Desde que denunciou a existência de um esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada, no início de junho, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) depôs três vezes no Congresso Nacional. Com gestos teatrais, abusou do poder de retórica em depoimentos às CPIs dos Correios e do Mensalão e ao Conselho de Ética da Câmara. Lá voltou para confrontar o seu principal inimigo, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Com o estilo irreverente que lhe caracteriza e rara habilidade com as palavras, cunhou expressões que deram um toque diferenciado ao lamaçal verde-amarelo, a começar pelo vocábulo mensalão, com o qual batizou a atual onda de escândalos políticos.
A seguir, algumas das principais declarações de Roberto Jefferson em seus depoimentos no Congresso:
“Saí daí, Zé, rápido”
"Dirceu, se você não sair daí (Casa Civil) rápido, você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula. Sai daí, Zé, rápido, se não vai fazer réu um homem bom, que eu tenho orgulho de ter apertado a mão." (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
“Os instintos mais primitivos”
"Pelo contrário, ele (o enfrentamento) gera em mim uma grande satisfação. Tenho medo de vossa excelência, pois Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos" (Durante o depoimento do deputado José Dirceu ao Conselho de Ética no dia 02 de agosto)
“Vocês acreditam nisso?”
"O ministro José Dirceu, despido daquela arrogância que sempre teve, vem a esse Conselho dizer humildemente que não sabia dos empréstimos obtidos pelo sr. Marcos Valério, não sabia da movimentação financeira do PT, não sabia de nada. Não sabia de milhões de reais viajando dentro de malas – e a Polícia Federal não informava ao ministro mais importante do governo sobre nada disso. Vocês acreditam nisso?” (Durante o depoimento do deputado José Dirceu ao Conselho de Ética no dia 02 de agosto)
Dirceu, pobre inocente
"Depois de ouvir o ex-ministro, chego à conclusão que foi ele que treinou o Silvinho e o Delúbio. Quer dizer que não tem mensalão no Brasil, todos mentem, todo o povo brasileiro prejulga e o ministro Zé Dirceu é um pobre inocente?” (Durante o depoimento do deputado José Dirceu ao Conselho de Ética no dia 02 de agosto)
Lula e o bico dos deputados
“A reação do presidente foi como uma facada nas costas. As lágrimas desceram dos olhos dele. Ele levantou, me deu um abraço e foi embora. E sei que de lá para cá secou porque os passarinhos estão todos com o biquinho aberto. E as coisas (votações) pararam aqui nessa Casa, é síndrome de abstinência.” (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
A inocência de Lula
"Não faço na minha cabeça nenhuma ilação que o presidente possa ter participado disso. Se minha declaração em algum momento levantou suspeita sobre o presidente Lula, quero dizer que não fui claro." (Em depoimento à CPI do Mensalão, no dia 04 de agosto)
Nome aos bois
“Sei que não são todos que recebem o mensalão. Tem muita gente do PP que está muito acima disto, como tem muita gente do PL que está muito acima disto. Mas os deputados Valdemar Costa Neto, José Janene, Pedro Corrêa, Sandro Mabel, Pedro Henry e Bispo Rodrigues que me perdoem. Me perdoem de coração. Eu não posso ser cúmplice disso.” (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
O sapo e o escorpião
"Essa gente (PT) não é leal, nos usa como o sapo para atravessar o rio e sempre nos dão uma picadinha aqui e ali. Isso pode nos levar ao fundo do rio, mas levaremos junto esses escorpiões da cúpula do PT." (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
A unha encravada de Delúbio
“Chegou lá (na sede do PTB em Brasília) um homem simples, fumando um charuto, com aquele jeitão de goiano do interior e disse: eu gostaria de ajudar a desencravar uma unha de algum companheiro aí que esteja precisando. Eu disse: Delúbio, obrigado. Eu quero participar da formulação do governo, mas mensalão eu não quero não!” (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
Mandato sublimado
