Eduardo Militão
O presidente da Assembléia Legislativa de Roraima, deputado Mecias de Jesus (PR), acusa a ONG Associação Amazônia de aumentar a área supostamente grilada no sul do estado. Segundo ele, a área passou de 172 mil hectares para mais de 200 mil – cerca de 2 mil quilômetros quadrados.
Ele foi uma das testemunhas ouvidas pela primeira CPI das ONGs do Senado, que, em 2002, pediu o indiciamento da Associação Amazônia por todo tipo de acusação. “Eles ocuparam aquilo ali de forma ilegal, fizeram documentos falsos e foram invadindo”, disse Mecias ao Congresso em Foco.
O deputado estadual lamentou o fato de a entidade não ter sido punida, embora responda a processos na Justiça e no Ministério Público Federal. “Acredito que esses processos estão dormindo em berço esplêndido em alguma gaveta. A ONG continua lá e com muito mais poder”, reclamou Mecias.
Para o deputado, o interesse da Associação não é preservar o meio ambiente, mas tomar posse dos minérios no subsolo e da flora. “Querem vender nossas plantas e patentear”, acusa.
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O presidente da ONG, Christopher Julian Clark, nega as acusações. Diz que não houve grilagem de terras. “Aqui ninguém é dono de terra, não. Não sei se isso foi mal entendido ou mentira”, disse. Ele disse que um dos objetivos da Associação Amazônia é defender a criação da reserva extrativista do Baixo Rio Branco-Juauperi. “Isso daria a certeza de que o meio ambiente e os recursos da área seriam preservados.”
Mas o governo de Roraima pensa diferente. Em 2005, um decreto estadual determinou que a região fosse usada para criar assentamentos rurais. A queda de braço entre ambientalistas, políticos e ruralistas é antiga na região. Os primeiros querem mais reservas ambientais; enquanto os outros, mais espaço para o agronegócio e o desenvolvimento econômico.
Suspeitas relações
O coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Roraima, frei Téo Bocchi, admite não ter dados oficiais sobre a atuação da Associação Amazônia. Mas recebeu informações sobre as “relações suspeitas” da entidade com a Fundação Estadual do Meio Ambiente. “É a conversa que vem rolando aí. Teria um conluio entre eles”, disse Bocchi.
Apesar disso, ele aprova a atuação das demais ONGs ambientalistas na região. Para o frei, o discurso de que as reservas engessam o desenvolvimento do estado é velho. Primeiro, o entrave era a falta de uma rodovia. A estrada foi construída, mas o progresso não chegou, segundo Bocchi. Depois, a falta constante de energia elétrica. O abastecimento se normalizou, mas o desenvolvimento não veio.
“O estado continua da mesma situação. Agora, dizem: ‘Temos pouca terra para trabalhar’. Estamos aguardando para saber qual vai ser o próximo discurso”, reclamou o coordenador da CPT. Bocchi disse que muitas das pessoas que criticam os ambientalistas não têm idoneidade para isso porque são grileiros de terra.
A Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong) disse que não comentaria a situação da Associação Amazônia porque ela não era uma afiliada da entidade. Para comentar a atuação da antiga e da atual CPI das ONGs, Abong enviou boletins próprios sobre o tema. Neles, a entidade diz apoiar as investigações, mas teme que a comissão "desengavete ações e projetos autoritários, que promovam controle ditatorial sobre as ONGs".
A assessoria da Abong também indicou uma representante da entidade para falar com a reportagem. Mas Tatiana Dahmer não deu retorno aos contatos do Congresso em Foco.
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