Fábio Góis
O bate-boca em plenário entre os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), veementemente defendido pelo ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL), recebeu apartes variados de parlamentares contra e a favor do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP) – epicentro da crise institucional instalada há meses e motivo da troca de acusações entre os pares.
Em aparte ao discurso de Simon, Renan Calheiros disse que “o esporte preferido” de Simon era falar mal de Sarney, desde que sua indicação a vice de Tancredo Neves foi vetada pela legenda. Já Collor radicalizou e, dedo em riste, mandou que o colega engolisse seus impropérios e digerisse como melhor lhe conviesse.
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Integrante da “tropa de choque” de Sarney, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) não precisou usar seus quase dois metros de altura para enfatizar a defesa do correligionário. “Eu me orgulho de estar vivendo este momento no Senado. Muitos, aqui, dizem que este Senado dá vergonha. Eu não; eu estou orgulhoso dele”, bradou Wellington, dizendo que muitos dos senadores querem condenar Sarney por atos que cada um deles já teria praticado. “O que eu não aceito é que alguns senadores assomem à tribuna e questionem ações que eles mesmos praticaram aqui dentro.”
Já Cristovam Buarque (PDT-DF), o primeiro a pedir o afastamento de Sarney, há mais de um mês, saiu em defesa de Simon – que, ao lado de Cristovam e outros poucos senadores, compõem o chamado “grupo ético” do Senado. “Eu agora quero apelar ao senhor para que não engula nada. A sua credibilidade neste país é porque o senhor não engole; o senhor diz, o senhor fala, o senhor acusa”, interpelou Cristovam, desqualificando a sugestão que havia sido feita Simon por Collor. “O senhor tem que se manter esse senador Pedro Simon que, quando é preciso dizer alguma coisa, diz sem engolir nada.”
Um dos “dissidentes” peemedebistas, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) reforçou o coro contra Collor, Renan e Sarney, e prestou solidariedade a Simon. “Vossa excelência foi agredido na tribuna, e ainda não vi nenhuma manifestação da presidência desta Casa mandando retirar das notas taquigráficas o fato de um senador da República mandar o outro engolir e digerir da forma que o senhor achar melhor”, requereu Jarbas. “É esse o retrato do Senado da República de hoje.”
O senador Mão Santa (PMDB-PI), cirurgião e professor de Fisiologia, recorreu aos ensinamentos da academia para rejeitar a sugestão de Jarbas. “Desculpe-me interrompê-lo, senador Jarbas, com todo o respeito. Eu sou professor de Fisiologia. As palavras engolir e digestão nunca foram pejorativas para mim. Eu sempre as entendi até como uma pré-condição de vida”, contemporizou Mão Santa.
De maneira surpreendentemente comedida, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), pediu um aparte para dizer que fará seu “papel” diante da crise institucional. “Vamos ver o que os próximos momentos nos reservam, e que cada um cumpra com o que a sua consciência mandar. (…) que sejam atitudes conscientes da cada um, de todos em conjunto, porque o Senado está sangrando demais”, disse Virgílio, que assina seis denúncias e três representações (no contexto da bancada tucana) contra Sarney no Conselho de Ética.
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