Edson Sardinha |
Sambista de primeira hora, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), tem atravessado o samba nas articulações que interessam ao governo. O descompasso no discurso tem desagradado aliados e oposicionistas. Nos bastidores, o que se comenta é que o discreto senador Tião Viana (AC) continua respondendo pela bancada do partido. A serenidade do senador, considerado o mais tímido dos líderes no exercício do cargo no ano passado, estaria em alta entre as lideranças diante do estilo pouco conciliador da catarinense. Para desgosto de Ideli, Viana continua sendo ouvido durante as reuniões feitas pelos líderes partidários para discutir a pauta de votação. Depois de uma rápida ascensão política no Senado, logo em seu primeiro ano de mandato, a senadora estaria se ressentindo da falta de traquejo e de trânsito pelos bastidores do poder em Brasília. Dificuldade admitida pela própria senadora, em conversa reservada com deputados petistas mais experientes, a quem ela procurou nas últimas semanas em busca de apoio. Leia também Ainda assim, reconhecem os seus adversários, Ideli é uma das poucas figuras do partido que se dispõe, a todo custo, a defender o governo até as últimas conseqüências. O problema estaria na maneira nem sempre cordata de suas ações. E na relativa falta de habilidade em determinadas situações. Na mesma quarta-feira em que o governo foi derrotado na MP dos Bingos, os aliados levaram um susto ao perceberem que a oposição conseguiu instalar uma comissão especial para analisar a MP que fixa o salário mínimo em R$ 260,00. O Palácio do Planalto ficou ainda mais irritado ao saber que Ideli, como líder dogoverno, tinha indicado para vice-presidente da comissão o senador Paulo Paim (PT-RS), ardoroso defensor do mínimo de U$S 100. Na votação da MP dos Bingos, Ideli provocou irritação e constrangimento, inclusive na base aliada, ao afirmar que os senadores que votassem contra a medida provisória que proibia o funcionamento das casas de bingo e caça-níqueis no país estariam dando um voto favorável ao narcotráfico. O discurso, transmitido ao vivo pela TV Senado, municiou a oposição, ao despertar a lembrança de que, dias antes de editar a MP 168/04, o governo havia concluído projeto de lei regulamentando esse mesmo tipo de jogo no país. Durante o processo de votação, o PT ficou sem quatro votos que poderiam ter revertido o placar apertado de 32 a 31 em favor da rejeição da medida provisória. Além do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que teve de viajar para acompanhar o enterro de um familiar, não registraram presença em plenário os senadores petistas Cristovam Buarque (DF), Ana Júlia Carepa (PA) e Flávio Arns (PR). Os líderes dos demais partidos aliados não conseguiram manter a fidelidade de suas bancadas. O líder do governo no Senado, aliás, tem feito companhia a Ideli no balaio alvejado pelos críticos da articulação do governo no Congresso. A diferença está no prestígio que Mercadante mantém como parlamentar experiente e integrante da cúpula petista. Ainda assim, ele não escapa da crítica de colegas de partido, que o consideram bastante auto-suficiente e suscetível à exposição de flashes e holofotes. A própria oposição reconhece, por outro lado, que, se Mercadante estivesse presente, dificilmente o governo teria sido derrotado. O problema em relação a Mercadante não é os atritos que tem com a oposição, mas as brigas em que se mete com os próprios aliados, como o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Desafeto de João Paulo, com quem disputa espaço no PT paulista, Mercadante tem articulado contra a emenda da reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado – para irritação do Palácio do Planalto, interessado na recondução de João Paulo e Sarney nos cargos. A briga com Sarney parece superada depois de um almoço entre os dois, na mesma quarta-feira da derrota da MP dos Bingos, promovido pela senadora Roseana Sarney (PFL-MA). Colaborou: Antonio Vital |
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