Eduardo Militão
O deputado licenciado Paulo Bauer (PSDB-SC) disse que não merece crédito a gravação que mostra que ele manteve controle sobre sua cota de passagens e falou em fazer “negociação” sobre saldo de bilhetes não voados.
O parlamentar afirma que relatou a conversa com o chefe de gabinete João Santos sobre a possibilidade de vender sua cota de passagens como método para obter mais informações do servidor demitido José Cláudio Silva, que fez a gravação. “Eu tinha que deixar ele bem à vontade e tudo o mais para ele me falar”, disse Bauer. “A gravação foi feita sem que eu conhecesse da sua prática. Não dou crédito a nada nesta gravação porque não sei se ela é completa ou editada.”
Mas o deputado confirma que João Santos informou a ele que havia pessoas que compravam créditos de passagens na Câmara. “Eu falei: ‘Eu não quero saber desse troço. Não tem nenhum interesse meu em fazer qualquer coisa’.”
A entrevista contradiz o áudio, em que Bauer teria respondido, segundo ele mesmo: “Não sei se quero, não sei se não quero. Se tiver alguém que queira comprar, você me fala. A gente vai ver o que que faz”.
Independentemente da resposta, João Santos refuta a afirmação do parlamentar licenciado: “Nunca houve esta conversa entre minha pessoa e o deputado Paulo Bauer”, disse o chefe de gabinete em mensagem de correio eletrônico ao Congresso em Foco.
Conferência
Bauer diz que também não tentou negociar seus créditos de passagens logo depois que deixou o mandato, no início de 2007. Segundo Cláudio Antunes, o deputado mandou que ele procurasse o servidor Carlos Nunes, da direção da Câmara, para tentar tirar o nome do parlamentar dos créditos.
Mas Bauer e Nunes, genro do ex-diretor geral Adelmar Sabino e que já trabalhou com cota de passagens aéreas na Casa, têm outra versão para a consulta. Dizem que foi o deputado que conversou com Nunes para que ele conferisse se Cláudio estava administrando bem os créditos parlamentares em seu poder.
“Ele pediu que eu consultasse como estava a situação das passagens dele. Verifiquei com a companhia aérea”, disse o servidor. Não havia nenhum problema com os créditos, contou Nunes. E jamais houve qualquer pedido de negociação. “Como é que eu vou fazer uma transação? O que é isso”, disse Bauer, num único momento de irritação.
Bauer diz estar claro que ele não tem “nenhuma relação com o assunto das passagens”. O deputado contratou um advogado para tratar do assunto. Ele espera que o problema seja resolvido na Justiça e nas comissões de processo administrativo na Câmara. “Politicamente, não tenho mais nada a ver com o assunto.”
Silêncio
Cláudio foi demitido do gabinete de Acélio Casagrande (PMDB-SC), o suplente de Bauer, por responder a processo administrativo disciplinar na Câmara por conta dos fatos relatados. João continua como chefe de gabinete de Acélio, mas também responde a processo na Casa.
Vagdar é um dos agentes de viagens citados em outros processos por suposto comércio ilegal de passagens aéreas. Procurado pelo Congresso em Foco, o operador disse que seu o advogado o aconselhou a não mais conceder entrevistas.
Como mostrou este site, Vagdar alega que jamais comercializou passagens, mas apenas prestava favores a deputados, possuindo até um crachá fornecido pelo gabinete de Roberto Rocha (PSDB-MA).
João Santos disse que nunca manteve nenhuma relação com Vagdar. E lança desconfianças contra Cláudio por ele ter confessado a venda. “Aquele que me acusa admite a venda dos créditos e me imputa a autorização, autorização que jamais poderia ter dado”, diz o chefe de gabinete, na mensagem enviada ao site. “Neste episódio, sou tão vítima quanto o deputado Paulo Bauer e a Câmara dos Deputados.”
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