Sônia Mossri |
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, não se afastou das negociações com o Congresso. Desde o final da última semana, ele comanda as discussões com a bancada nordestina, que quer a liberação, ainda em 2004, de mais de R$ 300 milhões em subsídios para o setor sucroalcooleiro. Esse subsídio é chamado de taxa de equalização. Os usineiros, por meio da bancada nordestina no Congresso, querem ressuscitar o repasse que a União fazia como forma de compensar as diferenças de custo e produtividade entre as regiões. O objetivo original da medida era colocar o álcool produzido no Nordeste em condições comerciais competitivas e em igualdade com os custos do centro-sul. O interlocutor da Casa Civil com a bancada nordestina nas negociações é o líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE). Ele disse ao Congresso em Foco que o governo não paga o subsídio da taxa de equalização do álcool desde 2000, ainda no período Fernando Henrique Cardoso. Leia também “O boom de crescimento do agronegócio não atingiu todos os segmentos produtivos no país. O setor sucroalcooleiro nordestino, por exemplo, tem pouco ou quase nada a comemorar. A lavoura da cana enfrenta, no momento, a sua pior crise, gerada, entre outros fatores, pela falta de políticas que garantam equalização dos custos de produção em relação às demais regiões do país”, disse José Múcio. A dívida do governo federal com os usineiros, segundo José Múcio, chega a R$ 1,2 bilhão em subsídios que não foram desembolsados pela equipe econômica nos últimos quatro anos. Os usineiros tentam fazer com que o governo comece a pagar o subsídio relativo à safra 2003-2004, o que representa R$ 300 milhões. Além disso, eles buscam uma correção do valor, que passaria para R$ 400 milhões, mas essa proposta encontra resistência do Ministério da Fazenda. “Apesar da sua importância, a cultura canavieira no Nordeste sempre perde nas comparações como o que é gerado em números absolutos nas áreas do centro-sul do país. Em São Paulo, por exemplo, a cana-de-açúcar representa apenas 2% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Em estados como Pernambuco e Alagoas, o peso no PIB é de 15% e 25% respectivamente”, afirmou o líder do PTB. O custo de produção do centro-sul é o mais baixo do mundo, informa o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Estado de Pernambuco, Renato Augusto Pontes Cunha. O do Nordeste, mesmo sendo alto comparado ao do sul, é o segundo menor do ranking mundial. Segundo Pontes Cunha, o centro-sul do país consegue a marca de 4,8 toneladas de cana por homem, enquanto no Nordeste esse número cai para duas toneladas por homem. Segundo ele, a cultura da cana e a indústria de açúcar e álcool são responsáveis pela criação de 300 mil empregos no Nordeste. “Há uma quebra de contrato instalada porque o produtor investiu e não recebeu o subsídio”, critica Pontes Cunha. Na sua opinião, há uma “fragilização” e “tensão social” no campo por causa do prejuízo dos usineiros. |
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