“Sublimei o mandato, passei dele, não vou lutar por ele. Tenho um objetivo maior. Quero lavar a minha honra, a honra de meu partido.” (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
Cadáver no colo
"Quando me senti isolado, no dia 6, com aquela matéria covarde do ‘diário oficial’ que é ‘O Globo’, ‘diário oficial’ do governo, como diz o Zé Dirceu: ‘Esse eu controlo’, e quando me senti atingido pela revista que acompanha o ‘diário oficial’, a revista ‘Época’, que expõe a mãe dos meus filhos, avó dos meus netos de baby doll, e abre a porta do meu banheiro e me coloca sentado na privada, numa matéria desconstrutiva da minha imagem, eu falei aos meus companheiros de partido: o governo vai botar o cadáver no colo do PTB, olha a imprensa oficial como está vindo." (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
O princípio da mentira
"Eu trouxe aqui, que peguei na Justiça Eleitoral, todas as prestações de contas, minha e dos senhores. É aí o princípio da mentira que a gente vive aqui. Não há, povo do Brasil, cidadãos do Brasil, eleição de deputado federal que custe menos de R$ 1 milhão ou de R$ 1,5 milhão. Mas a média, aqui na CPI e na Câmara, na prestação de contas é de R$ 100 mil. Não há eleição de senador que custe menos que R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões, mas a prestação de contas, na média, é R$ 250 mil. Esse processo começa na mentira e deságua no PC Farias, nos outros tesoureiros, e agora no senhor Delúbio e no senhor Valério. (…) As declarações da Justiça Eleitoral não traduzem a realidade. Nem a minha, porque é igual a dos senhores." (Em depoimento à CPI dos Correios, no dia 30 de junho)
Todos iguais
“Ninguém aqui é melhor que eu. Vou questionar um por um e vamos ver se as práticas daqueles que querem levantar a voz contra mim são diferentes.” (Em depoimento à CPI dos Correios, no dia 30 de junho)
Gente que faz
"Se PC ‘farias’, e fez, hoje Delúbio e Marcos Valério fazem e outros virão e farão também.” (Em depoimento à CPI dos Correios, no dia 30 de junho)
Em novo endereço
"É só ir lá no nono andar do Brasília Shopping, verificar os nomes dos assessores que foram receber o dinheiro, ou verificar o recibo que o Banco Rural manda assinar. (…) Desde que as malas de dinheiro pararam de circular, as pessoas começaram a fazer os saques no Banco Rural, na agência do nono andar do Brasília Shopping.” (Em depoimento à CPI dos Correios, no dia 30 de junho)
Onde está o dinheiro?
"Não admito que o partido pegou, morre comigo a informação. Não vou prejudicar inocentes, recebo na pessoa física, por omissão do presidente do PT e por erro meu", disse ele. (Sobre os R$ 4 milhões que declarou ao Conselho de Ética da Câmara ter recebido do PT para o financiamento de campanha eleitoral em 2004)” (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
“Carequinha”
“No início me cobraram provas. A realidade está vestindo minhas palavras. O carequinha deixou de fora o que PC Farias deixou, o rabo. Mas agora têm que procurar o Banco do Brasil, porque, dos R$ 4 milhões que recebi, 60% tinham a etiqueta do BB.” (Em depoimento ao Conselho de Ética, no dia 14 de junho)
Jefferson, o fracassado
“Eu não brilhei como político. Fui um fracasso porque trilhei um caminho contra a opinião pública. Eu rutilei como advogado, que serei até Deus me chamar ao seu convívio, se achar que mereço.” (Em depoimento à CPI dos Correios, no dia 30 de junho)
Valdemar, o “galo mutuca”
"Ele tem uma coisa similar ao Duda Mendonça. O Duda Mendonça gosta de briga de galo. E o Valdemar na briga de galo pode ser chamado de galo mutuca (galo de briga que foge da rinha), é corredor. (…) Ele é fraco, porque blefar em um jogo desse e depois ter que correr da banca? Correu, galo mutuca." (Em depoimento à CPI do Mensalão, no dia 04 de agosto)
Paradeiro ignorado
“Não tenho condições (de devolver o dinheiro). Eu distribuí. Só não vou dizer para quem. Foi para coligações e para companheiros que eram candidatos.” (Em depoimento à CPI do Mensalão, no dia 04 de agosto).
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