O delegado Edmilson Bruno, responsável pela prisão dos petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, com R$ 1,7 milhão, num hotel em São Paulo, pode ter tido uma participação fundamental no vazamento para a imprensa das fotos do dinheiro apreendido com petistas.
Segundo o Correio Braziliense, um CD obtido pelo jornal "mostra, com detalhes, como o delegado Edmilson Bruno vazou para a imprensa, dois dias antes da eleição no primeiro turno, as fotos do dinheiro apreendido com petistas para a compra de um dossiê contra tucanos".
De acordo com a reportagem, de Gilberto Nascimento e Leonardo Fuhrmann, o delegado revelou, nessa conversa gravada, o nome de dois empresários – Vicente e André De Noce, pai e filho – suspeitos de serem os donos de pelo menos parte do dinheiro apreendido.
Na gravação, o delegado diz que Vicente e André costumavam socorrer o PT com empréstimos. "É como se fosse um agiota". E acrescenta: "Toda vez que o PT está precisando de dinheiro, ele socorre. Esse dinheiro vem por fora. O PT está com a grana lá fora. A grana está vindo, o De Noce banca, depois ele devolve", afirma.O delegado também diz, em outro trecho, que o PT devolveria o dinheiro "quando faz as tramóias".
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Bruno também menciona o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Toda a vez que o PT precisa de dinheiro, o Zé Dirceu vai lá e eles dão dinheiro para o PT", acusou. "É um nome [De Noce] que vocês podem jogar para ser investigado".
Questionado se a apuração da PF também apontava para os De Noce, o delegado se esquivou. "Não sei se está. Estou achando que uma parte dos reais foi o André De Noce que deu".
Vicente De Noce negou a acusação. "Não temos nada a ver com isso. A acusação é falsa e mentirosa. A verdade vai aparecer. Não mexemos com esse tipo de coisa, não temos qualquer envolvimento e não conhecemos nenhuma das pessoas envolvidas nesse episódio lamentável", reagiu.
Em outro trecho da gravação, o delegado pede aos profissionais de comunicação para contar que o material havia sido roubado de sua sala. "Vou chegar agora para o superintendente e dizer: ‘Doutor, me furtaram’", disse Bruno. "O que vai parecer é que alguém roubou e vazou na imprensa. Porque só eu tenho isso aí (as fotos). Eu e os peritos. Mais ninguém tem, nem o superintendente".
Vedoin afirma que Abel conseguiu liberar R$ 3 milhões
Em depoimento prestado na quarta-feira (11) à Justiça Federal em Cuiabá, o sócio-proprietário da Planam, Luiz Antonio Vedoin, apontado como chefe da máfia dos sanguessugas, declarou que o empresário Abel Pereira, amigo do ex-ministro da Saúde (2002) e atual prefeito de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB), conseguiu liberar R$ 3 milhões em verbas do ministério após receber propina, em 2002, na gestão FHC.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o advogado de Abel Pereira, Eduardo Silveira, disse que o empresário nunca atuou no ministério para liberação de verbas. "Para provar a inocência, ele colocou à disposição os sigilos bancário, telefônico e fiscal (na terça-feira) antes de a Justiça Federal determinar a quebra deles", afirmou o advogado.
Durante o depoimento, Vedoin contou que acertou o pagamento de propina de 6,5% a Abel por verba liberada. Disse ainda que Abel indicava empresas em cujas contas deveria ser depositado dinheiro. Luiz Antonio Vedoin entregou quatro comprovantes de depósitos de dezembro de 2002 a janeiro de 2003, que somam R$ 183,5 mil, além de três cópias de cheques.
Pressão
Vedoin também afirmou que os ex-petistas Oswaldo Bargas e Expedito Veloso pediram que ele citasse os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin em entrevista à revista IstoÉ. A Polícia Federal investiga a possibilidade de que a entrevista dada à revista era parte do dossiê contra tucanos, que seria negociado com os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, no Hotel Íbis, em São Paulo, no dia 14 de setembro.
Abel Pereira nega acusação de Vedoin
Segundo matéria publicada ontem (12) pela Agência Folha, o empresário Abel Pereira disse, por meio de seu advogado, que é improcedente a "afirmação feita por Luiz Antonio Vedoin à Justiça Federal em Cuiabá de que Abel conseguiu, em 2002, liberar R$ 3 milhões em verbas do Ministério da Saúde após receber propina, na gestão do tucano Barjas Negri".
De acordo com a reportagem, de Maurício Simionato, "o advogado de Abel Pereira, Sérgio Pannunzio, seu cliente esteve apenas uma vez no Ministério da Saúde, em 2002, para intermediar a liberação de verbas para a construção de um hospital em Jaciara (MT). O empresário disse que esteve no gabinete de Barjas acompanhado pelo ex-prefeito da cidade, Valdizete Martins Nogueira (PPS)".
Abel admite conhecer a família Vedoin, da qual foi sócio em uma empresa de produção de leite, em Jaciara. O ex-ministro Barjas Negri, atual prefeito de Piracicaba, não foi localizado pela Agência Folha para comentar o assunto. Em entrevistas anteriores, ele disse que não teve qualquer envolvimento com a máfia das ambulâncias e jamais teve contato com os Vedoin.
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