Fábio Góis
O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), anunciou há pouco que, se o bloco de apoio ao governo insistir em emplacar mais dois aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética – o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) e Roberto Cavalcanti (PRB-PB) – colocará à disposição tanto o cargo na liderança da bancada quanto da base aliada.
“Eu me recuso a fazer esse tipo de coisa. Se quiserem fazer isso, que façam com outro líder. Eu coloco o cargo à disposição”, avisou Mercadante, que tem enfrentado desgaste junto ao Planalto ao conduzir a posição do partido em relação ao afastamento de Sarney da Presidência do Senado.
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A troca seria operada porque dois dos integrantes petistas no Conselho de Ética – Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC) – recusavam votar contra o desengavetamento dos 11 pedidos de investigação contra Sarney. Suplentes no colegiado, ambos são candidatos: Ideli ao governo de Santa Catarina e Delcídio à reeleição no Senado; do ponto de vista eleitoral, votar pelo manutenção do arquivamento seria uma postura comprometedora, diante do desgaste de Sarney perante a opinião pública.
O bloco de apoio ao governo passou a dispor das duas vagas de titular, a princípio recusadas por Ideli e Delcídio, depois que Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e João Ribeiro (PR-RO) abdicaram dos respectivos postos. Como estes não foram preenchidos, caberia aos dois petistas assumir a vacância.
A solução seria indicar dois nomes que, alinhados a Sarney, reforçassem o apoio ao peemedebista no colegiado – caso de Jucá e Cavalcanti – e votassem pela manutenção dos arquivamentos. A manobra tem caráter preventivo: somados aos cinco nomes oposicionistas (três do DEM e dois do PSDB), três nomes do PT contra Sarney (o outro petista é o amazonense João Pedro, que é a favor das investigações) representaria derrota para o governo em um Conselho com 15 integrantes.
Está prevista para amanhã, às 14h, a votação dos recursos contra o arquivamento das 12 ações apresentadas ao Conselho de Ética. As peças foram sumariamente arquivadas pelo senador Paulo Duque (PMDB-RJ), aliado de Sarney, sem consulta aos membros do colegiado.
Bancada fiel
Em plenário, senadores petistas saíram em defesa de Mercadante. Eduardo Suplicy (SP) disse que a bancada mantém a posição sobre a situação de Sarney no comando da Casa, com pleno apoio ao senador paulista. “Estamos solidários ao senador Aloizio Mercadante. Avaliamos que ele deve ter os critérios que teve quando designou os membros do Conselho de Ética, e avaliamos que ele deve permanecer como líder do Partido dos Trabalhadores no Senado”, discursou Suplicy.
Ao telefone com Mercadante, Paulo Paim (RS) dirigiu-se à Mesa e, sem desligar o aparelho, fez questão de reportar o apoio dos petistas ao líder. “O Senador Aloizio Mercadante está do outro lado da linha, e diz que em nenhum momento ele disse que foi pressionado por senadores do PT.” Já Augusto Botelho (PT-RR) declarou que o senador paulista exerce a liderança “com dignidade, respeitando a ética nas suas ações”.
“Que o líder do PT, ao mesmo tempo, escute a nossa manifestação que é da mais absoluta confiança no trabalho da liderança”, declarou da tribuna Flávio Arns (PT-PR), que havia repetido o gesto de Paim ao telefone. “A posição do PT é clara, e o líder Mercadante sempre manteve uma posição fiel, correta, adequada. Temos a mais absoluta confiança no líder Aloizio Mercadante”, completou o senador paranaense.
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