de propina de um funcionário da empresa que levou à criação da CPI dos Correios.
Para Sérgio Guerra, o PMDB de melhor qualidade ficou com Alckmin. "O PMDB real está conosco. O PMDB que tem história, que está fora da coligação da crise que resultou no mensalão e tanta coisa, está cada vez mais perto de nós", disse ele ao Congresso em Foco.
Deixe um comentário