Dubai é uma pequena cidade localizada na Península Arábica. Trata-se de um lugar quente, quase que inóspito, cercado de areia por todos os lados. Há uns dez anos seria difícil encontrar pelo mundo afora quem sequer soubesse a localização dessa cidade.
Mas eis que a lucidez de uma elite dirigente em poucos anos transformou um lugar inóspito em um verdadeiro oásis. Edifícios prodigiosos e hotéis luxuosos floresceram praticamente no meio do nada. Surgiram restaurantes e hotéis submarinos, parques aquáticos e até, para espanto geral, uma inacreditável estação de esqui na neve.
Os resultados não demoraram a aparecer: em 2007 a pequena cidade de Dubai recebeu em seus hotéis a impressionante massa de 5.863.509 turistas. Projeta-se já para 2015 um número de 15 milhões de turistas oriundos de todas as partes do planeta visitando aquela cidade.
Nos Estados Unidos, há algumas décadas, a Flórida era apenas um lugar bastante quente e seco. Mas buscou-se força exatamente na fraqueza – como turistas não buscam lugares úmidos e frios, lá estava, no defeito, a grande virtude daquela região.
Leia também
E foi assim que surgiram parques temáticos, atrações sofisticadas e hotéis luxuosos. Essa política de longo prazo resultou em números vistosos: 76,8 milhões de turistas foram visitar a Flórida em 2004 e lá geraram espantosos US$ 57 bilhões.
Enquanto isso, o Brasil amarga um humilhante 41º lugar (dados de 2007) na relação de países que mais recebem turistas. Perdemos até da Croácia e da Tunísia. Só para termos uma pequena noção dos números, a cidade de Hong Kong recebeu, sozinha, 17,2 milhões de turistas. O Brasil inteiro, apenas cinco milhões. Só a Flórida, 76,8 milhões; o Brasil, 5 milhões! Dubai sozinho, 5,8 milhões; nosso país de norte a sul, apenas 5 milhões.
Deixamos de ganhar muito dinheiro com isso. Em 2007, a indústria do turismo movimentou US$ 856 bilhões, gerando renda e criando empregos em muitos países — e quase nenhum no nosso, que recebeu apenas 0,59% do total de turistas que viajaram pelo mundo.
É difícil de entender esse quadro. O Brasil é belíssimo, tem um clima ameno e um povo acolhedor. Não nos faltam mão de obra, atrativos, espaço ou seja lá o que for. Até nossa localização geográfica ajuda: estamos a umas oito ou nove horas de voo tanto dos Estados Unidos como da Europa.
A quem disser ser esse quadro decorrente da falta de propaganda no exterior, responderia que não. E assim porque não há publicidade que consiga atenuar os efeitos do noticiário quase que diário sobre nossos inacreditáveis índices de criminalidade.
Seja em jornais de Taiwan, britânicos, norte-americanos, franceses, portugueses ou australianos, é corriqueiro encontrarmos expressões como “mais de 150 brasileiros são assassinados a cada dia” (agência Reuters), “o Brasil é notório por suas altas taxas de criminalidade” (jornal Taipei Times), etc.
Aliás, há um estudo da Fundação Getúlio Vargas nesse sentido, comprovando que quanto mais se mata no Brasil menor o fluxo de turistas. Assim, entre 1987 e 1994, o número de homicídios no Rio de Janeiro triplicou. Não por acaso, o número de turistas encolheu 17%. Esses dados se repetiram entre 1988 e 1990. O número de homicídios no Rio de Janeiro dobrou e o número de turistas diminuiu 37%.
Diante deste quadro fico a pensar até quando o Brasil adiará o já inadiável debate que se impõe sobre essa espantosa taxa de criminalidade que nos macula e infelicita, colocando em risco o próprio desenvolvimento nacional.
Assine a Revista Congresso em Foco em versão digital ou impressa
Deixe um comentário