Em depoimento à ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon, a diretora comercial da construtora Gautama, Maria de Fátima Palmeira, admitiu que a empresa fazia “pressão” para que os governos municipais, estaduais e federal priorizassem obras de seu interesse. Fátima, no entanto, negou que a empresa pagasse propina em troca de favorecimentos.
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“Pressão é igual a insistir, cobrar”, resumiu a diretora quando provocada pela ministra a explicar qual era a conduta da empreiteira diante dos governos. A pressão, acrescentou, servia ainda para cobrar o pagamento de faturas.
De propriedade de Zuleido Veras, a Gautama é acusada pela Polícia Federal de chefiar a máfia das obras. A partir 17 de maio, com a deflagração da Operação Navalha, os policiais prenderam 48 pessoas. No total, 49 políticos, empresários e funcionários públicos são acusados de participarem do esquema de fraudes licitatórias coordenado por Zuleido.
Considerada o braço-direito do empresário, Fátima prestou nove horas de depoimento a Eliana Calmon. Ela começou a falar na noite de 25 de maio e só terminou no dia seguinte. A diretora da empreiteira disse que a Gautama “pressiona muito” para receber as faturas, “como todas as empresas na área de construção civil”, ressalvou. Mas, apesar disso, ainda enfrenta dificuldade para receber verbas dos governos municipais, estaduais e federal, declarou.
Fátima contou à ministra que a Gautama se preparava para participar da licitação das hidrelétricas do Rio Madeira (RO), considerada uma das obras mais importantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Flagrada pelo circuito interno do Ministério de Minas e Energia, transportando um envelope no qual, segundo a PF, estavam R$ 100 mil, Fátima negou que o dinheiro fosse para o pagamento de propina ao então ministro Silas Rondeau. Ela disse que apenas se encontrou com Ivo Almeida Costa, assessor de Rondeau, para tratar de uma obra do gasoduto de Urucu (AM).
Pouca verdade
Desde o início da Operação Navalha, a ministra Eliana Calmon ouviu 52 pessoas, entre acusados e testemunhas. Para a subprocuradora-geral da República Célia Regina Delgado, uma das responsáveis pelo acompanhamento do inquérito, os depoimentos trouxeram poucos elementos à investigação. A maioria não disse a verdade, afirmou ao Congresso em Foco.
A procuradora ainda destacou o respeito “reverencial” que os funcionários da Gautama têm para com o patrão, Zuleido Veras, considerado pela Polícia Federal o líder da máfia das obras. Dimas Veres, irmão do dono da empresa, chega a chamá-lo de “senhor”. Já Fátima comenta que Zuleido é um “visionário”. De acordo com ela, quando o patrão terminou a sociedade com Latife Abud, hoje seu desafeto, a empresa aumentou os investimentos.
Surpresa
Durante seu depoimento, o governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), frisou que seus sobrinhos Alexandre Lago e Francisco Lima negociaram com a Gautama sem sua autorização. A PF acusa Alexandre e Francisco de terem recebido R$ 240 mil em propinas para entregarem ao tio. À ministra do STJ, o governador disse que foi “uma surpresa” saber do envolvimento de familiares com o caso.
Numa demonstração de distanciamento, Lago afirmou à Justiça que Francisco Lima é advogado e mora há 20 anos
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