Fábio Góis
Depois de reunião de cerca de uma hora o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a presidenta Dilma Rousseff concederam entrevista coletiva no Palácio do Planalto. Enquanto Obama optou por um discurso simpático, genérico, e realçando as identidades entre Brasil e EUA, Dilma pôs o dedo na ferida ao criticar as barreiras comerciais protecionistas impostas aos produtos brasileiros pelos norte-americanos. O puxão de orelha foi além: a sucessora de Lula também bateu na tecla em que seu padrinho político insistiu em boa parte de seus dois mandatos ? a inclusão do Brasil no seleto grupo do Conselho de Segurança da ONU.
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Lula, aliás, foi convidado para as solenidades, mas teve de cumprir ?compromissos em família?. Primeira a falar, seguindo o protocolo, Dilma mencionou a ?contradição? que reside no fato de os EUA ostentarem a principal economia do mundo, ao passo que relega ao mundo os ?efeitos agudos do desequilíbrio econômico gerado pela crise recente?, cuja fase crítica se prolongou entre 2008 e 2009. ?Por isso, buscamos relações comerciais mais justas e equilibradas?, acrescentou a presidenta, criticando as medidas protecionistas impostas pelos EUA a produtos como carne, algodão, aço e suco de laranja.
Dilma iniciou o discurso de pouco menos de 10 minutos enfatizando o caráter do encontro entre ?um afro-descendente e uma mulher? no comando de duas nações. Por várias vezes olhando Obama, apesar de que lia o texto, Dilma declarou que a visita do chefe de Estado ?nos enche de alegria e desperta os melhores sentimentos do povo brasileiro, e honra a melhor relação entre Brasil e Estados Unidos?.
Intercalando palavras firmes com outras generosas, a presidenta defendeu uma liderança mais multilateral entre países, sem a polarização excessiva da cena mundial nas ações das grandes potências. Era uma referência clara ao pleito do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança ? e, nas entrelinhas, a lembrança em relação ao fato de que, em poucos anos, a China deverá se igualar e, em seguida, ultrapassar os EUA como principal força internacional.
?Não nos move, senhor presidente, o interesse menor da ocupação de espaços de representação, e sim a segurança de que um mundo multilateral produzirá benefícios à paz dos povos?, postulou a presidenta, insistindo em que reformas como a ampliação da composição do Conselho de Segurança são demandas cruciais para o aprimoramento da ?governança global?. Atualmente, o Brasil é membro rotativo do conselho, sem direito a veto nas deliberações.
Depois de fazer referências aos avanços sociais realizados pelo antecessor, o ?querido companheiro Luís Inácio Lula da Silva?, Dilma disse que Obama chega ao Brasil na condição de mandatário externo que testemunha o país ?em seu momento mais vibrante?. ?Somos países de dimensões continentais que trilham o caminho da democracia?, discursou, lembrando as características multiétnicas de ambas as nações.
Em seguida, Dilma ressaltou os acertos da política econômica executada por Lula e o resgate de camadas sociais antes ?marginalizadas no processo econômico?. Ela também enfatizou ?níveis recordes de geração de postos de trabalho?. Ao agradecer a ?gentileza? da visita de Obama no início de seu mandato, Dilma fez menção aos recentes avanços obtidos no setor de pesquisa tecnológica e fontes de energia renovável, com referência ao biodiesel e às recentes descobertas de jazidas de petróleo pré-sal.
Lamento olímpico
Obama adotou um discurso descontraído e elogioso, mais curto do que o proferido por Dilma. Depois de pronunciar um ?muito obrigado? com óbvio sotaque, disse que as relações entre Brasil e EUA já têm mais de dois séculos, e ressaltou a posição de ?parceiros globais? no século 21. ?Todos os dias estamos trabalhando para tornar nossas sociedades mais inclusivas e justas?, declarou, ressaltando o desenvolvimento brasileiro verificado nos últimos anos.
Íntegra do discurso de Obama no Palácio do Planalto
Íntegra do discurso de Dima no Palácio do Planalto
Íntegra do discurso de Dilma no Itamaraty
?O Brasil saiu da ditadura para a democracia. É uma das economias que mais crescem no mundo, tirando milhões da pobreza e levando-os à classe média?, destacou Obama, acrescentando que o Brasil é ?cada vez mais um líder mundial?. ?Hoje os EUA e o Brasil são as duas maiores democracias do hemisfério e as duas maiores economias.?
?Os EUA não só reconhecem o crescimento do Brasil, nós também apoiamos esse crescimento. Foi por isso que criamos o G-20?, acrescentou,referindo-se ao grupo que reúne as 20 maiores potencias mundiais. ?Vamos anunciar uma série de acordos.?
Olhando ironicamente para Dilma, Obama fez graça ao dizer que fica ?muito triste? em lembrar que o Brasil realizará a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, pontificando o momento de êxito vivido pelo país em âmbito internacional. Como se sabe, Chicago perdeu para o Rio de Janeiro o direito de sediar os jogos olímpicos. Segundo Obama, empresas norte-americanas devem participar na criação de infraestrutura para as competições.
Ele fez ainda menção à crise político-militar na Líbia, em guerra interna deflagrada ? em que o ditador Muamar Kadafi, há 42 anos no poder, tem desrespeitado decisões da ONU e bombardeado rebeldes mesmo depois de cessar-fogo anunciado. ?O povo da Líbia deve ser protegido. E, na ausência do fim imediato da violência contra civis, nossa coalizão está preparada para agir, e agir com urgência?, advertiu o presidente, responsável pelo maior poderio bélico do planeta.
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