Eduardo Militão
Deputados que fazem parte da comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara que apura o comércio de passagens estranharam as declarações de um agente de viagens que disse prestar serviços de despachante para os parlamentares sem cobrar nada. Como mostrou o Congresso em Foco ontem (13), o agente Vagdar Fortunato Ferreira afirmou que, em troca da antecipação de cota e dos serviços, recebia apenas indicação de clientes. Um dos 30 deputados que usaram os serviços dele foi Roberto Rocha (PSDB-MA).
Os parlamentares que fazem parte da comissão de sindicância ressalvaram que suas opiniões teriam que ser discutidas em grupo, na semana que vem, para não haver dissonância. Mas avaliaram que o caso merece ser aprofundado.
“Papai Noel não existe. Quem se dedica a alguma coisa o faz a troco de alguma coisa”, afirmou Antônio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). “A troco de algo que, a ponto de dispensar vínculo empregatício, não deve ser coisa pequena.” Para Pannunzio, a sindicância vai ter que verificar esses fatos.
O alvo do grupo de parlamentares, no momento, é apurar os casos de Paulo Roberto (PTB-RS) e Eugênio Rableo (PP-CE). Casos como o de Roberto Rocha (PSDB-MA) estão ainda em fase de diligências, a cargo apenas do corregedor da Câmara, ACM Neto (DEM-BA).
Outro membro da sindicância, o deputado Marcelo Ortiz (PV-SP) prefere avaliar melhor na semana que vem a situação descrita pelo Congresso em Foco. “Acho realmente que é uma posição estranhável, lógico que é estranhável. Vamos dar uma posição logo que possível”, disse Ortiz.
Em privado, os deputados não acreditam que alguém preste qualquer serviço sem ser remunerado. Acreditam que o agente Vagdar poderia oferecer os trabalhos na tentativa de “cooptar” outros colegas.
Terceirização
Os deputados também estranharam o fato de o gabinete de Roberto Rocha e outros 29 deputados terceirizar os serviços a um despachante, visto que existem funcionários próprios para isso. Pannunzio diz que os parlamentares têm funcionários em condições plenas de atendê-los. “Tomando por base o meu, desde o primeiro dia, em janeiro de 2005, o gabinete tem. Só se algum não tem nenhum funcionário.”
O deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS) afirmou que seu gabinete não usa os serviços de despachante. Mas preferiu não fazer juízo de valor sobre os outros colegas. “O que é bom para ti não é bom para todo mundo”, afirmou ele, ao dizer que não poderia tratar do tema por ser um dos membros da comissão.
Lá embaixo
Roberto Rocha disse ontem (13) que, a partir do momento em que encerrou as relações com Vagdar, os próprios servidores cadastrados na Terceira Secretaria voltaram a fazer os serviços antes terceirizados. “Eles vão lá embaixo, lá na companhia.” O maranhense frisou que conhece Vagdar superficialmente, apenas de cumprimentos. Versão confirmada pelo agente de viagens.
O deputado acredita na hipótese de Vagdar ser remunerado pelas companhias aéreas. “Seria razoável supor que as companhias aéreas dessem algum tipo de remuneração às agências e aos agentes”, disse. “Da parte nossa, não havia remuneração, não sei se em seu depoimento à comissão ele disse como era nos outros gabinetes”, contou Rocha.
Apesar disso, o parlamentar descarta a possibilidade de ter sido usado, mesmo de boa-fé, para que suas passagens fossem eventualmente comercializadas.
Rocha duvida ainda que qualquer deputado tenha vendido seus créditos de viagens na Câmara. Ele explica que os parlamentares recebem muitos votos para chegarem à Casa e que isso não pode ser colocado em risco por conta de irregularidades dessa natureza. O tucano citou o exemplo próprio: “Eu fiz quatro campanhas eleitorais. Na primeira, tive 7 mil votos. Na última, 140 mil. Você acha que eu ia vender passagens?”. Rocha está em seu terceiro mandato pelo Maranhão.
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