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Em sua primeira entrevista coletiva, na última sexta-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu, de algum modo, a seis das 26 perguntas formuladas pelo articulista Antonio Vital no Congresso em Foco. Durante uma hora e meia, Lula foi questionado por 14 jornalistas que acompanham as atividades do Palácio do Planalto (leia mais). Figuram, abaixo, as declarações do presidente que – de uma forma ou de outra – respondem aos questionamentos levantados pelo colunista na véspera da coletiva: – Concorda com a afirmativa de Hugo Chávez de que os Estados Unidos estão buscando um pretexto para atacá-lo, de olho apenas no petróleo venezuelano – como fizeram no Iraque? O que disse Lula sobre as divergências entre EUA e Venezuela Leia também “Olhe, eu não vejo nenhuma possibilidade de haver um conflito maior entre Estados Unidos e Venezuela. (…) Ainda esta semana (a passada), eu recebi a Secretária de Estado dos Estados Unidos aqui, e eu penso que nós estamos andando a passos largos para que haja uma grande harmonia entre Estados Unidos e Venezuela, até porque nós, do Brasil, temos todo o interesse em que no nosso continente haja a maior tranqüilidade. Os Estados Unidos importam 15% do petróleo da Venezuela, os Estados Unidos são o maior importador de petróleo da Venezuela, portanto, a Venezuela precisa dos Estados Unidos, os Estados Unidos precisam da Venezuela, portanto, não há nenhuma razão para os dois estarem brigando. Eu, depois da reunião com a secretária Condoleezza, fiquei convencido de que as coisas vão andar muito melhor daqui para a frente, e naquilo que o Brasil puder contribuir, nós vamos contribuir para que as coisas se firmem e para que a gente possa ter uma tranqüilidade muito forte aqui no nosso Continente. Nós precisamos de paz para que a gente possa pensar no desenvolvimento, no crescimento econômico e na geração de riqueza do nosso país.” De que maneira os brasileiros podem usar seus traseiros para baixar os juros se as taxas cobradas pelos bancos são muito parecidas entre si, inclusive as dos bancos federais, como o Banco do Brasil e a Caixa? O que disse Lula sobre os juros bancários “O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, embora sejam bancos públicos, funcionam como se fossem bancos privados, para muitas coisas; não funcionam para o crédito agrícola, não funcionam para o Pronaf, não funcionam assim para o crédito consignado. E mesmo no cartão de crédito, que é onde eles cobram mais, eles cobram mais barato do que alguns bancos. Mas um banco reduziu a taxa, na expectativa de que os clientes dos outros bancos saíssem para ele. E ele ficou muito chateado porque não saíram, ou seja, ou a propaganda não foi correta ou não é tão simples fazer uma pessoa se mover para que ela troque de banco. Nós, agora, fizemos um acordo na Previdência, em que o aposentado não precisa tomar dinheiro emprestado no banco em que ele tenha conta, ele vai tomar dinheiro emprestado em qualquer banco, porque a conta dos bancos, a conta da Dataprev estará conectada com os bancos, e o banco vai saber, em tempo real, o cidadão que pegou dinheiro, portanto, vai descontar na folha de pagamento. Eu digo sempre, e tenho pedido, em todos os debates que eu faço, para que os comerciantes em cada cidade se organizem em cooperativas. Até porque eu tenho um sonho de transformar o Brasil no maior país cooperativado do mundo, porque eu conheço algumas regiões, em que prevalecem as cooperativas, que se desenvolveram muito, as pessoas são mais solidárias, as pessoas não precisam trocar uma duplicata de 30 mil reais num banco, porque o banco cobre em função do direito de pagar ou não. (…) Eu penso que, ao invés da gente ficar brigando, a gente deveria ir criando formas de organização, criando as alternativas para que, um dia, o banco perceba que ninguém está indo lá buscar dinheiro, aí ele nos procure, dizendo “olha, eu estou oferecendo um juro mais baixo para vocês”. Isto já está acontecendo com o crédito consignado, que talvez tenha sido a maior revolução bancária que aconteceu nesses últimos anos no Brasil. O trabalhador deixou de pegar dinheiro com agiota, deixou de pagar 8.5% no cartão de crédito, deixou de pagar o cheque especial, e agora ele vai e pega dinheiro com contrato feito com o sindicato e com os bancos, tanto da CUT, quanto da Força Sindical. (…) Eu acho que já está mais baixo (o juro cobrado pelos bancos oficiais sobre o cheque especial) do que os bancos privados. E eu acho que temos que trabalhar para que eles baixem mais. (…) Eu, enquanto cidadão, se tiver um cartão de crédito, não posso deixar estourar, porque se eu deixar passar a data de vencimento, eu vou pagar um juro que eu não posso pagar. E se eu não conseguir pagar em um mês, eu não consigo pagar no terceiro, não consigo pagar no quarto. É por isso que os bancos colocam uma taxa de juros alta, para poder colocar na conta dos bons pagadores aquilo que ele perde com a inadimplência das pessoas que não podem pagar. E, na minha opinião, nós só vamos mudar isso na medida em que o povo começar a agir com mais cobrança, não apenas que o governo faça – o governo pode fazer, pode brigar para fazer, pode mandar projeto de lei – mas a sociedade, por si só, pode ir reeducando o sistema financeiro brasileiro para entender que nós somos um país capitalista, que precisamos ter dinheiro em circulação, e que o nosso povo precisa – quando precisar – ter direito a um empréstimo a juros condizentes com a sua possibilidade de pagar.” – Ainda quer a independência do Banco Central? O que disse Lula sobre a autonomia do Banco Central “O Banco Central tem muita