Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no programa “Com a palavra”, apresentado por Mariana Monteiro e Márcio Salema na Rádio Câmara:
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Imaginemos que o seu telefone seja um robô. E tudo o que você quer que ele faça daqui para frente não dá muito certo. Você manda o seu telefone desligar, mas ele continua funcionando. Você ordena que faça uma ligação para sua tia, mas ele vai chamar a sua mãe. Você quer limitar o número de mensagens por dia, mas ele não para de apitar. A tecnologia e seus aplicativos antecipam um pouco aquilo que a gente já ouviu nos filmes de ficção, e as teorias conspiratórias que jogam máquinas contra homens, e vice-versa. Outro dia falamos aqui da inteligência artificial e como dominar esse conhecimento em prol da sociedade, não contra ela.
Dominar é justamente o cerne dessa discussão. Diríamos que não sabemos quem domina quem: a tecnologia é que manda no homem ou a ciência cria necessidades que os homens nem sabem que as têm, como diria Steve Jobs. Lembremos que as leis da Robótica, idealizadas pelo cientista Asimov, não passam, ainda, de teorias, por mais verossímil que seja o risco de um robô atacar um humano.
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Assim que se lança uma inovação no mercado, até que ela se complete, ninguém sabe no que vai dar, mas é certo que todo mundo vai ter que se mexer, ou seja: se adapta, imigra, ou morre! Foi o que aconteceu com o mercado de TV analógica, depois o de discos e CDs, então o mercado audiovisual e até mesmo a telefonia sente o estrondoso impacto da digitalização dos meios, ou seja, as pessoas não se comunicam mais como antes, sequer vivem mais como antes. E o vendaval chega agora ao setor de transporte urbano. Consagrado pela voz da Angélica, o melô musical “vou de táxi” já perdeu espaço para o “vou de Uber”, o aplicativo que atendeu a uma demanda latente gerada durante anos por um transporte público coletivo ineficiente, inseguro e inexplicavelmente oneroso.
Eu não diria que somos testemunhas de mais um prelúdio de um modelo que terá que se modernizar para sobreviver, que é o transporte individual pago – e muito bem pago! A questão não é saber se o Uber vai pegar ou não, mas, sim, quando é que Uber e táxis serão um só, já que os aplicativos que conectam motoristas e passageiros são insuperáveis! Embora tenha levado a fama, balinha não é a razão da popularidade ao Uber, mas sim a revolução que esse aplicativo representou na vida de quem precisa de um transporte seguro, rápido e acessível, tanto do ponto de vista do tempo quanto financeiro.
O Uber permite que você saiba desde o nome do motorista até a placa do veículo. Ponto para a segurança. O sistema também lhe faculta a chance de acompanhar a corrida online, como num joguinho de videogame. Ponto para comodidade e, de novo, segurança. Permite ainda identificar pontos de tráfico intenso à frente e fugir dos engarrafamentos. Valeu pela eficiência. O dito “sistema” ainda garante para você o feedback perfeito, em que motoristas e passageiros avaliam-se mutuamente, e mais: se deu chabu na corrida, você ainda é reembolsado pelas voltas a mais que o motorista eventualmente tenha dado. Basta avaliar o seu histórico de corridas, valor médio das mesmas, etc…
A ferramenta é imbatível naquilo que o consumidor mais precisa: agilidade, confiabilidade, excelente custo-benefício. Barrar essa evolução não é apenas um contrassenso. Seria o mesmo que as telefônicas bombardeassem as torres de telefonia móvel, e fuzilassem cada aparelho celular comprado nas lojas, que acabou por aposentar aquele velho telefone fixo em cima da mesinha da sala.
Não há diques para conter os avanços da tecnologia, mas é de ciclos – avanços e recuos – que vivem as inovações no mundo.
Ao contrário, o sociólogo francês Dominique Wolton, no livro Internet, e depois – Uma teoria crítica das novas mídias, fala da valsa dos modismos e das revoluções, descrito como um movimento de ioiô, ou seja, “os homens, frente às tecnologias de comunicação, estão, como o coelho branco de Alice no País das Maravilhas, sempre atrasados, sempre com pressa, sempre obrigados a ir mais rápido”!
É disso que tratamos ao analisarmos as inúmeras emendas ao Projeto de Lei 777, de 2015, que poderão ser apreciadas hoje na Câmara Legislativa, regulamentando o uso do aplicativo Uber no Distrito Federal. Ignorando que o usuário quer qualidade, conforto e a oferta de um serviço que hoje lhe é negado, por restrições financeiras, os deputados distritais tentam colocar barreiras ao avanço do Uber. Por quê? Para manter o mercado dos táxis como está?
O regulamento do aplicativo não limita o número de motoristas que podem circular nas ruas, porque esta é uma questão de mercado, da famosa lei da oferta e da procura. O cliente é que manda. O projeto de lei, no entanto, limita o número de motoristas que poderiam usar uma plataforma como a Uber a 50% da quantidade de táxis. Vale lembrar que o Uber nasceu com o espírito de carona solidária, e por isso é bem mais acessível.
Outra coisa: querem que os taxistas licenciados tenham preferência no uso da plataforma Uber. Mas onde está a democratização do sistema, com chances iguais para todos? O que menos queremos são velhas práticas e velhos preços.
Adotar a plataforma nesse transporte individual é permitir que uma viagem seja mapeada de ponta a ponta, ou seja, do momento em que o passageiro entra até a hora de desembarcar do carro, e isso é fantástico.
Além do sistema de pontuação, rankeamento e avaliação sistêmica que é feito entre motoristas e passageiros, cuja consequência é um controle de penalização ágil e eficaz. Ou seja, o sistema qualifica, afere, pune e corrige tudo que o motorista faz, do valor da corrida até o itinerário escolhido, funcionando como um potente filtro digital dos melhores e dos piores motoristas. Só sobrevivem com esse nível de competição no mercado os melhores!
Ontem ouvi no rádio que, como está, o Uber promove forte competição desleal com os taxistas, e não há dúvida de que a tecnologia é disruptiva: é um divisor de águas no mercado dos táxis que não se conseguirá conter com uma canetada. Não tem projeto de lei que segure essa nova tendência da comunicação e do transporte individual.
Cabe sim à Câmara Legislativa tirar as camisas de força e enquadrar a empresa Uber e seus associados nas regras da economia brasileira, recolhendo impostos, prestando contas, passando por uma fiscalização de seus sistemas e veículos. Mas outra coisa é fazer com que as regras que beneficiam o conjunto da sociedade sejam subvertidas por normas ultrapassadas de uma classe trabalhadora que merece o nosso respeito, mas não nosso apoio à sua resistência e ofensiva de gueto.
Aposto que, se perguntassem para a cantora Angélia, hoje ela diria: “Vou de Uber, você sabe”. E o dia chegará em que ninguém mais terá saudades do uso da truculência, que assistimos hoje nas ruas, como ferramenta, eu diria inútil, para conter o que a telemática revoluciona sem saber!
Imagine se os fabricantes de TV tivessem mandado quebrar todos os computadores lá pelos idos de anos 1990, o que seria de nós, Doutor Smith! A briga hoje na Câmara Legislativa não é entre os com e os sem aplicativos, mas é apenas um duelo de escolhas: de um lado, está a sociedade. Do outro, bem, nós já sabemos…
Mande suas dúvidas e sugestões para papodefuturo@camara.leg.br
Coluna produzida originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara. Pode haver diferença entre o áudio e o texto.
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