O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), integrante da CPI dos Sanguessugas, revelou ao Correio Braziliense que o delegado da Polícia Federal (PF) do Mato Grosso Diógenes Curado, responsável pelas investigações do dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), já tem uma história montada sobre o caso.
De acordo com o parlamentar, o esquema não representou uma tentativa de reverter a disputa pelo governo paulista, pois teve início antes de agosto (quando começou a propaganda eleitoral gratuita e a eleição passou a pender para a vitória de Serra).
Além disso, segundo o deputado, a operação contou com a participação ativa da cúpula da campanha do presidente Lula, incluindo o deputado Ricardo Berzoini, que se licenciou do cargo de presidente nacional do PT em razão da repercussão do episódio.
Novela do dossiê
Conforme a versão apresentada à comissão, o ex-diretor de gestão de risco do Banco do Brasil Expedito Antônio Veloso foi a primeira pessoa a se movimentar, reunindo informações sobre a relação dos acusados de participarem da máfia das ambulâncias com o empresário paulista Abel Pereira.
Abel, na época, era muito próximo do ex-ministro da Saúde e atual prefeito de Piracicaba (SP), Barjas Negri (PSDB). Graças a essa relação, o empresário funcionava como laranja no pagamento de propinas a Negri.
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Essa descoberta era exatamente o que o PT procurava para culpar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pelo esquema dos sanguessugas. A partir da confirmação, Expedito teria alertado o ex-analista de risco e mídia da campanha do presidente Lula, Jorge Lorenzetti, sobre as informações.
Depois disso, Expedito foi três vezes a Cuiabá e negociou pessoalmente com Luiz Antônio Trevisan Vedoin, um dos donos da Planam, o conteúdo do dossiê, assim como uma entrevista dele atestando a autenticidade da documentação a algum veículo de amplitude nacional.
Segundo concluiu o delegado da PF, Lorenzetti acompanhou Expedito em pelo menos duas dessas viagens. Inclusive o amigo pessoal de Lula teria sido quem negociou o preço da armação com Vedoin.
Com a autorização de Berzoini, Lorenzetti teria encarregado o ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista, Hamilton Lacerda, de arrecadar o dinheiro necessário para executar o esquema.
"O que eles levantaram não era dinheiro lícito, era dinheiro ilícito, de caixa dois, vindo de várias fontes diferentes", afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), durante a explicação.
Por fim, na hora da entrevista e da troca dos documentos pelo dinheiro, outro membro do comitê de Lula, Oswaldo Bargas, foi acionado. Ele teria de arranjar a publicação da entrevista em alguma grande revista.
A entrevista foi oferecida à revista Época, que não se interessou. Depois a negociação passou a ocorrer com a IstoÉ, que aceitou a proposta.
Paralelamente, Hamilton reunia o dinheiro pedido pelo chefe da máfia das ambulâncias. De acordo com o deputado, nesse ponto a PF se encontra em uma espécie de zona escura, pois ainda falta encaixar algumas peças à história.
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