autonomia no meu governo, muita autonomia. Eu sei que no Senado Federal começou uma discussão que eu acho que deva ser assim, vamos deixar o Congresso Nacional discutir, vamos fazer com que os especialistas do Brasil discutam e se, em algum momento, entenderem que a autonomia do Banco Central pode dar no resultado que você disse, que o Palocci disse que dá, de que a autonomia vai fazer baixar os juros, ora, eu seria louco se não fizesse. Agora, na teoria, a prática é outra, ou seja, ninguém pode garantir que a autonomia, por si só, resolva o problema do Banco Central. Eu sei que na maioria dos países do mundo o Banco Central tem autonomia. Eu não faço disso uma profissão de fé e tampouco uma questão ideológica. Eu acho que a questão do Banco Central não pode ser tratada do ponto de vista do debate político e ideológico que se dá na sociedade; ela tem que ser tratada do ponto de vista técnico, com especialistas, para que as pessoas possam efetivamente não ver o Banco Central vulnerável e, a cada dia, alguém fazer um discurso pedindo a cabeça do Banco Central ou de um funcionário do Banco Central, porque aí você passa muito mais desconfiança, vai gerar muito mais vulnerabilidade ao comportamento do Banco Central. Agora, vamos esperar esse debate. Eu não faço disso uma peça de campanha, uma determinação de Programa. Se chegar, no momento certo, a partir dos debates que estão se iniciando, de que isso é possível e que isso melhora, eu não vejo por que não fazer. Mas pode ser que cheguemos a uma posição diferenciada. E aí nós temos que trabalhar, qualquer que seja a autonomia ou não do Banco Central, trabalhar para que ele possa fazer cada vez mais e cada vez melhor, para que a gente tenha os juros cada vez mais baixos e para que os juros não sejam o único instrumento de controle da inflação. Não pode ser a taxa de juros para conter a demanda, o único motivo. Nós precisamos criar outros mecanismos.” Põe a mão no fogo por Jucá? O que disse Lula sobre as denúncias contra Romero Jucá “Eu primo por entender que todo ser humano é inocente até prova em contrário. Você não pode crucificar ou decretar pena de morte para ninguém por causa de denúncia. A denúncia, tem que apurar. Quando eu discuti com o PMDB e o ministro Jucá veio a ser ministro, antes dele aceitar, ele me trouxe uma série de acusações contra ele e me trouxe uma série de documentos provando o que ele já tinha feito. O ministro Jucá vai ao Ministério Público e pede ao Procurador-Geral para ser investigado rapidamente, manda um ofício à Polícia Federal pedindo que seja investigado rapidamente. Eu sou como ele, obrigado a esperar que haja a investigação e que haja, ou uma decisão, como já tem no Tribunal de Contas, de que não tem nenhum erro, não tem nenhum problema na vida dele, naquilo que ele está sendo acusado, ou uma declaração do Ministério Público ou da Polícia Federal dizendo: “olhe, ele está culpado nisso ou ele está inocente nisso.” Eu sou obrigado, até por convicção e respeito ao direito de prova das pessoas, a que as pessoas sejam julgadas corretamente, analisadas corretamente. Na hora em que tiver esse veredicto, eu tomarei a posição que tiver que tomar. Por enquanto, o ministro Jucá está cumprindo uma tarefa que eu dei a ele, que é o de tentar, de uma vez por todas, acabar com o déficit da Previdência Social, diminuindo muito o déficit no ano de 2005 e diminuindo muito no ano de 2006. É essa a tarefa. Até prova em contrário, ele vai continuar fazendo esse trabalho muito bom que está fazendo. Ontem (28/04/05), me fez a primeira apresentação do começo do que está acontecendo. Já diminuiu o déficit nesses dois meses e nós vamos diminuir mês a mês o déficit da Previdência.” E por Henrique Meirelles? O que disse Lula sobre as denúncias contra Henrique Meirelles “O Supremo Tribunal Federal tem todos os poderes e não cabe ao Presidente da República tomar nenhuma decisão de crítica a uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Ora, se o Supremo Tribunal Federal abrir uma investigação, é uma investigação. Eu só posso tomar uma atitude quando houver uma conclusão. O que quero para mim, eu faço para os outros. Eu não quero ser julgado antecipadamente, eu quero que me dêem o direito de defesa. O fato de o Supremo começar a investigar, pode chegar no final e concluir que todas as coisas que foram levantadas contra o Presidente do Banco Central não tem procedência. Se eu tiver tirado antes, eu terei criado um problema político desagradável, porque julguei antecipadamente uma pessoa. Então, vamos esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal.” Aliás, para que serve se sentar no Conselho de Segurança da ONU? O que disse Lula sobre o Conselho de Segurança da ONU “Com relação à ONU, o Brasil já era para estar na ONU desde 1945, quando foi criada a ONU. O Brasil não entrou, o Brasil defende a democratização das Nações Unidas, defende, sobretudo, a democratização do Conselho de Segurança, defende a participação de representações por continente, pela África, que pode ter dois, pela América do Sul, pela Ásia, e o Brasil reivindica para si essa vaga, por ser o maior país da América do Sul e da América Latina, por ser um país de maior número de habitantes, o país de maior extensão territorial, então, nós temos o direito de reivindicar. Estamos reivindicando. Primeiro precisamos garantir que haja reforma (da ONU), segundo, tendo a reforma, precisamos garantir a nossa participação e eu acho que isso vai ser bom para a ONU, porque quanto mais democrática for a ONU, mais ela vai poder realizar tarefas que possam garantir maior harmonia no mundo inteiro.”
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